15/06/2015
Você provavelmente já notou que algumas pessoas preferem investimentos de retorno garantido, mesmo que baixo, enquanto outras estão dispostas a correr mais risco em busca de retornos mais altos. Há ainda as que preferem colocar suas economias em empreendimentos próprios, para depender apenas de si mesmas para chegar ao lucro. Esses comportamentos diferentes diante do dinheiro têm origem na personalidade. “Ela é o filtro pelo qual observamos nossas finanças e tomamos nossas decisões “, diz a educadora financeira canadense Stephanie Holmes-Winton, autora do livro Spent – Your Money Minciset is the Key to Your Financial Freedom (numa tradução livre, “Gaste – Seu jeito de pensar em dinheiro é a chave para sua independência financeira”), sem edição no Brasil.
Esse fundo psicológico e subjetivo é, segundo Stephanie, o motivo pelo qual as pessoas têm dificuldade em adotar orientações puramente racionais de consultores de investimentos e gerentes de banco.
“Uma estratégia financeira que contrarie o perfil natural de cada pessoa tem grande risco de falhar”, diz. A solução ? Entender melhor como nossa cabeça funciona antes de decidir onde aplicar o dinheiro. Em seu livro, Stephanie listou sete perfis de comportamento financeiro para ajudar seus leitores a reconhecer com qual grupo se identificam mais. A consciência dos mecanismos mentais pode ajudar as pessoas a entender sua preferência por um tipo de investimento e sua aversão a outro. E, assim, adicionar um grau de racionalidade ao processo de escolha. Nesta reportagem, você conhece os sete principais tipos de personalidade financeira, os investimentos favoritos de cada uma e as aplicações que elas deveriam experimentar, na opinião de especialistas brasileiros.
O INDULGENTE Perfil que não tem um controle mais rigoroso das despesas e em geral reserva pouco dinheiro para aplicar. É do tipo que justifica um gasto extra com frases como “Eu mereço” ou “Minha família merece”. Quando o assunto são investimentos, prefere modalidades que não precisam ser muito monitoradas e em que não é necessário tomar decisões com frequência, como poupança programada ou previdência privada com desconto em folha.
Investimentos preferidos: Poupança programada e planos de previdência. Investimentos que deveria considerar: Esse investidor deveria colocar BO% de suas aplicações em títulos de renda fixa, corno Tesouro Direto LCI, LCA LC e CDB de bancos menores. “Eles permitem ganhos maiores, mesmo sem demandar muita atenção “, diz Mauro Calil. O ASSUSTADO O mero pensamento de desperdiçar dinheiro faz acelerar o coração (lesse investidor. Comer fora de casa, para esse perfil, é urn luxo reservado a aniversários e datas especiais. Como consumidor, é do tipo que adora comprar os produtos com garantia estendida só para evitar surpresas desagradáveis. Seu esporte favorito é economizar, e o medo pode impedi-lo de tomar decisões racionais. A insegurança faz com que desconfie de aplicações de longo prazo. Quando o investimento desvaloriza, o assustado saca o dinheiro e sai no prejuízo. Prefere opções feitas no passado a procurar novidades. Investimentos preferidos: Caderneta de poupança, CDBs de grandes bancos, mesmo que paguem pouco em relação ao CDI (de 70% a 85%) e fundos com histórico de bons resultados, esquecendo-se de que os rendimentos passados não são garantia de rendimentos futuros.
Investimentos que deveria considerar: Há opções para conciliar segurança com melhor rentabilidade. Ele pode começar por titulos como Tesouro Direto Selic e evoluir para CDBs, LCs, LCIs e LCAs de instituições menores, com remuneração de pelo menos 100% do COI e assegurados pelo Fundo Garantidor de Crédito, afirma Mauro Cabl, consultor do banco Ourinvest.
O INDEPENDENTE Ele gosta de se sentir no controle. Não confia na opinião nem nos conselhos de ninguém, apenas no próprio julgamento. Quando vai comprar, pesquisa na interne, busca pelo menos seis opções antes de se decidir e vai direto ao local onde pretende fechar negócio. Como investidor, estuda as opções e não aplica em nada que não entenda. Dificilmente toma decisões erradas quando a economia vai bem, mas, diante de uma crise iminente, pode tender à negação, deixando de fazer as mudanças necessárias para atravessar uma fase difícil.
Isso porque a determinação em fazer uma análise minuciosa e independente pode levá-lo a adiar demais a tomada de decisão, resultando em prejuízos. Investimentos preferidos: Aqueles sobre os quais detém conhecimento técnico, não necessariamente os melhores. Investimentos que deveria considerar: Como tem tomada de decisão lenta, deve diversificar suas aplicações com opções que combinam baixo risco com rentabilidade, como CDBs, LCA, LCI e debêntures. Esse investidor deve evitar imóveis, pois a baixa liquidez é inimiga de quem demora a tomar decisões; afirma Mauro Calil especialista em investimentos do banco Ourinvest. O INGENUO É o tipo que sempre se oferece para pagar a conta. Se ninguém o influenciar a economizar regularmente, esse investidor não o fará. É capaz de dizer que acha estressante pensar sobre investimento e dinheiro. Se alguém pudesse escutar suas conversas sobre investimentos com o gerente, o consultor financeiro ou um companheiro, certamente o ouviria dizer. “0 que você preferir” ou “Eu confio em você”. Para ele, a administração do dinheiro é um processo exaustivo e pouco atraente, e ele tende a concordar com qualquer coisa só para escapar dessa tarefa. Investimentos preferidos: Poupança e fundos de renda fixa ou aqueles que o gerente oferecer para cumprir suas metas. Investimentos que deveria considerar: Inicialmente, essa pessoa deve focar seus investimentos em renda fixa de qualidade, como Tesouro Direto e CDBs. “Mas deve investir principalmente em educação financeira, para ter mais conhecimento e se estressar menos com o assunto dinheiro”, diz Mauro Calil. O OSTENTADOR Como gosta de exibir seu sucesso profissional e financeiro, prefere opções de investimento que os outros possam ver, corno imóveis, em vez de títulos, dos quais só ele e o banco saberão .
Pode ter aplicações rentáveis, mas os lucros podem ser anulados pelas dívidas, contraídas para sustentar seu estilo de vida caro. Tem grande potencial para o sucesso financeiro se aprender a reinvestir os dividendos e parar de usar as aplicações para cobrir despesas pessoais. Permite-se esse comportamento por ter uma boa renda, mas pode se endividar. Investimentos preferidos: Imóveis, obras de arte e ações, pela aura de conhecedor que isso Ufa nas rodas sociais. Eventualmente, investe em fundos com alto tíquete de entrada, pela sensação de exclusividade que pode ser alardeada aos amigos. Investimentos que deveria considerar: Os programados e previdência privada. Para que esse investidor se obrigue a criar uma poupança”, diz Alexandre Chaia, economista e professor de MBA executivo do Insper. O SONHADOR Perfil ambicioso que considera que construir uma imagem de sucesso é um investimento de longo prazo. Pode gastar mais do que deveria para sustentar essa imagem e tem dificuldade para economizar. Em geral, cria a armadilha mental de que ainda não ganha dinheiro suficiente para começar a poupar. Como investidor, assume riscos na tentativa de construir algo grande. Mas, em vez de ações ou fundos, impessoais, prefere investir em bens que pode ver e tocar, como abrir o próprio negócio ou comprar e vender imóveis. Investimentos preferidos: Compra e venda de imóveis, sociedade em empresas e novos negócios. Investimentos que deveria considerar: Fundos de renda fixa e multimercados. “Esses títulos, de risco médio, servem de base para a criação do patrimônio necessário à abertura de um negócio ou à aquisição de bens”, afirma Alexandre Chaia, do Insper. O DESCONFIADO O traço psicológico marcante das pessoas desse grupo é o receio de errar ou ser enganadas. Medo de perder dinheiro, quando se trata de finanças pessoais. Há quem chegue ao ponto de dividir o dinheiro entre diferentes bancos para que nem eles saibam o tamanho de sua renda. Há quem guarde dinheiro vivo em casa. Ou dólar. Ou ouro. Há quem não conte para o cônjuge quanto recebe. Esse perfil até pode ser bom poupador, mas não é um investidor eficiente. Como odeia abrir a vida financeira, não recebe conselhos precisos de ninguém. E acaba mal orientado. Investimentos preferidos: Dólar (no cofre de casa), caderneta de poupança. CDBs de grandes bancos e fundos de investimento com alta performance no passado. Investimentos que deveria considerar: Esse perfil de investidor pode experimentar fundos multimercados e de ações. As aplicações trazem maior rentabilidade e podem ser feitas diretamente no site do banco ou da corretora, sem intermediários, afirma Alexandre Chaia, do Insper.
Fonte: Revista S/A – 10/06/2015