16/07/2013
Formados em computação, Flávio Pripas e Renato Steinberg deixaram o mercado financeiro para criar a Fashion.me, principal rede social de moda do mundo.
Os empresários paulistanos Flávio Pripas, 36 anos, e Renato Steinberg, 35, trabalham de camiseta, calça jeans e tênis. Quando a ocasião pede, colocam calça social e paletó, mas ainda assim fica difícil, ao olhar para eles, dizer que são os criadores da principal rede social focada em moda do mundo, a Fashion.me. Se o dress code lembra o do Vale do Silício, o mesmo pode ser dito da sua trajetória rápida de sucesso. Criada sem pretensão em 2008, a Fashion.me cresce, em média, 300% ao ano e já soma mais de 1 milhão de usuários (ou usuárias, já que 97% do público é feminino).
No ano passado, a Intel Capital, braço de investimentos de risco da fabricante de processadores, tornou-se sócia da dupla e aplicou uma quantia não revelada no negócio. Logo depois de fecharem o acordo, Pripas e Steinberg apareceram na lista das cem pessoas mais criativas nos negócios em 2012 da revista Fast Company, uma das referências do mercado de empreendedorismo digital.
Com fôlego financeiro renovado, a Fashion.me passou a buscar alcance global – hoje, 90% da audiência ainda é gerada no Brasil. “Queremos ser para o mundo da moda o que o Linkedin é para o universo profissional. Temos potencial para ter 100 milhões de usuários no mundo todo”, estima Pripas. O Linkedin, criado há dez anos na Califórnia, reúne o perfil profissional de 225 milhões de pessoas e fatura quase US$ 1 bilhão por ano.
A expansão internacional da Fashion.me conta com a contratação de uma profissional em Nova York especializada em desenvolvimento de negócios. No Brasil, 13 funcionários ajudam Pripas e Steinberg a tocar o negócio e a tornar a rede social melhor a cada dia. “As coisas mudam muito rápido na internet, precisamos acompanhar o ritmo”, diz Pripas. Garantir longa vida ao site para não repetir o fenômeno do Orkut – que perdeu relevância de maneira tão rápida quanto surgiu – é o grande objetivo dos sócios.
Além, é claro, de ganhar dinheiro. O faturamento da empresa, não revelado, vem de anúncios, ações promocionais e comissões sobre as vendas de lojas virtuais que têm links exibidos no site.
O conteúdo é gerado pelo público, que se esmera em montar os melhores looks a partir de fotos de roupas e acessórios encontradas na internet. “O trabalho das usuárias é o mesmo das editoras de moda nas revistas especializadas”, diz Helena Campos, editora-chefe da Fashion.me. A diferença é que a diversidade na combinação das peças está garantida pela enorme quantidade de participantes. “Elas vão identificando estilos parecidos com os delas e acabam aprendendo umas com as outras.” Algumas usuárias fazem tanto sucesso que chegam a reunir milhares de seguidores.
Para as marcas, a plataforma representa um canal direto com entusiastas e compradoras de moda. Mais de 60% do público tem entre 20 e 35 anos, ensino superior completo e carreira estabelecida.
“Quem está no Fashion.me é a mulher comum, a consumidora de moda que acaba se transformando, na rede social, em formadora de opinião e divulgadora da marca”, diz a gerente de marketing e relacionamento da grife espanhola Adolfo Domínguez no Brasil, Marielle Vasconcellos. Empresas de vários segmentos do universo da moda já fecharam parcerias comerciais com a Fashion.me, desde as populares Renner, Riachuelo e C&A até a luxuosa Armani.
R$ 30 por mês
Quando colocaram o site no ar, em agosto de 2008, Pripas e Steinberg nem sonhavam em se tornar referência em um mercado que desconheciam.
Formados em computação e donos de MBAs, ambos tinham carreiras sólidas e promissoras na área de tecnologia do mercado financeiro quando resolveram atender ao apelo de suas mulheres e criar o site, então chamado ByMK (de Marcela e Karen, nomes das respectivas).
A dupla fez o trabalho em quatro fins de semana e investiu R$ 30 mensais, nos primeiros tempos, para pagar a hospedagem do site. Poucos meses depois, a rede reunia 25 mil pessoas e crescia de maneira exponencial. Em abril de 2009, eles deixaram seus empregos, assumiram o comando e profissionalizaram o site – Marcela e Karen atuam hoje como consultoras eventuais. “Vimos que era uma oportunidade interessante para começar um negócio novo, e eu sempre quis empreender”, afirma Steinberg.
Nessa nova fase, os sócios investiram R$ 200 mil com recursos próprios e passaram a buscar fontes de receita para a plataforma. Menos de um ano depois, tinham recuperado o investimento e cresciam em ritmo acelerado. O grande salto começou a se desenhar em abril de 2010, quando os empreendedores receberam uma proposta de compra. “Foi o que nos deu a certeza de que estávamos fazendo algo interessante”, diz Steinberg.
O passo seguinte foi se apresentar ao mercado global. O palco escolhido foi uma conferência em Nova York da publicação especializada TechCrunch, em maio de 2010. “Saímos de lá com 18 contatos importantes, entre potenciais investidores e parceiros”, lembra.
Pioneiros, eles aparentemente navegam esse mercado sem concorrentes.
Foi assim que surgiu o interesse da Intel Capital e a necessidade de aprimorar a estrutura do site. “O Flávio e o Renato são de uma geração de empreendedores profissionais que sabe o que está fazendo”, diz Marcelo Nakagawa, professor do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e consultor voluntário da Endeavor, uma organização não governamental global que estimula o empreendedorismo e participou dos primeiros tempos da Fashion.me. “Intuitivamente, eles seguiram um método de empreendedorismo eficiente”, diz. Conhecido como effectuation, o jeito deles de lidar com os negócios se baseia, para colocar de forma simplificada, na ideia de que é preciso dar um passo de cada vez na formação de uma empresa. Uma oposição à corrente teórica dominante, que afirma ser necessário planejar cada detalhe extensa e detalhadamente antes de se lançar ao mercado.
“O plano de negócios que mostramos para a Intel Capital era um PowerPoint com 15 slides”, diz Pripas, hoje um palestrante requisitado no universo dos empreendedores e um dos mais atuantes no fórum Brazil Innovators, que discute a cultura do Vale do Silício no país. “Eles estão muito bem posicionados e criaram um modelo que pode funcionar em qualquer parte do mundo”, afirma Nakagawa.
A exemplo de Mark Zuckerberg, que continua a atuar na programação do Facebook mesmo após a rede social ter se transformado em um fenômeno global, a dupla ainda coloca a mão no código do site diariamente. A única coisa que eles não se arriscam a fazer à frente da Fashion.me é dar dicas de moda. Para isso, é melhor falar com a Helena.
Não tente achar um endereço no Japão.
Os endereços por lá são quase tão indecifráveis quanto os ideogramas. Os bairros são subdivididos em pequenas regiões numeradas. Dentro de uma região, cada quarteirão tem um número.
Dentro de cada quarteirão, cada casa ou edifício tem o seu número também. Por exemplo: o endereço Shibuya 10-3-20 significa que o que você procura está na vigésima casa da terceira quadra da décima microrregião do distrito de Shibuya.
Detalhe: nenhum desses números está visível nos nossos algarismos.
Pense duas vezes antes de reclamar.
Talvez o fato de os japoneses adorarem viajar em grupo se deva a uma total incapacidade de entender o sistema ocidental de endereçamento. Como assim, Faria Lima com Rebouças? Qual é a lógica de essas duas avenidas fazerem esquina? Na Inglaterra, um mesmo nome pode ser atribuído a uma street, a uma road, a uma drive e a uma lane, todas pertinho umas das outras – mas, até você descobrir qual é qual, lá se vão 15 minutos debaixo de chuva.
O sistema perfeito seria o americano, com ruas e avenidas dispostas em grades numeradas em sequência perfeita e organizadas por ponto cardeal. O problema é que nós, brasileiros, temos problemas com norte, sul, leste e oeste.
Nossos pontos cardeais são seis: à esquerda, à direita, na frente, atrás, em cima e embaixo.
Quer uma prova? Nossa cidade com o sistema de endereçamento mais perfeito, Brasília, tem o mapa mais errado do planeta: a Asa Sul aparece no oeste, e a Asa Norte, no leste.
Ano passado passei uma semana em Palmas, que teoricamente seguiu o sistema de Brasília. Quanto mais eu me deslocava, menos entendia a lógica da coisa. Acredito que se orientar na cidade requer o mesmo tipo de talento necessário para decifrar um manual de TV a cabo.
Mas o troféu de cidade brasileira onde é mais difícil achar um endereço vai para a bela, próspera e animadíssima Goiânia. Suas ruas são numeradas, mas não obedecem a nenhuma grade ou lógica. No fim das contas nem é preciso: basta decorar que a rua 146 do Setor Marista passa a se chamar Dom Emanuel Gomes e tudo o que você precisava saber sobre a noite da cidade está resolvido.
Fonte: Revista Gol – 15/07/2013