A forte contração do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano, de 4,5% ante o mesmo período de 2014, provocou um amplo debate entre os especialistas. Boa parte deles garante que o Brasil mergulhou na depressão econômica, o que não se vê no país desde o início dos anos 1930, quando um golpe derrubou o então presidente da República,Washington Luiz, e os Estados Unidos viviam uma crise sem precedentes, com reflexo em todo o mundo.
Todos os ingredientes apontam para um quadro dramático. A inflação se mantém acima de 10%, as contas públicas estão em frangalhos, as empresas deram início a um processo de demissões em massa, os investimentos estão em queda livre e as famílias, sendo obrigadas a tirar alimentos dos carrinhos de supermercados. Tudo isso recheado por uma crise políticas em precedentes.“O quadro é desalentador e nos leva ao pior dos mundos”, disse a economista Margarida Gutierrez, professora da Escola de Negócios da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Não por acaso, a perspectiva é de que, se houver recuperação da economia, ela só virá em 2017. “O fundo do poço ainda não chegou”, afirmou Roberto Luiz Troster, ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Segundo ele, a literatura econômica internacional define como recessão dois ou três trimestres seguidos de queda do PIB. E um quadro de depressão, a retração se dá por dois ao mais anos e o Brasil já está há 18 meses (ou seis trimestres) no negativo. “Se nada for feito rapidamente, caminharemos rápido para a depressão”, assinalou. “A recessão já uma realidade e não há como mudar a trajetória sem mudanças profundas”, disse.
Para Margarida Gutierrez, a depressão é caracterizada por uma queda profunda e intensa do nível de atividade econômica, com longa duração. No entender dela, a Grécia passou por esse isso entre 2008 e 2013 e ainda não conseguiu se recuperar.“Após a recessão, um país consegue se recuperar em um ou dois anos. Mas quando o quadro é de depressão, somente reformas profundas conseguem dar vida à economia”, destacou. “Infelizmente, estamos no caminho da depressão. Ainda não chegamos lá, mas avançamos rapidamente, sobretudo por causa da falta de um ajuste fiscal.”
Patologia
As previsões apontam para queda de até 4% do PIB neste ano, de pelo menos 3% em 2016 e de 0,3% em 2017. O pior, destacaram os economistas, é que, mesmo com a retração generalizada de todos os setores da economia, a inflação não dará trégua, a ponto de o Banco Central ser obrigado a elevar a taxa básica de juros, e a dívida bruta caminhará para 80% do PIB até 2018. Nesse contexto, o país perderá o grau de investimentos de mais duas agências de classificação de risco—a Moody’s e a Fitch —, o que provocará fuga de recursos do país, elevando as cotações do dólar.
Na avaliação de Otto Nogami, professor de economia do MBA do Insper, a depressão tem uma conotação patológica, e é um distúrbio afetivo. As pessoas ficam tristes, pessimistas e com baixa autoestima, resultado do elevado nível de desemprego, do baixo patamar de produção, da inflação alta e da falta de perspectivas.
Fonte: Correio Braziliense – 03/12/2015