31/10/2012 – Valor Econômico
A rodada do Seed Forum, promovido pelo Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec) neste mês, reuniu 23 startups, 70% da área de tecnologia, sediadas em sete Estados, com um total de cinco horas de apresentação. Os projetos demandaram investimentos da ordem de R$ 75 milhões, com pedidos de patrocínio entre R$ 400 mil e R$ 20 milhões. “O importante neste momento é preparar as empresas e fomentar a cultura de rodadas como a promovida pelo Cietec no mercado brasileiro, uma prática comum no exterior, mas pouco difundida por aqui para prospecção de capital semente”, diz Sérgio Risola, diretor executivo do Cietec.
O desafio dos treinadores, que ajudam na preparação dos empreendedores, é fazer com que o discurso nas apresentações revelem a essência do negócio e a competência de quem está à frente deles aos olhos dos futuros investidores. Ao mesmo tempo, é essencial fazer com que eles se apresentem com os pés no chão, o mais próximo da realidade do mercado, principalmente, quando projetarem o quanto suas empresas serão valorizadas nos próximos anos.
A preparação reúne teoria e prática, passando pela revisão dos planos de negócios, por dezenas de simulações e pela necessidade do empreendedor fazer a própria lição de casa, navegando na internet em busca de exemplos de apresentações bem-sucedidas no Brasil e no exterior. “Diante de uma plateia heterogênea, o recomendado é adotar um discurso simples e investir na linguagem visual, rica em imagens, para mostrar os conceitos de uma forma mais lúdica”, afirma Marcelo Nakagawa, coordenador do Centro de Empreendedorismo do Insper.
“O objetivo do ‘pitch’ não é obter o investimento imediato, mas chamar a atenção de possíveis interessados, daí a necessidade da objetividade, da simplicidade. Se o olho não brilhou em 10 minutos, dificilmente brilhará em 40, 50 ou 60 minutos.” E, ao contrário do que muitos possam pensar, rodadas de apresentação em fóruns para captação de aportes de capital semente não são destino para todas as empresas. Têm espaço apenas negócios de alto potencial de crescimento em pouco espaço de tempo. Não vale para empreendimentos de sobrevivência e estilo de vida, adverte Nakagawa.
Acostumado às cadeiras da plateia, Clóvis Meurer, presidente da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), reforça que tem de ser amor à primeira vista. Por isso, é essencial que o empreendedor domine o assunto, a empresa, as características do mercado onde atuará, esteja seguro e apresente o negócio com um discurso que tenha começo, meio e fim. “O contato dos primeiros seis ou 10 minutos levará seis meses e, às vezes, até um ano para se transformar em parceria e investimento efetivo de capital”, ressalta. A receita é válida para todos os segmentos, embora cada fundo tenha por foco uma ou duas áreas a serem prospectadas e trabalhadas.
Meurer diz que a indústria dos fundos tem US$ 10 bilhões para investir em empresas brasileiras, entre capital de fundos nacionais e estrangeiros, 90% desse montante para operações médias e grandes (entre US$ 10 milhões e US$ 1 bilhão) e menos de 10% para venture capital ou seed money, o chamado capital semente para empresas nascentes. “Quando se fala em dinheiro as pequenas operações abocanham uma fatia menor, mas em número de transações encabeçam a lista.”
Na visão de Cassio Spina, fundador e presidente da Anjos do Brasil, entidade de fomento ao investimento-anjo, o ‘pitch’ é um bom exercício para a empresa saber se está pronta para ir ao mercado, além de uma excelente oportunidade para trocar opiniões e assimilar o que os demais competidores têm de melhor. Hoje, existem cerca de 5.300 investidores-anjo no país, que aplicam, em média, entre R$ 50 mil e R$ 150 mil em empresas ou até R$ 650 mil em projetos de maior porte, muitas vezes em sistema de cotização entre anjos.
Estima-se que R$ 520 milhões já tenham sido colocados em empresas iniciantes, a maioria com o próprio empreendedor batendo à porta do anjo.