17/01/2022
A professora Graziela Tonin fala sobre as áreas em que esse profissional pode atuar e as excelentes perspectivas do mercado de trabalho
Graziela Tonin*
O curso de Ciência da Computação do Insper vai receber sua primeira turma de alunos em 2022. Seguindo a filosofia adotada pela instituição em seus outros cursos, o novo curso de graduação pretende ensinar aos alunos como entregar projetos que resolvam problemas reais de empresas, da sociedade e de indivíduos. Para isso, a escola tem uma estratégia de ensino que alia teoria e prática, com muitas atividades que vão ajudar os alunos a aprenderem fazendo.
Mas, afinal, o que faz um cientista da computação e quais as competências necessárias para se tornar um bom profissional?
O cientista da computação estuda os princípios e fundamentos da computação teórica e aplicada e a sua interação com o mundo real. Seu foco é construir softwares e desenvolver algoritmos, modelos computacionais e teorias computacionais para melhorar e empoderar a sociedade e os negócios. O cientista da computação desenvolve o pensamento computacional necessário para identificação e criação de abstrações úteis, formulação de soluções e aplicações nos mais variados modelos de negócio. Essas atividades têm impacto na vida diária das pessoas nos mais diversos aspectos, direcionando as mudanças e a construção do futuro.
O cientista da computação pode atuar em qualquer mercado ou área de aplicação ou setor de trabalho. Isso porque, hoje em dia, a maioria dos negócios, de alguma forma, faz uso de algoritmos, modelos e sistemas para solucionar, otimizar e prover serviços e produtos para resolver desde problemas simples até os de alta complexidade. Além disso, por meio de coleta e tratamento de dados, um cientista da computação pode criar e distribuir análises precisas sobre produtos, sobre comportamentos e sobre as próprias organizações, transformando dados em informação e conhecimento valiosos para o processo decisório.
Um exemplo são os expressivos resultados obtidos no desenvolvimento da vacina contra a covid-19. Cientistas do mundo inteiro colaboraram para o mapeamento do vírus e compartilharam rapidamente ao redor do globo os resultados de experimentos, viabilizando a produção de vacinas em tempo recorde. Foi preciso utilizar muitos algoritmos, modelos e sistemas em cada parte do processo de descoberta, produção e distribuição das vacinas. Do armazenamento de dados básicos ao compartilhamento e análise desses dados, foi fundamental o uso de sistemas de computador. Disponibilizar um imenso volume de dados para que as mentes mais brilhantes do mundo possam trabalham só é possível com um software de alta qualidade.
Outro exemplo de atuação do cientista da computação é no setor financeiro. Hoje é possível resolver tudo rapidamente com aplicativos e programas de computador desenvolvidos por esses profissionais. Por meio de transações como o Pix, dá para realizar transferências de valores de forma instantânea e segura. Com o open banking, os clientes que quiserem podem autorizar o compartilhamento de suas informações financeiras por diferentes instituições, o que tende a facilitar o acesso a créditos.
Apesar das altas taxas de desemprego no país, o mercado de trabalho está mais do que aquecido no setor de tecnologia. Segundo uma pesquisa da Softex, entidade que desenvolve iniciativas em inovação e tecnologia, o Brasil terá um déficit de 410 mil profissionais dessa área em 2022. Nem todas as vagas são voltadas para software, mas, ainda assim, o mercado é expressivo e atraente.
Os salários desses profissionais são acima da média do mercado e há muitos benefícios que se tornaram comuns no setor, como a possibilidade de optar por trabalho remoto (ou atuar em um esquema híbrido de trabalho presencial e remoto), flexibilidade de horários e de locais de trabalho, além de muitas outras vantagens. Outro ponto interessante é que muitos brasileiros podem morar no país e trabalhar para empresas no exterior, recebendo em dólar, ou podem morar em qualquer país, uma vez que o mercado está aquecido globalmente.
Em geral, as empresas começam a “assediar” os alunos logo nos primeiros semestres do curso. Um aluno só irá ficar sem trabalho antes de se formar se essa for sua escolha, pois empresas do mundo todo já estão de olho nos futuros cientistas de computação. Nós, docentes do Insper, temos uma ampla rede de contatos no país e no exterior, e empresas dos mais variados setores no Brasil e no exterior já se ofereceram para colaborar na formação dos nossos alunos, visando atraí-los para as vagas disponíveis.
Uma pesquisa da consultoria Mckinsey apontou que cerca de 50% das atividades de trabalho existentes podem ser automatizadas com a adaptação das tecnologias atuais. Ou seja, além de profissionais para manter os softwares que já existem, muito trabalho será realizado por softwares, robôs e outras tecnologias que dependem de programação e lógica computacional. Isso representa uma demanda incalculável e crescente de profissionais dotados de pensamento computacional de alto nível.
Vivemos em um mundo completamente conectado e que troca informações em tempo real nos diversos cantos do país e do globo. Nesse ambiente, é grande a chance de equipes de trabalho serem formadas por profissionais de diferentes lugares do país e do mundo — com diferentes visões, formações culturais, credos, habilidades e vivências. Isso exige que, além do conhecimento técnico, outras habilidades sejam desenvolvidas.
Quando falamos em habilidades técnicas, estamos falando em saber programar, ciência dos dados, lógica, matemática e outros. Além disso, no Insper, trabalhamos as chamadas soft skills, como liderança, comunicação eficiente e não violenta, pensamento crítico e resolução de problema, capacidade de trabalhar em equipe, empatia e respeito à diversidade. Adicionalmente, gerir um projeto e mensurar resultados são igualmente importantes.
Por isso, no Insper, criamos um curso no qual iremos trabalhar em profundidade as habilidades técnicas, mas também treinar os alunos a desenvolver essas e outras soft skills, sempre com o objetivo de construir software para gerar resultados para os negócios, melhorar sua eficiência e aumentar os lucros, mas também contribuir para a redução de desigualdades e para a construção de um Brasil e um mundo melhor.
* Graziela Tonin é doutora em Ciência da Computação pela Universidade de São Paulo, na área de Engenharia de Software, Dívida Técnica e Metodologias Ágeis. Ela vai lecionar a disciplina Projeto Ágil e Programação Eficaz no novo curso de Ciência da Computação do Insper