10/03/2021
Primeiro evento de lançamento do livro O Legado da Pandemia reuniu autores da obra e a deputada Tabata Amaral para debate sobre o aspecto social da pandemia
O Insper realizou, no dia 1º de março, o debate inaugural da série de encontros para o lançamento do livro O Legado da Pandemia. O webinar, transmitido online, foi proposto pela escola em parceria com a Fundação Brava e discutiu os possíveis legados da pandemia para as políticas públicas sociais brasileiras.
Organizado por Laura Muller Machado, professora do Insper, o livro conta com as reflexões de 26 professores e pesquisadores que se debruçaram sobre os legados e aprendizados da pandemia para a política pública. O livro foi disponibilizado gratuitamente em formato e-book, saiba mais e baixe a publicação aqui!
Para este primeiro encontro, foram reunidos os autores Bianca Tavolari, Michael França, Naercio Menezes Filho e Ricardo Paes de Barros, professores do Insper. A mediação foi feita por Laura Muller Machado e foram convidados para comentar o tema Sérgio Firpo, professor do Insper, e Tabata Amaral, deputada federal.
“Toda a situação ou crise pela qual passamos pode trazer ensinamentos. Com a pandemia causada pelo novo coronavírus, isso não é diferente. É uma situação terrível, mas esse projeto tem como objetivo pensar o que podemos aprender com tudo isso, independentemente do sucesso que possamos ou não ter no combate à pandemia”, explicou Laura na abertura do webinar.
O legado para a agenda racial
Michael França, coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Centro de Gestão e Políticas Públicas (CGPP) do Insper, abriu o debate. Em seu texto, ele discute os legados que a pandemia deixou para a agenda racial, citando como principal aspecto a ampliação da sensibilidade da população sobre o tema.
“A pandemia fez com que o debate racial se tornasse cada vez mais aquecido, justamente por o início dela ter sido marcado por um extenso debate sobre a razão dos negros estarem morrendo mais do que os brancos neste cenário”, disse Michael.
Ao comentar o artigo de Michael, Tabata Amaral refletiu sobre o papel dos brancos em dar respaldo a essa luta por igualdade racial, analisando que nos movimentos vistos nos Estados Unidos houve uma maior participação e apoio da população às pautas levantadas. “Como uma pessoa que ocupa um cargo eletivo, me questiono como dar conta de enfrentar de forma mais acelerada e mais persistente a falta de representatividade na política.”
“Eu coloco a questão da inclusão como um ponto fundamental e em relação às políticas sociais voltadas para a agenda racial, acho que temos que estudar muito mais, pois muito do que temos é importado de modelos americanos e temos uma dinâmica racial que em muitos aspectos é diferente de lá”, concluiu Michael
Impactos para a desigualdade educacional
Na sequência, Naercio Menezes Filho, Coordenador da Cátedra Ruth Cardoso e Diretor do Centro Brasileiro de Pesquisa Aplicada à Primeira Infância (CPAPI), apresentou seu artigo, dedicado a analisar os aprendizados que a pandemia trouxe para a política educacional brasileira e quais impactos para os próximos anos.
“Ficou claro desde o início que essa pandemia vai provocar um grande aumento da desigualdade educacional e que vai se refletir ao longo da vida dessas crianças. No texto, mostramos como a realização das atividades escolares pelas crianças varia de acordo com a educação dos pais, da pobreza e da cor das crianças. O principal legado que a pandemia deixa enquanto aprendizado é a necessidade de igualar oportunidades”, disse o pesquisador.
Ao comentar a leitura da contribuição, Sergio Firpo pontuou que as desigualdades educacionais ficaram muito aparentes por conta das dificuldades de acesso à tecnologia. Para ele, é preciso investir nas fases mais precoces da vida para combater a desigualdade desde o início. “Em que medida conseguimos implantar essas políticas de redução da desigualdade de oportunidades em um momento com restrições fiscais importantes?”, questionou Sergio.
Naercio acredita que há espaço para implementar medidas para recuperar a defasagem educacional. “Tendo em vista que há uma previsão de aumento de recursos na área, com o novo Fundeb, precisamos de uma melhor gestão desse investimento. Há evidências que a execução orçamentária não foi plenamente alocada no ano passado.”
Políticas de moradia
O terceiro capítulo do livro foi apresentado por Bianca Tavolari, que discutiu no texto a política de moradia durante a crise, com foco na questão do aluguel. “Aprendemos que ao falarmos em políticas habitacionais, pensamos em construção de casas, mas também é necessário pensar nos não proprietários, pois essas pessoas têm uma desestabilização maior com a pandemia”.
Em seu comentário sobre o capítulo, Tabata reforçou que também não vê uma política pública robusta para aqueles que pagam aluguel e questionou quais iniciativas parecem fazer mais sentido. “Parece, para mim, que a estruturação de um fundo seria uma boa iniciativa pensando em crises futuras, mas também pensando no que pode ser feito nesse segundo ano de pandemia.”
Para Bianca, é visível o aumento da vulnerabilidade na pandemia, mas também é possível encontrar exemplos de políticas públicas sendo propostas para conter esse processo. “Há vários exemplos de outras cidades e países que estão fazendo essa combinação de suspensão de despejos e fundos específicos para endereçar a questão do aluguel”.
Desigualdade Geracional
Para finalizar a discussão sobre essa primeira parte do livro, Ricardo Paes de Barros, professor titular da Cátedra Instituto Ayrton Senna e coordenador do Núcleo Ciência para Educação (NCPE), comentou o artigo escrito a respeito do legado das políticas públicas para a redução da desigualdade entre gerações.
“Temos uma desigualdade intergeracional gigante, com prevalecimento de políticas voltadas aos idosos, que é contraditória com a nossa própria constituição que diz que há absoluta prioridade para a garantia dos direitos sociais de crianças, adolescentes e jovens”, disse Ricardo.
Sergio Firpo concordou com o autor que o gasto social brasileiro é muito mais focalizado em pessoas mais velhas do que nos mais jovens e que isso gera grandes distorções nos investimentos sociais, mas questionou como implementar políticas para mudar essa realidade. “Se alterássemos drasticamente nossas políticas de transferência de renda destinando mais atenção aos mais jovens, como garantimos não colocar os idosos numa posição muito vulnerável?”.
“Essa mudança de rumo da política social brasileira irá impactar os idosos, mas irá beneficiar a sociedade em um volume muito maior. No mundo inteiro, vemos uma dedicação maior de recursos voltados para as crianças do que para os adultos”, respondeu Ricardo Paes de Barros.
Webinar completo
Em seguida, houve um espaço para que os autores pudessem responder às perguntas propostas pelo público do evento. Assista à gravação completa do webinar: