Reação negativa de governos de países como China, Índia e Rússia às moedas digitais, no entanto, pode colocar em xeque essa previsão
Bernardo Vianna
Em janeiro de 2021, havia, no mundo, 106 milhões de pessoas fazendo negócios em criptomoedas. Em dezembro do mesmo ano, esse número havia chegado a 295 milhões, um crescimento de quase 180%. Nesse ritmo, de acordo com a corretora Crypto.com, o número de pessoas com criptomoedas em suas carteiras eletrônicas deve atingir 1 bilhão até o final de 2022.
Segundo o relatório Crypto Market Sizing, da Crypto.com, a adoção de moedas digitais foi mais intensa no primeiro semestre de 2021, quando pesos-pesados como Tesla e Mastercard passaram a dar suporte a transações em criptomoedas em suas redes. Embora no segundo semestre esse crescimento tenha arrefecido, em consequência das restrições às moedas digitais em alguns países, a taxa de crescimento do número de proprietários de moedas digitais manteve-se sustentável ao longo de 2021.
O outro lado da moeda
Embora o número de usuários de criptomoedas tenha praticamente triplicado entre janeiro e dezembro de 2021, fatores relacionados à regulação desse mercado em diversos países podem frustrar as expectativas de que a mesma taxa de crescimento vá se repetir em 2022.
Em setembro do ano passado, o banco central chinês baniu as transações em criptomoeda do país, movimento realizado enquanto se prepara para lançar sua própria moeda eletrônica. Aqui cabe destacar que as moedas digitais desenvolvidas pelos bancos centrais — CBDCs, na sigla em inglês — funcionam de forma diferente das chamadas criptomoedas: enquanto estas últimas são iniciativas privadas e distribuídas pela rede de usuários, as CBDCs são controladas pelos governos.
A Índia é outro país que já anunciou que pretende lançar uma moeda eletrônica controlada pelo seu banco central e, no início de 2022, ameaçou criminalizar a posse, a mineração e a realização de transações em criptomoedas. A Rússia, por sua vez, regulamentou a posse de criptomoedas e a tornou passível de taxação, além de ter permitido seu confisco caso haja suspeita de obtenção por meios ilegais. Outro país com restrições ao uso de criptomoedas é a Turquia, que proibiu a compra e a venda de produtos e serviços por meio delas.
Como fica a descentralização?
Além do status legal ainda incerto, outra questão que surge em relação às criptomoedas é se de fato serão capazes de cumprir a promessa de maior descentralização e democratização da economia. Um estudo de outubro de 2021 da organização americana National Bureau of Economic Research observou que um grupo minúsculo de investidores controla mais de um quarto do suprimento mundial de bitcoins. De acordo com os pesquisadores, 0,01% dos proprietários da moeda digital controla 27% do mercado.