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Novo estudo sobre desigualdade é debatido por pesquisadores do tema
28/10/2021
Evento reuniu pesquisadores especializados na análise da distribuição de renda no Brasil para debater os resultados do novo estudo produzido por professores do Insper
No dia 19 de outubro, foi lançado o estudo Sobre o declínio no grau de desigualdade ao longo do novo milênio, elaborado por Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado, professores do Insper, Samir Cury, pesquisador associado do Insper, e Samuel Franco, diretor técnico da Oppen Social, além da colaboração de Suiani Febroni e Camila Soares.
Os autores buscaram responder o que aconteceu com a desigualdade de renda no Brasil ao longo do século 21. Para isso, desenvolveram uma metodologia que uniu diferentes fontes de dados para integralizar os resultados em um índice unificado. Assim, chegaram à conclusão de que houve queda na desigualdade no início do período estudado.
Esse estudo, cujo tema é objeto de intenso debate na comunidade acadêmica, foi apresentado em um webinar aberto ao público no dia 25 de outubro. No evento, além dos autores, foram convidados os estudiosos especializados Pedro Ferreira de Souza, pesquisador do IPEA, Rodolfo Hoffman, professor da ESALQ-USP e Simone Wajnman, professora do Cedeplar-UFMG.
Apresentação do estudo
Na abertura do encontro, os três autores presentes, Paes de Barros, Laura e Cury, apresentaram a metodologia utilizada no estudo. A partir de gráficos e tabelas estatísticas, eles mostraram por que o trabalho trouxe um novo panorama para a análise da desigualdade no Brasil.
De acordo com os autores, a publicação produzida pelo Insper vai no caminho oposto a um outro estudo elaborado em 2020 pelo World Wealth and Income Database (WID), instituto liderado pelo economista Thomas Piketty. “O WID diz que a desigualdade no Brasil não apenas não caiu, como aparente subiu e mudou de patamar para um nível mais alto do que a gente tinha discutido até então”, diz Laura.
Surpresos com os resultados apresentados em 2020, os autores se debruçaram sobre as bases de dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), considerada por eles mais completa do que a Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD), utilizada pelo WID. A análise confirmou uma tendência de queda da desigualdade vista entre os anos de 2002 e 2017.
Cury expôs todas as diferenças metodológicas entre os dois estudos por meio de uma tabela comparativa. Na sua visão, uma das principais diferenças acontece na análise dos programas governamentais de renda. “Eles não utilizam os componentes das contas nacionais de programas de transferência de renda. Isso só vai ser consolidado em uma conta com distribuição neutra, ou seja, é como se eles não tivessem alteração do ponto de vista da distribuição de renda”, afirma o pesquisador.
Após a apresentação do estudo, os pesquisadores convidados puderam comentar os pontos que acharam mais interessantes e tirar dúvidas sobre a nova metodologia utilizada pelos autores.
Hoffman disse ter ficado impressionado com as primeiras informações apresentadas pelo grupo de pesquisadores do Insper. Para ele, o fato de terem sido preservados microdados ao fazer as correções do estudo possibilita uma maior transparência do que foi produzido. “Isso traz um potencial quase infinito para novas pesquisas.”
“Há, nesse estudo, um novo salto metodológico, que é combinar diversas fontes e corrigir os microdados, preservando-os. Assim é possível fazer novos exercícios de estudo. Ou seja, essa pesquisa abre uma nova porta para análises da desigualdade”, diz Simone, para quem o grande impacto do estudo foi perceber a enorme evolução da nossa capacidade de compreender e mensurar a desigualdade.
O pesquisador do IPEA, Pedro Ferreira de Souza, usou o espaço de sua fala para tirar dúvidas sobre as escolhas dos autores e também afirmou que estamos vivendo em um momento de transição e de novos padrões metodológicos. “O que mais me interessa nesse trabalho é justamente como podemos caminhar na direção de ter novos consensos.”
Assista à integra do evento ” O que aconteceu com a desigualdade no Brasil nas duas primeiras décadas?”