14/03/2013
A emissão de títulos de dívida locais é, sem dúvida, a principal fonte de captação de recursos das empresas brasileiras. A perspectiva de captação a custos mais baixos e prazos mais longos tem atraído cada vez mais companhias.
De acordo com a Anbima, o principal destino do recurso para as debêntures em 2012 foi o refinanciamento de passivos. O prazo médio das operações ficou em 6, I anos, voltando a um nível semelhante ao do período pré-crise de 2008.
Rodrigo Silva, CFO e IRO (Investors Relations Officer) da distribuidora de energia elétrica Elektro, afirma que as perspectiva de taxas de juros mais reduzidas na economia e a demanda de investidores institucionais por este tipo de papéis também contribuiu muito para o avanço das debêntures no mercado.
“Em particular os fundos de pensão, que antes conseguiam confortavelmente atingir suas metas atuariais investindo em títulos do governo, vêm procurando, cada vez mais, bons nomes de crédito privado”, destaca.
Complementação
Por estar num setor defensivo e ser considerada uma empresa diferenciada em termos de qualidade de crédito, a companhia vem se utilizando crescentemente desta fonte de captação, conta o executivo.
“Em 2012 fechamos nossa sexta emissão, de R$ 650 milhões, a custos muito competitivos. Numa das séries, com prazo de cinco anos, o custo foi de CDI+0,74%. A demanda total dos investidores superou três vezes o valor da oferta”.
Segundo Rodrigo, a atuação no negócio de distribuição de energia requer volumes significativos de investimentos na manutenção, modernização e expansão do sistema elétrico e ativos de suporte operacional.
“Recorremos a todas as linhas oferecidas pelos bancos e agências de fomento (BNDES, Eletrobras e FINEP) a custos atrativos. Utilizamos o mercado de capitais como uma parcela importante que complementa estas linhas, financiando a parte dos investimentos não elegível àqueles tipos de financiamento, bem como necessidades de refinanciamento”.
Diversificação de funding
Diego Barreto, CFO e IRO do Grupo OAS, um dos líderes do setor de construção pesada, afirma que a emissão de debêntures também é parte da estratégia de diversificação de funding – objetivo que tem diferenciado a gestão financeira e o posicionamento estratégico da empresa no mercado.
Barreto comenta que, diferente do que existia há 10 anos no Brasil- quando o mercado era basicamente concentrado em funding bancário – hoje as primeiras grandes oportunidades no mercado de capitais começam a ser viáveis para as empresas de forma mais concreta e mais democrática.
O grande diferencial dos CFOs para as empresas, do ponto de vista da captação, é conseguir trazer instrumentos que até então não eram disponíveis no Brasil, mas que ainda assim continuam pouco ofertados, comenta o executivo.
“À medida que você tem instrumentos raros disponíveis no mercado, ao trazer uma operação dessas você realmente consegue ter um diferencial competitivo para a sua empresa. Seja em função da capacidade de liquidez, seja em função da redução do fluxo de juros a se pagar ou outros aspectos”.
Em janeiro de 2012, a companhia fez uma emissão de debêntures no valor de R$ 250 milhões com prazo de 15 anos e carência de três anos – uma operação extremamente rara no país, especialmente do ponto de vista do prazo. A média dessas operações no mercado local, segundo a Anbima, é de 6, 1 anos.
Preparação
O sucesso de operações como essa começa no planejamento. Em 2009, o funding da OAS era 100% baseado no mercado financeiro. A equipe financeira traçou então uma estratégia para poder trazer uma diversificação saudável para a carteira creditícia, com o objetivo de ao mesmo tempo alongar prazo e reduzir custos.
A estratégia de diversificação e de desconcentração da dívida, executada ao longo dos últimos quatro anos, se concretizou em um primeiro momento na adição do mercado bancário internacional às fontes de financiamento bancário da companhia. Em um segundo momento, com emissão de debêntures no mercado de capitais nacional. Em seguida, entraram as agências multilaterais de financiamento e, finalmente, o mercado de capitais internacional com a conclusão no ano passado de um emissão de bonds de US$ 500 milhões com prazo de sete anos.
“No caso das debêntures, nós procuramos preparar primeiro a empresa para acessar esse mercado. A gente não quis acessar simplesmente por acessar. Então a nossa primeira preocupação foi trabalhar todas as estruturas corporativas, societária e de fluxo de Informações, do ponto de vista de transparência, e o relacionamento com o mercado”, destaca Barreto.
A companhia, por exemplo, começou a divulgar seu rating corporativo, meramente por disclosure, e a fazer reuniões com o mercado de capitais apenas para apresentar-se aos potenciais Investidores.
“Nós preparamos a empresa para, do ponto de vista de mercado, começar já madura. Uma prova disso é que a emissão de debêntures com prazo de 15 anos foi totalmente colocada no mercado, ou seja, uma operação que não foi levada para balanço de banco e logo não ocupou os limites bancários, a linha de crédito da empresa”.
Mercado secundário
Dani Ajbeszyc, CFO e IRO da Cyrella Commercial Properties, considera que apesar do número crescente de emissões, o mercado de capitais brasileiro, do ponto de vista de dívida, ainda é pouco sofisticado. “Há muitas emissões de debêntures acontecendo, mas não temos um mercado secundário ainda desenvolvido”.
O executivo atribui este fato em grande parte aos anos de taxas de Juros muito elevadas e o retorno vantajoso de outros elementos de remuneração mais cômodos para os investidores, como os títulos públicos. “Para que o cara iria comprar a debênture de uma empresa – tendo um prêmio de risco que às vezes não parecia compensar tanto – se ele poderia comprar um título do Governo e ficar com muito menos risco?”.
Ajbeszyc pondera que esta condição tem se tornado uma inverdade com a queda da taxa de juros e a menor atratividade dos títulos do Governo. “A rentabilidade dos títulos de crédito privado está mais interessante e isso acaba trazendo o desenvolvimento para essa parte do mercado de capitais”.
Acesso regular ao crédito
De acordo com CFO, ter um mercado de acesso regular de dívida é fundamentai para que a companhia, que tem foco na construção e locação de imóveis comerciais. consiga traçar sua estratégia.
“No passado, antes de 2005, não existia dinheiro para o setor de Real State.
Os bancos não davam crédito, não tinha” dinheiro longo” – e os nossos projetos são longos. Você ter disponível um elemento para acessar o crédito a qualquer momento faz diferença”, observa.
Com cinco anos de existência, a companhia já prepara a sua terceira emissão de debêntures para 2013, no valor de R$ 150 milhões e prazo de cinco anos. As fontes de captação mais utilizadas pela empresa são as debêntures o crédito Imobiliário – outra alternativa Interessante para o segmento.
“Estamos começando a olhar também outros tipos de Instrumentos que envolvem o mercado de capitais como as os operações com CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários). Ele tem uma semelhança muito parecida com a debênture – é um título de crédito que você emite no mercado – só que tem a isenção no imposto de renda para o investidor pessoa física, o que permite que você consiga ter uma taxa um pouco melhor”, afirma o executivo.
De acordo com CFOs ouvidos pela IBEF News, a evolução do mercado de debêntures no Brasil precisa superar ainda dois grandes calcanhares de aqueles: a sensibilidade do mercado em épocas de crise – que pode colocar em risco o refinanciamento das dividas – e o alongamento dos prazos, ainda considerados muito curtos em comparação com outros mercados, como o americano, no qual há muita liquidez para títulos de 10 anos e até 30 anos.
A possibilidade de conseguir financiamento em reais. em longo prazo e com taxas bem menores que as praticadas no mercado é o principal atrativo para quem recorre aos bancos de fomento. A principal referência nesta modalidade é o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
A instituição oferece linhas de crédito especiais para empresas que atuam em setores estratégicos para o país, como infraestrutura e energia. É uma opção vantajosa também para empresas que ainda não tem acesso ao mercado de capitais e precisam de dinheiro a um custo mais barato para crescer e expandir suas atividades.
O BNDES possui dois níveis de atuação: direta ou indireta. Na direta, a empresa ou manda rio realiza a operação diretamente com o banco. Já a operação indireta pode ser realizada por meio de instituição financeira credenciada ou por meio do uso do Cartão BNDES.
Recuperação de giro
Especialista na formatação de projetos empresariais para o banco de fomento, Paulo Blaser, fundador da Blaser Consultoria, afirma que muitas empresas estão perdendo a oportunidade de recuperar o seu giro com investimentos que poderiam ser financiados pelo BNDES.
“O que nós chamamos de recuperação de giro são investimentos de médio e longo prazo que poderiam ser financiados pelo banco, mas que estão sendo custeados pelo caixa das empresas. É possível formatar um projeto levando em conta esses investimentos que, em vez de drenar o capital de giro, poderiam estar sendo financiados a cinco ou dez anos de prazo”, explica.
Blaser aconselha que as empresas passem a considerar os gastos de médio prazo da organização que podem vir a ser financiados como projetos, como, por exemplo, a melhoria de produtos e processos.
“Determinados gastos operacionais podem estar formatados em projeto.
A questão é a seleção e a adequação dos gastos com o padrão do BNDES para a formatação do projeto”, observa.
Pré-requisitos
De acordo com o consultor, para ter sucesso na solicitação do financiamento, a empresa precisa ter um plano de negócios e um projeto de investimentos bem estruturado. Regularidade fiscal, boa saúde financeira e balanços lucrativos, se possível auditados, são itens indispensáveis.
Blaser ressalta que ao analisar um projeto, a entidade leva em conta a geração de empregos, a participação de mercado e a definição do projeto. No entanto, a avaliação dos balanços para mensurar o risco de crédito tem um grande peso na análise quantitativa. “A capacidade de pagamento define prazo, taxa de risco, decisão de ter apoio do banco e até onde ele participa no projeto. Isso vale para grandes e médias empresas”, reforça.
Ajuda externa
Dairson Tulmann, ex-diretor financeiro da Confab Indutrial, agora aposentado, lembra dos principais aspectos que o ajudaram a ter sucesso para conseguir o financiamento de R$ 100 milhões no BNDES, com o objetivo de comprar máquinas para a expansão da produção de tubos de aço.
“Se você vai pedir o financiamento para a compra de máquinas, tem que considerar que vai ter mais estoque e que a sua necessidade de capital de giro vai aumentar. O que a empresa pensa que pode sair do seu giro, devidamente colocado no contexto de um projeto, é considerado financiável. Identificar essa necessidade de capital de giro é o segredo do bom projeto”, afirma.
Tullman incentiva os CFOs que não conhecem bem as possibilidades de financiamento a buscar a ajuda externa de consultorias, que podem agilizar a formatação e a entrega dos projetos.
“O executivo financeiro tem um dia a dia muito pesado. Tem que administrar equipe, capital de giro da empresa, os contratos que ele tem que fazer para os bancos … Então saber todas as possibilidades que o BNDES oferece e fazer um projeto é muito difícil “.
Acesso direto
Marcio Almeida é um exemplo de executivo que viabilrzou diversos financiamentos com o BNDES quando esteve à frente de equipes financeiras nas Indústrias farmacêutica e de energia, e que posteriormente, como associado na consultoria Peerstone, ajuda a onentar outros profissionais sobre as captações.
Almeida explica que quase todos os bancos, prmcipalmente os que têm áreas de Corporate, utilizam seus recursos humanos para poder vender as operações de BNDES. Dessa forma, atuam como agentes entre a indústria e a ponte final:
o recurso do banco de fomento.
“Quando você coloca um agente para intermediar, ele vai te cobrar um fee de estruturação dessa operação, e isso é calculado em cima do montante que você toma no BNDES. A operação de qualquer empresa junto ao BNDES é um montante expressivo, então qualquer fee. por menor que seja, 0,3 ou 0,4%, é um bom dinheiro que vai para o intermediário”.
Almeida conta que, quando foi CFO, tanto na indústria farmacêutica quanto na elétrica, optou pelo acesso direto, já que o banco conta com gerências específicas para atender segmentos considerados importantes para o desenvolvimento do país. “Essa facilidade de acesso permite aos CFOs não gastar com esse fee de estruturação”, recomenda.
Bancos regionais
Caso o investimento da empresa tenha foco na região Norte ou Nordeste do país, o financiamento por meio de bancos de fomento regionais são opções tão ou mais interessantes quanto o BN DES.
“Existe o Banco do Nordeste (BNB) e o Banco da Amazônia (Baza), que são outras fontes de financiamento importantes e tão vantajosas em termos de prazo e custo de capital. Dependendo de onde for feito o seu investimento, as taxas podem ser subsidiadas”, destacou o consultor.
As operações de securitização com CRI (Certificado de Recebíveis Imobiliários) são uma boa opção para empresas que desejam captar recursos com dívidas mais alongadas. O apetite dos investidores por esses papéis possibilita fazer operações de cinco até dez anos.
“Dependendo do porte da empresa é possível Ir além de I O anos, prazo que não é tão comum em outros instrumentos” explica João Paulo Pacífico. diretor da Gala Securitrz adora.
Para conseguir fazer uma operação com CRI, é necessário, primeiramente que a empresa tenha um Imóvel ou terreno como garantia. O valor dessa garantia deve representar cerca de 120 a 130% do valor da dívida que a empresa deseja tomar. Para participar da operação é fundamental que a empresa tenha uma boa saúde financeira, seja lucrativa, e, preferencialmente, auditada.
“Falando de forma bem básica, vamos criar uma dívida para a empresa que ela Irá pagar ao longo do tempo e o Imóvel será a garantia”, explicou Pacífico. Normalmente, o Ideal é que a operação financeira fique acima de R$ 25 milhões para ser viável.
As principais vantagens das operações com CRI para cedentes e Investidores é a desmier mediação do crédito pela securitizadora, o que reduz os custos e possibilita uma boa rentabilidade a quem investe, e melhores condições de custo para as empresas.
Equacionando dívidas
As operações com CRI também possibilitam que as companhias possam equacionar várias dividas de curto prazo em uma única dívida de longo prazo, conseguindo se programar melhor.
“Há empresas que tomam muito capital de giro e contraem dívidas caras e curtas, com prazo de 6 meses, I ou 2 anos. Com esse tipo de operação, a empresa toma o dinheiro, paga as dívidas de curto prazo e fica com uma única dívida de longo prazo”, explica o diretor. “Então ela sabe quanto vai ter que pagar por ano e não tem que voltar para o banco todo semestre para renegociar a dívida, correndo risco de não conseguir refinanciamento”.
Tendências
Daniel Doll Lemos, diretor da Socopa Corretora, ligada ao Banco Paulista, afirma que o apetite dos Investidores por CRI ainda é bastante elevado. “A gente vê que ainda tem um mercado consumidor forte para esse tipo de ativo. Dado que os ativos geralmente são vinculados à inflação e tem a insenção fiscal para o Investidor pessoa física, há uma demanda bastante grande”.
Lemos confirma que o tamanho da operação acaba sendo um mibidor: “Como os custos dessas operações são relevantes, não adianta a empresa querer fazer uma operação pequena como R$ 5 milhões ou R$ 10 milhões. Você acaba não viabilizando”.
Mesmo assim, ele afirma que essas operações estão lentamente começando a passar das grandes empresas para as empresas de médio porte. “Ainda não é qualquer empresa que consegue fazer um CRI, primeiro por conta do lastro que tem que ter. Segundo, como são muitas empresas grandes captando, você acaba concorrendo diretamente com elas. No entanto, acredito que a partir de algum momento vai haver a popularização para empresas menores”.
RA
Outro mercado que está surgindo no Brasil é o do CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio). Segundo João Paulo, é um produto ao qual os investidores ainda não estão acostumados, mas que tem grande potencial de crescimento.
“Realmente é um mercado muito novo, mas que eu tenho certeza que daqui a dois, três, quatro anos vai estar bombando. Na minha opinião, é uma tendência irreversível porque ISSO aconteceu com o CRI e o mercado de agronegócio no Brasil é muito maior que o Imobiliário”.
O foco do CRA são empresas do Agronegócio como um todo: produtores, tradings e companhias de papel e celulose. Empresas de pecuária e frigorífico não estão dentro do escopo.
Em janeiro deste ano, a secuntizadora emitiu o primeiro CRA, envolvendo um produtor de cana de açúcar que fornece a matéria-prima para a empresa Odebrecht Agroindustrial, do Grupo Odebretch. A operação, que antecipou a venda do produtor para a usina, teve o valor de R$ 40 milhões com prazo de 4,5 anos. “Dificilmente alguém no Agronegócio hoje, ainda mais o produtor, consegue tomar uma dívida por esse prazo”, completou Pacífico.
“Os FI DC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) podem ser conhecidos também como ‘o último ônibus do crédito'”, conta em tom bem-humorado Thomas Cauchois, CEO da Brazil Plus Investment Management, companhia especializada na gestão de fundos de créditos securitizados diretos para o middle market.
Esses fundos, existentes no Brasil desde 200 I, têm como objetivo dar acesso ao crédito a pequenas e médias empresas que têm poucas opções de funding disponíveis. Segundo Cauchois, existem cerca de 100 FI DCs em atuação no país, com um market cap de R$ 60 bilhões.
Os FIDCs compram recebíveis de pequenas empresas, que tem em média receitas de R$ I milhão por mês. “Essas companhias geralmente têm bons clientes, que podem ser grandes clientes ou então rnurtos. Se o cliente é grande, como uma Whirpool, Ford ou Petrobras, não há muito risco. E se elas tem muitos clientes o risco é pulverizado”, explica o CEO da Brazil Plus.
Ele afirma que este tipo defunding é uma opção atraente para recompor o capital de giro das pequenas e médias, geralmente “espremido” entre a demanda de clientes e fornecedores.
“Os clientes querem pagar depois e os fornecedores querem receber antes.
E se essas empresas crescem muito rápido são mais espremidas ainda porque precisam de dinheiro mais rápido para dar suporte ao negócio”.
De acordo com Cauchois, as companhias de factoring e os FI DCs preenchem o déficit de capital de giro – o chamado midd/e market gap – oferecendo taxas razoáveis para companhias que não têm condições de acessar o financiamento bancário. O prazo médio para conseguir o crédito é de 60 dias.
O relacionamento com uma entidades regulada, o que transmite credibilidade, e a cobrança de taxas menores para as transações são também fatores que atraem as pequenas e médias para os FIDCs. Do ponto de vista do investidor, destaca Cauchors, os FI DCs são entidades auditadas, possuindo um bom nível de transparência e organização. “Além disso, o histórico de 12 anos dessa Indústria é mais estável e melhor, em alguns aspectos, do que os Investimentos em bancos”, completou.
A compra de participações em empresas por fundos de investimento Pnvate Equity, também conhecidos como capital empreendedor ou capital de investimento produtivo, são outra possibilidade que deve estar no radar do CEO e do CFO. Estima-se no mercado que o capital disponível desses fundos tanto para aquisições quanto para investimentos privados é da ordem de US$ 10 bilhões.
Sidney Chameh, sócio fundador da DGF Investimentos, um dos principais fundos atuantes no país, afirma que apesar de a metodologia dos fundos ainda não ser tão difundida no país, o apetite das empresas por esse tipo de recurso para alavancar o crescimento tem crescido.
Ele ressalta, no entanto, que não é um Investimento para qualquer tipo de companhia. “A empresa tem que ter uma cultura preparada para melhorar a governança e para ‘dividir o poder’, caso o investimento feito não seja para a a compra total “obseva Chameh.
Num comparativo com o mundo automobilístico, Chameh aponta que o perfil são empresas bem administradas que “tem uma boa carenagem bom motor, mas eventualmente está faltando dinheiro para uma gasolina mais aditivada (dinheiro).”.
A DGF possui fundos para investir em empresas que faturem de R$ 2 milhões a R$ 200 milhões/ano. A preferência do grupo é por empresas que atuem em nichos. de crescimento acelerado, como TI, logística, saúde, educação, entre outros.
“Nós olhamos muito também o componente de receita recorrente e baixo Capex. De empresas de alto Capex sem receita recorrente gostamos menos”, destaca.
Plano de negócios
Eduardo Farhat, diretor executivo da Darby Overseas, braço do grupo Franklin Templeton para investimentos em Private Equity, afirma que para uma empresa ser elegível ao Investimento, ela deve ser razoavelmente organizada, especialmente do ponto de vista financeiro, tributário e trabalhista.
“É uma empresa que tem que ser, preferencialmente, auditada, e ter sua contabilidade feita de uma maneira correta. As principais variáveis econômicas têm que ser muito fáceis de serem identificadas, não só para atualização futura, mas como também o passado recente”.
Ele destaca também que a companhia precisa ter um plano de negócios no horizonte de pelo menos cinco anos, no qual ela consiga mostrar a finalidade para a que está trazendo o investidor. “Ela precisa provar por que faz sentido ele colocar dinheiro no negócio. Isso vale desde a aquisição até uma capitalização para implementar um plano de negócios”.
Eduardo ressalta que o plano de negócios tem que ser extremamente claro. “Não pode ser uma obra de ficção, tem que ser algo baseado em aspectos factuais. Senão você vai gerar uma expectativa e no processo de diligência, de confirmação dessas informações, essa expectativa vai ser destruída e a possibilidade da transação ir para a frente ficará bem remota”.
Uma vez que a empresa tenha um plano de negócios bem estruturado e justificado, o passo seguinte, segundo Farhat, é encontrar um investidor que esteja alinhado com o perfil do negócio. “Você precisa Identificar um fundo de Investimento que tenha afinidade com o que você vai fazer. Da mesma forma que o fundo vai ser extremamente criterioso na seleção da empresa, a empresa também tem que ser seletiva ao escolher o investidor”.
Se você ainda estiver em dúvida sobre a melhor forma de captação para a sua companhia, uma alternativa é procurar os serviços de um segmento crescente: as boutiques financeiras.
De forma geral, são assessorias financeiras compostas por profissionais que adquiriram experiência em bancos de investimento no Brasil e no exterior e que decidiram montar esse modelo de consultoria com o objetivo de atender nichos de mercado deficientes de soluções e estruturas financeiras mais sofisticadas.
Regis Carvalho, sócio da Life Capital investiments, afirma que pelo fato de as boutiques terem estruturas mais enxutas, negócios e empresas que poderiam ser considerados pequenos para bancos de investimentos são geralmente muito atrativos para essas companhias. “Isso faz com as empresas recebam maior dedicação e atenção de profissionais sêniores e especializados, mesmo em operações menores”.
O modelo de negócio adotado pela boutique não está ligado à pré-venda de produtos ou soluções específicos, nem à representação de bancos e fundos, observa o empresário. “As estruturas financeiras que propomos vêm após analisarmos a situação econômico-financeiras e os objetivos dos nossos clientes. As empresas são o nosso driver, e não o produto”.
De uma forma geral, as soluções que os clientes normalmente mais demandam são volumes e prazos maiores, redução nas taxas de juros e acesso a novos mercados.
O consultor recomenda que ao avaliar as melhores opções disponíveis de captação para a empresa, é indispensável que o CFO analise os seguintes aspectos:
. A estrutura de capital atual e alvo da empresa;
. A situação e projeção econômico-financeira atual e alvo;
. O plano de crescimento, de investimentos e de eventuais aumentos da necessidade de capital de giro futuras;
. O grau dependência a financiadores atuais e eventuais fragilidades da atual estrutura de capital e do leque de financiadores/ investidores em eventos de riscos sisternicos/ crises.
“Essas informações fazem parte do dia a dia da empresa, por ISSO acreditamos que apenas após analisarmos juntos os seus objetivos e as variaveis envolvidas é que podemos desenvolver estruturas financeiras que reAitam essas metas”, concluiu.
Competências do CFO para lidar com o mercado de capitais
Por José Claudio Securado, diretor-presidente da Saint Paul Escola de Negócios e Ricardo Mollo, professor de Finanças do Insper
1. Conhecer a própria empresa e o mercado em que atua
O CFO precisa passar segurança para os investidores, portanto, é fundamental saber diferenciar a sua empresa dos concorrentes. Conhecer a fundo o negócio como um CEO se tornou fundamental. (JCS)
2. Conhecimento de Finanças Corporativas
É papel do CFO entender qual a estrutura de capital que melhor maximiza o valor da companhia, qual a composição de capital próprio e de terceiros que minimiza o seu custo de capital e reduz os riscos. São necessários conhecimentos de risco e retorno e de avaliação de valor de empresas. (RM)
3.Conhecimento dos produtos disponíveis para captação em Mercado de Capitais
Para decidir qual a melhor alternativa que se adequa à necessidade da companhia, o CFO precisa conhecer com detalhes as características dos produtos em termos de custos, restrições, complexidade de execução, tributação, despesas de emissão, exigências da legislação e de controle e necessidade de pré-requisitos. (RM)
4. Ética
O CFO, como todos os executivos, precisa ser ético. O papel de RI obriga o executivo a ser uma voz fundamental entre a companhia e os investidores, em uma complexa relação de confiança. (JCS)
5. Comunicação clara e eficaz
Operações de Mercados de Capitais podem ter forte impacto no valor da ação das companhias abertas, assim, CFO e Diretores de Relações com investidores precisam desenvolver-se em termos de comunicação para apresentar de forma clara e eficaz para o mercado (Financeiro e de Capitais) quais os motivos das captações e qual o seu impacto no valor da companhia e nos riscos que se está correndo. (RM)
6. Pessoas
O CFO é um grande gestor. O CFO deve se cercar de um time com competências complementares para garantir o sucesso dos trabalhos atuais e sua evolução na carreira, geralmente rumo à CEO da companhia. (JCS)
7. Coordenação, integração e controle da execução das transações
Algumas operações de Mercado de Capitais são complexas e longas em sua execução e muitas vezes envolvem diversas pessoas e empresas. Para que a operação seja bem sucedida o CFO que geralmente é quem coordena todo o processo deve buscar uma integração para que as diversas atividades para a execução da operação aconteçam no momento oportuno para o efetivo recebimento dos recursos. (RM)
8. Negociação
Quando se trata de operações de Mercado de Capitais há diversas negociações a fazer, não somente às relacionadas a custos e prazos. Negociam-se também estruturas, clausulas contratuais, garantias, restrições, obrigações acessórias, multas, entre outros fatores. Dependendo do momento da companhia e do mercado, as tratativas podem ser mais difíceis ou mesmo demoradas, o que faz com que o CFO necessite desenvolver competências de negociação, gestão de conflitos e análise de cenários para conseguir captar recursos da forma mais adequada, eficaz e barata para sua companhia. (RM)
Fonte: Revista IBEF News – 01/02/2013