Líder do governo só contesta parte da crítica de Lula a Dilma; para oposição, está decretada a falência do partido Ao comentar ontem as duras críticas do expresidente Lula à presidente Dilma Rousseff, publicadas pelo GLOBO, o líder do governo na Câmara, José Guimarães ( PT- CE), usou uma frase do próprio Lula para afirmar que, no Nordeste, a aprovação do PT entre os eleitores é maior que no resto do país: — O PT no Nordeste segue firme e forte, estamos muito acima do volume morto — disse.
— E, no governo, estamos trabalhando. O país vai se surpreender no ano que vem. Em encontro com religiosos, Lula creditou ao governo Dilma a crise vivida pelo PT e afirmou: — Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. Procurado, o Palácio do Planalto não comentou as críticas de Lula. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Edinho Silva, não respondeu ao GLOBO. E o da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse que não falaria. Na oposição, as palavras de Lula foram interpretadas como uma “decretação da falência” do PT. Para o presidente do DEM, senador José Agripino (RN), Lula reconheceu o que a oposição vem dizendo há seis meses: que Dilma prometeu uma coisa na campanha e fez outra depois. — A fala dele, com a respeitabilidade que ele tem no PT, significa a decretação da falência do partido e do governo. É um atestado de óbito — afirmou Agripino. — Ele qualificou Dilma como elitista, que se aproveita do poder. Quando diz isso, reconhece a falência do projeto do PT e das principais figuras do partido que estão no governo. O estelionato eleitoral é reconhecido. Líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO) disse que Lula tenta se desvincular de Dilma: — Ele negou a cria. Viu que o governo é insustentável, mas sabe que ele pessoalmente não tem sobrevivência. Para o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), a avaliação de Lula não deve ser entendida apenas como um recado ao governo, mas a todos os petistas: — Há no PT uma vontade de que as instâncias partidárias sejam mais propositivas.
O ajuste fiscal é importante, mas, além disso, o que acontece? Para o professor Eurico Figueiredo, da UFF, as críticas de Lula mostram uma postura diferente da que o ex-presidente vinha tomando até então. Em vez de fazer uma defesa do PT e do governo, ele partiu para o ataque: — O PT deve uma reflexão, não de uma pessoa ou duas, mas de um todo. Será que essas declarações do Lula já são consequência de ações que ele tem tomado com outros dirigentes? Precisamos ver se essa fala dele mudará o discurso do partido. Na avaliação de Eurico, ao utilizar a expressão “volume morto” para se dirigir ao governo, Lula está dando mostras de que o PT precisa reagir. Já o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, acredita que as declarações de Lula podem causar mal-estar entre os eleitores do PT, porque explicita o descontentamento do ex-presidente com Dilma.
Fonte: O Globo – 21/06/2015