Com mensalidade na casa dos R$ 3,5 mil, aulas em período integral, nota mínima de 750 pontos no Enem e sem oferecer os programas do governo Fies ou ProUni, o Insper , de São Paulo, é para poucos.
Mas para não perder os bons alunos da base da pirâmide, a instituição tem um programa de bolsas e financiamento inspirado no modelo das universidades americanas, como Harvard e Yale, que recebem doação de ex-alunos, empresários e companhias.
Em 10 anos, o Insper contabiliza R$ 9 milhões em doações e 200 alunos beneficiados. “No ano passado, captamos R$ 2 milhões, sendo que 70% foi doação de pessoafísica, principalmente, empresários”, diz Camila de Souza Queiroz Du Plessis, responsável pelo programa de bolsas do Insper, que é uma instituição sem fins lucrativos.
Neste ano, a meta é levantar R$ 3 milhões em doações. Um dos ex-alunos doadores é o economista Bruno Cardoso que se formou em 2010 e hoje, aos 25 anos, faz parte do time da Ibiúna Investimentos, gestora de Mário Torós e Rodrigo Azevedo, ex-diretores do Banco Central.
Vale destacar que Cardoso já era um aluno acima da média no ensino fundamental, cursado todo em escola pública. O jovem foi um dos aprovados no concorrido colégio da Embraer, em São José dos Campos, que oferece 200 vagas no ensino médio disputadas por cerca de 7 mil candidatos. Filho de metalúrgico e de uma auxiliar de odontologia, Cardoso definitivamente não tinha dificuldades pedagógicas, mas a sua condição financeira não permitia pagar um curso de R$ 3,5 mil. A alternativa mais viável seria uma universidade pública, mas não era esse seu objetivo. “No ensino médio, decidi seguir a carreira de economia e queria fazer no Insper pela estrutura acadêmica do curso. Prestei o vestibular já sabendo das bolsas. Passei por uma profunda transformação social após ter feito um bom curso e acho justo retribuir”, contou Cardoso, que hoje é “padrinho” de um estudante carente. Atualmente, há 167 alunos estudando com a bolsa ou financiamento, o que representa cerca de 10% do total de matriculados nos cursos de economia, administração e engenharia do Insper. Além da mensalidade, o programa pode subsidiar alimentação, transporte e até moradia. “Hoje, há 11 alunos residindo em flats alugados pela instituição. Eles moravam muito longe e chegavam atrasados na aula e uma das exigências é rendimento acadêmico superior ao dos demais alunos”, explica Camila. Um dos destaques do programa de bolsas da instituição é o Perfin Educar, fundo de investimento criado pelos ex-alunos Hugh Anthony Harley e José Roberto Moraes que, não foram bolsistas, mas doam desde 2012 os recursos das taxas de performance e administração do fundo.
Em 2014, mais de dois terços dos R$ 260 mil recebidos pelo Insper saíram do Perfin Educar. O programa do Insper tem dois tipos de benefício. Um deles é voltado para quem tem renda familiar per capita de até 1,5 salário mínimo e dá direito a uma bolsa integral (sem restituição). O outro modelo é voltado aqueles com renda de até oito salários mínimos e cobre de 30% a 80% da mensalidade. Nesse financiamento, não há incidência de juros, há uma carência 18 meses para começar a pagar e a amortização é feita em quatro a oito anos. Formado há menos de dois anos, o economista Gustavo Cavichioli está amortizando o financiamento de 40% que conseguiu e em paralelo contribui para o fundo do Insper. “Hoje, já pago as minhas contas graças a esse programa”, diz Cavichioli, que trabalha na Linde, empresa alemã de gás industrial, e antes foi da Unilever.
Fonte: Valor Econômico – 10/04/2015