Redução de clientes pode levar o serviço de streaming a acelerar a cobrança de taxa de clientes que compartilham senha de acesso — a estimativa é de 100 milhões de famílias no mundo nessa situação
A americana Netflix registrou sua primeira perda de assinantes em mais de uma década, de acordo com o balanço trimestral divulgado no dia 19 de abril. A notícia levantou preocupações de que o serviço de streaming de vídeo pode já ter alcançado o pico do seu número de assinantes e provocou uma queda de 25% no valor das ações da companhia.
De janeiro a março deste ano, a Netflix teve uma redução líquida (adição de novos clientes menos os que cancelaram o serviço) de 200.000 assinantes. O resultado contrariou as previsões da empresa, que projetava um crescimento de 2,5 milhões de assinantes no período.

Diversos fatores explicam a frustração das expectativas. Um dos motivos foi a decisão da Netflix — a exemplo de muitas outras multinacionais — de paralisar as operações na Rússia em protesto contra a invasão da Ucrânia. A medida resultou em uma perda de 700.000 assinantes.
A inflação também não está ajudando a Netflix. A disparada nos preços de alimentos e combustíveis em vários países, em consequência da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, está levando muitas famílias a cortar despesas consideradas supérfluas. Somente nos Estados Unidos e no Canadá, a Netflix perdeu 600.000 assinantes desde que aumentou o valor de seus serviços, em janeiro.
O relaxamento das restrições da pandemia da covid-19 é outro fator por trás da redução do número de assinantes. Muitas pessoas que antes estavam confinadas em casa, sem opções de entretenimento, voltaram a comer fora, assistir a shows ou frequentar as salas de cinema.
Por fim, há também uma disputa cada vez mais acirrada no mercado de streaming de vídeos. A maior ameaça à Netflix é a intensa concorrência de empresas como Amazon, Apple e Disney, que estão investindo pesado para oferecer conteúdo próprio de qualidade.
Em seu comunicado aos acionistas divulgado com o balanço trimestral, a Netflix disse que pode perder mais 2 milhões de assinantes até julho. A empresa encerrou o mês de março com quase 222 milhões de assinantes no mundo (16 milhões no Brasil). Com a diminuição de assinantes, o lucro da Netflix no primeiro trimestre fechou em 1,6 bilhão de dólares, queda de 6% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em 2021, a Netflix ganhou 18,2 milhões de novos assinantes, o crescimento anual mais fraco desde 2016. Isso contrastou com um aumento de 36 milhões de assinantes em 2020, durante o período mais crítico da pandemia.
A perda de assinantes e de receita pode obrigar a Netflix a adotar medidas que até então vinha protelando, como a introdução de uma versão de seu serviço a preços mais baixos – e bancada por anúncios. Outra medida, que já começou a ser testada em alguns mercados, é o bloqueio do compartilhamento de contas. O gigante do streaming estima que mais de 100 milhões de famílias assistem ao seus vídeos gratuitamente usando senhas compartilhadas.
Em março, a Netflix iniciou testes de cobrança de uma taxa adicional de assinantes que compartilham a senha em três países: Chile, Costa Rica e Peru. A empresa não mencionou quando essa medida será implantada no Brasil. Não é uma decisão fácil de ser tomada. Segundo analistas, a cobrança de uma taxa extra — ainda que moralmente justificada — pode sair pela culatra num momento em que os consumidores estão cortando despesas para atravessar o período de alta generalizada de preços de itens de primeira necessidade.