10/10/2012
01/09/2012 – Você S/A
HÁ MAIS PROFISSIONAIS SAINDO DAS EMPRESAS PARA ABRIR O PRÓPRIO NESÓCIO. O NÚMERO DE MULHERES EMPREENDENDO JÁ É OUASE ISUAL AO DE HOMENS. SEIS EM CADA DEZ JOVENS ESTÃO ESTUDANDO PARA CRIAR O PRÓPRIO EMPRESO. SAIBA COM SURFAR ESSA ONDA
Faça um teste com seus colegas de trabalho. Pergunte a eles se alguém tem uma ideia de negócio que gostaria de colocar de pé. Se seus interlocutores forem jovens, é bem provável que a maioria deles tenha um projeto na ponta da língua. De acordo com uma pesquisa divulgada no mês passado pela consultoria DMRH/Cia de Talentos, de São Paulo, seis de cada dez jovens sonham em ter o próprio negócio. O levantamento considera estudantes dos dois últimos anos da universidade e profissionais com até dois anos de formado. Se entre os seus interlocutores houver mais mulheres, a resposta delas deve reforçar a fala dos jovens. As brasileiras já são as mais empreendedoras do mundo, segundo um estudo realizado em 2010 pela Global Entre preneurship Monitor (GEM) e pelo Sebrae. Esses dados são indicadores de uma mudança que está em curso no mercado de trabalho. Até uma década atrás, ser empreendedor no Brasil era o destino de quem não tinha opção de carreira. A partir de 2003, o país começou se firmar como um lugar onde se empreende por oportunidade. Ou seja, onde a motivação para abrir uma empresa é ter a sacada de um bom negócio.
Hoje, há no Brasil dois empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade, é o que mostra a pesquisa do GEM-Sebrae. “A partir da metade dos anos 90, com o Plano Real e o fim da hiperinflação, o país começou a criar um ambiente econômico mais propício para o aumento do empreendedorismo por oportunidade”, diz Bruno Caetano, diretor superintendente do Sebrae de São Paulo. Esse tipo de empreendedorismo é mais saudável para a economia porque está associado a uma chance de sobrevivência maior, já que geralmente é feito com mais planejamento. O Brasil tem 6 milhões de micro e pequenas empresas e uma taxa de 27% de novos negócios que não chegam aos dois anos de vida. “Há dez anos esse número era de 35%”, diz Caetano.
Além da melhora na macroeconomia, outro fator importante foi o fato de terem surgido em diversas escolas de negócios e cursos universitários disciplinas que ensinam empreendedorismo. Como efeito, o perfil do empresário rejuvenesceu. Atualmente, 53% dos novos donos têm entre 18 e 34 anos. Essa geração investe em atividades variadas, a maior parte no comércio varejista, conforme a pesquisa do GEM-Sebrae. As três iniciativas que mais aparecem no estudo são: 1) comércio de produtos farmacêuticos, artigos médicos e ortopédicos, de perfumaria e cosméticos; 2) vestuário e tratamentos de beleza; e 3) comércio eletrônico. A paulista Marina Gheler retrata essa realidade. Em 2005, aos 21 anos, ela recusou um convite para mudar-se para Santa Catarina, onde receberia um salário de 12 000 reais como gerente de uma multinacional de produtos odontológicos. Em vez disso, abriu uma loja de acessórios femininos que leva seu nome. Fez do trabalho de conclusão de curso que preparava para a faculdade de propaganda e marketing o seu plano de negócios. Vendeu o carro popular que tinha para os investimentos iniciais. Hoje tem quatro lojas para a venda de suas semi joias e mais quatro a caminho, em regime de franquia. “Acreditei que a empresa renderia mais dinheiro do que o salário”, diz Marina.
Uma parcela dos novos empreendedores que estão surgindo no Brasil é formada por gente que trocou o conforto e a suposta segurança da carteira assinada pelo sonho de ter o próprio negócio. Alguns nem chegaram até aí: resolveram sair direto da faculdade para a concretização de um projeto profissional próprio. É o que mostra o levantamento feito pela consultoria de recolocação LHHIDBM, que registrou que, entre janeiro e julho deste ano, 20% dos profissionais que a procuraram em momentos de transição profissional resolveram pendurar a carteira assinada para empreender. “Hoje o empreendedor está mais maduro e, quando decide agir, o faz porque identificou uma boa oportunidade de negócio ou desenhou esse plano para sua carreira”, diz José Augusto Figueiredo, vice-presidente de operações da LHHIDBM para o Brasil e a América Latina. “Mas ele sabe que não será dono de seu nariz porque seu ‘chefe’ será seu cliente.”
Na tentativa de destravar dúvidas que ainda pairam na mente de quem quer empreender, nesta edição a VOCÊ S/A responde a questões como: é preciso ter um plano de negócio? A experiência anterior faz diferença? Como vender a ideia ao investidor-anjo? Qual o passo a passo a percorrer? Como não repetir erros com base em histórias de quem já empreendeu?
QUANDO TROCAR O SALARIO PELO PRO-LABORE
PARA OS JOVENS, NÃO É UM DILEMA. PARA OS MAIS VELHOS, É A DECISÃO MAIS DIFÍCIL
“Para abrir um negócio, é preciso coragem. Se a pessoa está empregada, uma dose extra de ousadia”, diz Marcelo Marinho Aidar, coordenador adjunto do centro de empreendedorismo da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. Deixar o emprego para virar empreendedor significa perder, imediatamente, o salário, os benefícios, as férias pagas e os depósitos feitos pela empresa no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A decisão é mais difícil quanto maiores o cargo e o tempo de registro em carteira. Ainda assim, mais profissionais experientes têm voluntariamente saído das empresas, segundo os dados dos quatro últimos anos do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho.
Parte dessa turma vira dono. A consultoria de recolocação profissional LHHIDBM, por exemplo, registrou que, entre janeiro e julho deste ano, 20% dos profissionais que a procuraram em momentos de transição de carreira resolveram abandonar a carteira assinada para criar uma empresa. De acordo com os 20 empreendedores (todos ex-empregados) ouvidos pela reportagem da VOCÊ S/A, eles deixaram o emprego porque perceberam uma oportunidade de negócio, têm ambição de construir algo maior do que o que estavam fazendo no antigo trabalho e não encontraram espaço na empresa para novas ideias. Antes de pedir demissão, é fundamental colocar no papel a ideia – ter um plano de negócios. Outras providências são: pesquisar o mercado, conversar com empresários bem-sucedidos e ter uma reserva financeira.
“O empreendedor deve baixar seu padrão de vida no começo. O pró-labore (sua remuneração) não deve passar de 5 000 reais por mês”, diz Romero Rodrigues, de 36 anos, presidente do site Buscapé e investidor-anjo, com tem aportes de 50 000 reais a 200 000 reais em oito companhias.
PLANO DE NEGÓCIO, PRECISA?
SIM, MAS TENHA EM MENTE QUE ELE NÃO DEVE SER UMA CAMISA DE FORÇA
Para quem quer buscar financiamento para sua ideia, ter um plano de negócio bem detalhado é muito importante. “Não conheço nenhum investidor que entraria em um novo projeto sem antes ler o plano de negócio. Seria como pagar caro por uma viagem de turismo sem conversar com o vendedor de uma agência de viagens”, diz Luiz Mesquita, do Insper, faculdade de economia e administração de São Paulo. “O turista vai querer saber tudo sobre a segurança do navio do cruzeiro, se esse for o pacote escolhido, os pontos de parada, as refeições. Tudo deve estar explícito.” A partir do início do funcionamento da empresa, o plano precisa ser constantemente revisto, para se adequar à realidade encontrada. “O empreendedor não deve ter um plano engessado e ser, por exemplo, obrigado a contratar o número de pessoas que imaginava necessário”, diz Marcelo Salim, responsável pelo Centro de Empreendedorismo do Ibmec, escola de negócios no Rio de Janeiro.
COMPETÊNCIAS DISTINTAS
O ENGENHEIRO CARLOS SOUZA PEDIU DEMISSÃO PARA BATER À PORTA DE INVESTIDORES, QUE SE NEGARAM A COLOCAR DINHEIRO EM SUA IDE IA. ELE CRIOU A EMPRESA COM O APOIO DE AMIGOS
Formado em engenharia aeronáutica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) , o capixaba Carlos Souza, de 36 anos, trabalhou por oito anos como gerente sênior de marketing na P&G, onde era responsável por grandes marcas, como Gillette, Pampers, Ace, entre outras. Apesar da carreira promissora, Carlos sempre teve a ambição de ser empreendedor. Em 2011, começou a colocar o sonho em prática. Pediu demissão em fevereiro e deu início a um período de pesquisas nos Estados Unidos para identificar uma oportunidade. “Eu não sabia exatamente o que ia fazer. Por isso, pesquisei. Li muito, conheci diferentes modelos de negócios, conversei com vários empreendedores, até encontrar algo que me interessasse.” Em setembro do mesmo ano, quando voltou ao Brasil, foi procurado pela P&G para voltar ao trabalho. Carlos recusou a oferta, pois já havia definido que iria investir em um negócio de educação a distância.
Assim nasceu o Portal Veduca, um site que hoje oferece gratuitamente 4 800 vídeo aulas de 11 universidades renomadas dos Estados Unidos e da Austrália. A receita da empresa vem da publicidade veiculada no site, segundo Carlos. O Veduca foi fundado por ele e três sócios – André Tachian, Eduardo Zancul e Marcelo Mejlachowicz -, que juntos investiram 150 000 reais no projeto. O site foi lançado oficialmente em março deste ano e recentemente recebeu aporte financeiro de um fundo de investimento estrangeiro. Carlos não divulga o valor nem qual foi o fundo. Desde então, o site já contabiliza meio milhão de visitantes e 3 milhões de page views. “Acho importante os quatro sócios terem características bem complementares. Eu tenho a visão do marketing. O André é um gênio da informática. O Eduardo tem uma carreira acadêmica forte e é professor titular na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
E o Marcelo tem grande experiência em finanças”, diz Carlos. O engenheiro conta que ele e os sócios bateram à porta de alguns investidores antes de decidir utilizar o capital próprio, mas receberam “não”. “Hoje vejo que o melhor é colocar o projeto em funcionamento e começar a gerar resultados antes de procurar um investidor. Depois que começamos, foi mais fácil conseguir a grana”, diz Carlos.
APRESENTO MINHA IDÉIA?
CLARO QUE SIM, SE VOCÊ TEME SER COPIADO POR QUALQUER PESSOA, ENTÃO JÁ TEM UM PROBLEMA PARA RESOLVER ANTES DE COMEÇAR O NEGÓCIO
“Tenho uma ideia de um novo negócio sensacional”, diz o aspirante a empreendedor ao potencial investidor. “É mesmo? Então me conte”, responde o investidor. “Não, não vou contar porque você pode roubar minha ideia”, diz o empreendedor. O diálogo que você acaba de ler não é uma piada e já foi travado algumas vezes pelo presidente do site de comparação de preços Buscapé, Romero Rodrigues – que também é um investidor-anjo -, com pessoas que o procuram em busca de recursos para viabilizar seus negócios. Romero dá a dica: um dos segredos de um bom negócio não é guardar sigilo sobre ele, mas pensar em quais serão os diferenciais que o tornarão difícil de ser copiado pelos concorrentes. A ideia de um site de comparação de preços como o Buscapé, por exemplo, pode parecer algo simples de ser reproduzido. “Soube de gente que chegava para redes de varejo e dizia: ‘Estou abrindo um site como o Buscapé, você pode me mandar os arquivos de preços dos produtos, como manda para ele?’. E os varejistas respondiam: ‘Mas a gente não manda nada, eles é que fazem a captura dos preços’. Só então as pessoas percebiam que era a nossa ferramenta tecnológica que fazia funcionar o negócio e que ele não era fácil de copiar”, diz Romero, que aconselha a exibição da ideia ou do plano de negócios sem restrição.
ELAS PLANEJAM MELHOR
AS BRASILEIRAS ESTÃO ENTRE AS MAIS EMPREENDEDORAS DO MUNDO, REPRESENTAM 49% DOS NEGÓCIOS NO BRASIL E SUAS IDEIAS SÃO MAIS BEM-SUCEDIDAS DO QUE AS DELES
A pesar de o número de empresárias no Brasil ser um pouco inferior ao de homens, elas estão entre as de maior iniciativa do mundo, segundo uma pesquisa realizada pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 2010. Elas representam 49% dos negócios brasileiros, número que coloca o país no quarto lugar do ranking de mulheres empreendedoras entre as 54 nações pesquisadas. O estudo também mostrou que as brasileiras estão trabalhando de modo mais planejado e consistente: do total de empreendedores no país por oportunidade, 53% são mulheres e 47%, homens.
Segundo a economista Gina Paladino, que acompanhou o estudo do GEM, entre as principais características femininas está um maior nível de preparo: elas planejam melhor e procuram compreender mais o mercado em que atuam. Quanto às firmas criadas pelas mulheres, a taxa de sobrevivência é maior. São negócios menores e tendem a estar no setor de serviços, como aponta levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP) para a pesquisa do GEM. As mulheres preferem atividades ligadas ao comércio varejista e à alimentação.
CONQUISTE UM INVESTIDOR
O QUE FAZER PARA TER UM PATROCINADOR, SEGUNDO LUIZ MESQUITA, DO INSPER, E CÁSSIO SPINA, DA ANJOS DO BRASIL, GRUPO DE 140 PESSOAS QUE INVESTEM DE 50 000 A 500 000 REAIS EM EMPRESAS NASCENTES
1 Investidores-anjo somente se interessam por negócios de crescimento rápido, conhecidos como “gazelas”. Por investimento rápido, entenda-se as novas empresas com potencial de crescimento de 20% a 30% ao ano. Se o seu plano não contempla isso, esqueça.
2 Tenha consciência de que, como investidor, o anjo se torna também dono de uma pequena parcela do empreendimento. Assim, ele pode interferir nas decisões da sua empresa. Não pense que isso é ruim: o investidor pode colaborar muito para o desenvolvimento do negócio, já que geralmente são empresários bem-sucedidos e experientes.
3 Para ser atrativo para um investidor anjo, o projeto deve provar que atenderá a um nicho ou segmento de mercado que ainda não é explorado pelas empresas existentes. Deve ainda ter um modelo baseado em recursos e capacidades difíceis de imitar. O empresário precisa apresentar em detalhes o que o investidor ganhará com o negócio e como será o retorno financeiro.
4 Investidores-anjo costumam avaliar se o profissional está comprometido de corpo e alma com seu projeto, se tem conhecimento técnico para colocá-lo em andamento, se está cercado por bons parceiros e se tem uma rede de contatos diversificada para o desenvolvimento do projeto.
5 A melhor forma de avaliar as qualificações e a dedicação do empreendedor é pelo o que ele já realizou. Seu histórico profissional será levado em consideração. E, aqui, atenção a um ponto: o que importa é se você demonstra o que aprendeu com seus erros.
G Outro aspecto importante é que o . investidor espera que já exista o time mínimo necessário para tocar o negócio e que essa equipe esteja totalmente comprometida. É muito difícil um investidor apostar em um empreendedor que esteja sozinho, pois é raro que alguém reúna todas as competências técnicas, operacionais e comerciais.
7 “Boa aparência” não é o que mais conta na hora de convencer o investidor. Ele é mais pragmático do que isso.
8 Quando for sentar à mesa de negociação, esteja munido de um plano bem estruturado. Prepare seu elevatorpitch, um discurso breve, de 2 a 3 minutos (o termo refere-se ao tempo que se leva para explicar um assunto numa viagem de elevador), que fale do negócio de forma clara e sucinta.
9 Para saber se você quer um investidor-anjo ao seu lado, pondere se há afinidade na forma de pensar e na visão do negócio. E se há complementaridade para somar expertise às suas ideias.
RELAXE, VOCÊ VAI ERRAR MUITO
COMEÇAR UM EMPREENDIMENTO EM SUA ÁREA DE CONHECIMENTO É MAIS CONFORTÁVEL E ACELERA O PERÍODO DE APRENDIZAGEM, MAS O ERRO É INEVITÁVEL
Quem nunca dirigiu tem dificuldade em achar o tempo certo de soltar a embreagem e acelerar. Por isso, o aspirante a motorista dirige aos trancos. Com o empreendedor de primeira viagem não é diferente. Leva um tempo até estar confortável com a gestão do novo negócio. “Ser empreendedor é viver na tentativa e no erro. Não tem ninguém para nos avisar qual caminho percorrer”, diz Fabio Mazzon Sacheto, de 37 anos. O administrador paulista abandonou a carreira corporativa em 2002, quando era gerente de vendas da Avaya, multi nacional de telecomunicações, para tocar a empresa de cosméticos Florus, aberta por ele e a mulher em 1999. Sua maior dificuldade foi com a gestão financeira – gerenciar o pagamento de fornecedores, as datas de recebimento e a entrada de dinheiro no caixa – enquanto entendia do setor de beleza. O obstáculo foi superado com a ajuda de consultores e colegas especialistas na área. Hoje, a Florus atende mais de 70 clientes, entre eles a camisaria Dudalina e o hotel Emiliano, de São Paulo. A experiência de Fábio diz muito sobre uma das características mais importantes de um empreendedor: a resiliência. “Nesse universo, errar não é o fim do mundo e ter calma e obstinação para mudar de rumo é essencial”, diz Marcelo Salim, responsável pelo Centro de Empreendedorismo do Ibmec, do Rio de Janeiro.
ONDE BUSCA AJUDA
AS 384 INCUBADORAS BRASILEIRAS ASSESSORAM OS NOVOS EMPREENDEDORES AO ORGANIZAR A GESTÃO, MELHORAR O PLANEJAMENTO FINANCEIRO E PREPARAR O EMPREENDIMENTO PARA O VOO SOLO
Se você já fez o plano de negócios, tem parte dos recursos para iniciar um negócio, mas falta coragem para seguir adiante, uma saída é procurar uma incubadora. Existem hoje no Brasil 384 delas. Para ter o projeto aceito é preciso passar por uma seleção que considera, principalmente, a viabilidade do negócio e a competência do empreendedor. Entrar numa incubadora significa melhorar a taxa de sucesso do negócio. Isso porque durante dois ou três anos o empreendedor aprende a usar ferramentas de marketing, elaborar patentes de produtos, redigir contratos jurídicos, selecionar e reter talentos e atrair investimentos. Os índices de sobrevivência das empresas incubadas mostram que a experiência vale a pena. O Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), que funciona na Universidade de São Paulo, já formou 106 empresas desde sua fundação, em 1998. Três anos após a graduação, 90% delas continuaram no mercado. Com cinco anos de estrada, 75% permaneceram abertas – índice quatro vezes maior do que o das não incubadas. No Instituto Gênesis, da PUC do Rio de Janeiro, os números são semelhantes: 90% dos 58 novos negócios que passaram por lá desde 1997 estão no mercado até hoje. O foco principal das incubadoras são as empresas de tecnologia: 40% delas se dedicam a esse perfil. “Os empreendimentos de tecnologia dão retorno mais rápido”, diz Priscila Perillier O’Reilly de Araujo Castro, gerente executiva do Gênesis.
O engenheiro de automação catarinense João Bernartt, de 32 anos, conseguiu colocar sua empresa, a Chaordic, de pé depois de passar dois anos na incubadora Celta, fundada em 1986, em Florianópolis. Até 2006, João trabalhava como coordenador de pesquisa e desenvolvimento na Fundação Certi, que cria soluções de tecnologia para a iniciativa privada e para o governo. Ele já pensava em abrir o próprio negócio, mas não tinha um projeto. A oportunidade veio com o concurso Netftix Prize, que daria 1 milhão de dólares para quem conseguisse um sistema de recomendação de filmes online 10% mais preciso que o da empresa. João e um grupo de colegas se inscreveram e alcançaram 6% de melhoria e o segundo melhor tempo entre as 42 000 equipes participantes. “Foi quando decidimos transformar os nossos algoritmos num produto”, diz. Eles não ganharam a competição, mas montaram o negócio. João levantou 1 milhão de reais por meio de instituições como Finep, CNPq e Sebrae. Com o dinheiro e o plano de negócios em mãos, ele e o sócio foram atrás da incubadora Celta. Hoje a Chaordic tem 60 colaboradores e, em dois meses, deve mudar para uma nova sede, com 900 metros quadrados.