Evento promovido pelo Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo promove debate sobre dados científicos, cobertura da mídia sobre as mudanças climáticas e impactos na economia e na sociedade
A cobertura de temas relacionados às mudanças climáticas é um enorme desafio para o jornalismo em todo o mundo. O assunto ganha ainda mais força pela realização da Cúpula de Ação sobre o Clima pela ONU neste mês de setembro. Cerca de 170 veículos de mídia dos EUA e outros países, em uma iniciativa capitaneada pela Universidade de Columbia, se comprometeram a somar esforços com governos, empresas e sociedade civil para aumentar a consciência pública sobre a necessidade de ações para mitigar o impacto da mudança climática.
Com base nesse cenário, o Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper promoveu, no dia 6 de setembro, uma discussão sobre o assunto com a participação de Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), Ana Paula Freire, do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares / Comissão Nacional de Energia Nuclear de São Paulo (IPEN/CNEN-SP) e Priscila Borin Claro, professora do Insper, coordenadora do Núcleo de Estudos em Meio Ambiente e Centros Urbanos e co-presidente do PRME/ONU Brazil Chapter.
“Cada vez mais a comunidade científica reconhece a necessidade de abordar e propor ações sobre o tema das mudanças climáticas. Nós queremos discutir como a mídia pode unir forças com a ciência nesse esforço”, disse Pedro Burgos, coordenador do Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper.
A falta de base científica dos argumentos negacionistas das mudanças climáticas, o crescimento constante da emissão de gases de efeito estufa e a necessidade de reduzir a queima de combustíveis fósseis, responsáveis por quase 90% das emissões, foram temas ressaltados por Paulo Artaxo. “A maior parte das declarações na mídia por quem nega as mudanças climáticas é feita com base na crença de que elas não existem. A ciência não trabalha dessa forma, e sim com métodos muito claros”, afirmou Paulo.
Em sua tese de doutorado, Ana Paula Freire avaliou a cobertura sobre o 4º relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e observou um movimento interpretativo da imprensa sem precedentes. “O relatório dizia com 90% de segurança que, de forma inequívoca, o aquecimento global seria devido a ações humanas. A nossa imprensa tratou o assunto de forma catastrofista, sombria e apocalíptica”.
O lançamento do 5º relatório, em 2014, produzido com ainda mais acurácia, reafirmou conclusões do relatório anterior, mas teve uma cobertura muito menor. “O jornalismo perdeu a oportunidade de produzir uma cobertura equilibrada e interpretativa sobre o assunto. O comprometimento dos veículos com o tema ainda precisa melhorar muito. ”
A professora do Insper, Priscila Claro, abordou os impactos das mudanças climáticas na economia, com destaque para os efeitos em setores no Brasil e no exterior que dependem de recursos naturais e do risco de perdas de mais de 200 bilhões de reais em zonas costeiras; na saúde, com o aumento de doenças respiratórias e cardíacas que geram aumentos de gastos públicos e privados; na biodiversidade; e em aspectos sociais, como uma maior migração do campo para a cidade. “Esse cenário é preocupante, mas traz oportunidades. Não podemos só falar do clima pelo clima. É necessário reduzir a pobreza e melhorar o bem-estar das pessoas; os países mais pobres são os que mais sofrem com esse quadro. ”
O encontro foi finalizado com um bate-papo mediado pelo professor do Programa Avançado de Comunicação e Jornalismo do Insper, Carlos Eduardo Lins da Silva. “Minha vinculação com a causa ambiental é muito antiga. Fui o fundador e primeiro editor do primeiro jornal especializado em ecologia no Brasil, chamado Raízes, em 1977. É um grande prazer receber pessoas tão importantes nessa área para o debate. ”