Os módulos internacionais, com aulas no exterior, estão cada vez mais presentes nos cursos de pós-graduação. Antes voltados apenas para os Estados Unidos e Europa, agora direcionam-se a escolas de negócios na Índia e China. Segundo as instituições de ensino ouvidas pelo Valor, os programas estão ficando mais curtos, para atrair executivos com pouco tempo livre na agenda, e focados em temas específicos, como tributação ou mídias sociais.
A temporada fora do país, que pode variar de sete dias a cinco semanas, inclui aulas em universidades, seminários, visitas a empresas e passeios culturais. Além da complementação da formação acadêmica, a experiência abre oportunidades de networking global e de conhecimento de novos mercados.
Tiago Spritzer, CIO da IBM para a América Latina, fez um MBA executivo em São Paulo (SP), com um módulo internacional na Kellogg School of Management, nos Estados Unidos. Concluída em dezembro de 2013, a experiência no exterior durou seis dias. “Aprofundei conhecimentos em inovação, mídias sociais e seus impactos no comportamento do consumidor”, afirma. “As dinâmicas em grupo, com diretores de empresas de outros países, também permitem insights estratégicos sobre mercados e estilos de liderança diferentes. Até hoje, utilizo essas referências nas minhas reuniões de time.”
Na época do curso no exterior, Spritzer havia acabado de assumir a cadeira de CIO da IBM, onde gerencia equipes na América Latina, Índia e China. “Reforcei comportamentos de liderança que inspiram o engajamento dos funcionários, a criatividade e a colaboração”, lembra. Para ele, dificilmente poderia alcançar os mesmos objetivos somente com cursos on-line. “A imersão em um campus com estudantes de outros países e as discussões em sala de aula deram o retorno do investimento.”
Para Paula Matos Marques Simões, coordenadora de programas MBA da Fundação Dom Cabral, os alunos que optam por módulos no exterior querem experiências em uma escola internacional para conhecer novas realidades de negócios. Em 2013, a instituição, que tem parceria com a Kellogg há dez anos, firmou um acordo com a Cheung Kong Graduate School of Business, da China. “A proposta é compreender como a globalização das companhias chinesas afeta a economia mundial”, diz. O curso dura uma semana, com visitas a empresas e programação cultural.
Na Fundação Getúlio Vargas (FGV), todos os alunos matriculados em MBAs presenciais podem cursar um módulo de curta duração em instituições internacionais parceiras. O programa OneMBA, por exemplo, contempla quatro viagens, de uma semana cada, e faz parte de um consórcio com escolas de negócios no Brasil, China, Estados Unidos, Holanda e México. É oferecido desde 2002, segundo Sílvia Sampaio, program director da instituição. “Os alunos procuram uma formação acadêmica enriquecida com trocas de experiências e networking internacional.”
No ano passado, a Escola Brasileira de Administração Pública da GV (Ebap/FGV) formou a primeira turma do Corporate International Masters (CIM), programa de mestrado profissional com aulas nos Estados Unidos, Espanha e China. “Proporcionamos um conhecimento do mercado latino-americano e suas relações econômicas com os Estados Unidos, Europa e Ásia”, explica Marco Túlio Zanini, professor e program director do CIM no Brasil. “Também ajuda interessados a expandir atividades internacionais.”
No Insper, há módulos nos Estados Unidos e Portugal. Na Universidade da Virginia, o programa se baseia na discussão das redes sociais e suas implicações no meio corporativo, enquanto em Lisboa, as turmas resolvem problemas propostos por empresas participantes. “Cada vez mais, as etapas no exterior oferecem uma abordagem ligada a projetos e atividades em campo”, avalia Sílvio Laban, coordenador dos programas de MBA do Insper.
Para Carlos Alberto Pereira, diretor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), o período de aulas em outros países está ficando mais curto para conciliar compromissos pessoais e profissionais dos alunos, além de reduzir o valor do investimento, tornando-o mais acessível. “O conteúdo também ganha mais foco e trata de temas específicos, ao invés de assuntos gerais”, diz.
Este ano, a escola criou um módulo de tributação internacional como uma extensão do seu MBA de gestão tributária, com aulas na Miami University, nos Estados Unidos. A instituição também tem programas na Espanha e em Portugal. “Possuir experiência internacional é um diferencial no mercado e, muitas vezes, um fator decisivo na hora de competir por uma vaga ou conquistar novos clientes.”
Com parcerias nos Estados Unidos, Índia e Espanha, a BBS Business School acaba de firmar um contrato com o Instituto Politécnico de Setúbal, em Portugal. “A tendência é realizar mais convênios com escolas da Ásia porque a região se tornou muito importante para o Brasil”, diz o sócio fundador John Schulz. “Temos um acordo com a Índia e já notamos que a demanda de alunos para esse país vai crescer.”
Fonte: Valor Econômico – SP – 18/06/2014