22/08/2014
Líder na corrida ao governo de SP, tucano deixa fama de “chuchu” para trás construindo alianças e driblando adversários 2006 não foi um bom ano para o tucano Geraldo Alckmin.
Derrotado por Lula na eleição presidencial – inclusive tendo menos votos no segundo turno do que no primeiro – ele saiu da disputa menor do que entrou. Dois anos depois, o paulista de Pindamonhangaba sofreu outra derrota difícil de engolir. Disputando a prefeitura de São Paulo em 2008, Alckmin não conseguiu chegar nem ao turno final. As seguidas derrotas se encaixaram perfeitamente com o apelido de “picolé de chuchu” que Alckmin conquistou ao longo de sua carreira de mais de quarenta anos. Mas curiosamente, tanto os tropeços eleitorais quanto a fama de político com déficit de carisma não impediram o tucano de virar o jogo ao seu favor a partir de 2011, quando voltou a ser governador de São Paulo e começou uma trajetória que o tornou uma liderança forte e influente no cenário eleitoral brasileiro.
Para mudar o jogo, Alckmin mostrou que a comparação com o legume insosso pode valer para o seu carisma, mas não para a sua capacidade de articulação política, onde ele se comporta como um verdadeiro “picolé de pimenta”, construindo alianças sólidas e driblando adversários.
Datafolha: Alckmin venceria no primeiro turno em São Paulo com 55%
Líder disparado nas pesquisas eleitorais, com potencial para se eleger no primeiro turno, o governador paulista construiu em São Paulo uma coligação gigantesca com 14 partidos.
Mais: conseguiu a proeza de reunir em seu palanque as duas grandes forças de oposição à reeleição da presidente Dilma Rousseff. Estão com ele tanto o presidenciável correligionário Aécio Neves quanto o candidato do PSB – possivelmente Marina Silva, que deve ser a candidata socialista depois da morte de Eduardo Campos.
Em suas ações de governo e de campanha, Alckmin também joga duro e despista a fama de insosso. Na segurança pública, por exemplo, ele tem proferido um discurso mais à direita, cobrando leis mais rigorosas contra criminosos adultos e adolescentes infratores. Agradando assim o enorme eleitorado conservador do Estado.
Além de citar o imperador francês Napoleão Bonaparte para exemplificar suas escolhas, Alckmin também tem recorrido às tiradas humorísticas em seus discurso. “Vamos fazer a linha 13 da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). Não temos preconceito”, ironizou o tucano, em recente debate, arrancando gargalhadas da plateia ao citar o número do partido adversário, que batizará a linha férrea da capital com o Aeroporto de Guarulhos.
Sem carisma, mas não fraco
“Tem muita gente, inclusive jornalistas, que associa o apelido ‘picolé de chuchu’ a um sinal de fraqueza. E não é isso. Picolé de Chuchu é uma coisa sem graça, sem gosto, sem carisma e o Alckmin continua mais chuchu do que nunca. Mas pensando bem, acho que ele está transformando essa falta de carisma num carisma”, analisa o colunista José Simão, que em sua coluna na Folha de S. Paulo ajudou a propagar a comparação do tucano com o vegetal.
O Geraldo Alckmin de 2014 é bem diferente do tucano hesitante que tentou alçar voo em 2006. Às vésperas da Copa do Mundo, ele não titubeou em demitir os grevistas que ameaçam parar o metrô da capital. No mesmo período, mandou a polícia enquadrar manifestantes. Depois, coordenou pessoalmente as articulações que garantiram o senador Aécio Neves como candidato a Presidência, convencendo, inclusive, seu adversário interno, o ex-ministro José Serra, a sair candidato ao Senado, promovendo uma pacificação nas históricas divergências no PSDB.
“A estratégia de Alckmin é 2018. Se Aécio não vencer, ele será candidato à Presidência”, avalia Carlos Melo, cientista político e professor do Insper. Segundo o analista político, o governador paulista, com sagacidade mineira, atua com os pés em duas canoas.
Melo diz que inda é cedo para uma definição mais clara do quadro eleitoral, mas acha que Alckmin trabalha para tentar impor uma forte derrota a seus principais adversários em São Paulo e, ao mesmo tempo, mirar o futuro. Ele acha, no entanto, que nada está definido. “Será que ele vai se jogar de verdade na campanha de Aécio?”, indaga o cientista político.
Pesquisador do Departamento de Gestão Pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o professor Marco Antônio Carvalho Teixeira alerta que só o horário eleitoral gratuito é que mostrará se Alckmin consolidará (ou não) uma nova performance na política nacional.
Ele diz que a mais recente pesquisa eleitoral do Datafolha mostra que o governador paulista tem pela frente um potencial de desgaste em função dos péssimos números em relação a temas como saúde e educação. Mas reconhece que, ao contrário do que deixou transparecer em 2006, o governador vem assumindo postura mais enérgica, como a adotada na greve dos metroviários. “Ele quer mostrar que tem sensibilidade. O período eleitoral tem demandado uma nova postura e Alckmin tem procurado mostrar respeito”, afirma.
Os especialistas acham que os temas espinhosos a Alckmin – como a crise hídrica, segurança e sistema prisional – só ganharão relevo quando começar o horário gratuito de rádio e televisão. “O eleitor está preocupado com a disputa pela Presidência. Só depois prestará atenção nos candidatos a governo, senador e deputados. O País ainda está sob o abalo da morte de Eduardo Campos”, conclui Carlos Melo.
Fonte: Último Segundo – 19/08/2014