Apesar das importações brasileiras de bens de capital terem sofrido queda no primeiro semestre deste ano, a perspectiva de desvalorização da moeda nacional, no segundo semestre, pode favorecer as compras de máquinas e de equipamentos para a produção. A conclusão é de um estudo da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), feita pelo economista e professor do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa, Otto Nogami.
De acordo com dados Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio Exterior (MDIC), as importações de máquinas e equipamentos sofreram retração de 5,1% no primeiro semestre de 2014, na comparação com o mesmo período do ano passado. Somente no mês de junho as compras de bens de capital recuaram 17,7%, ante a junho de 2013. Os principais itens que tiveram queda foram maquinaria industrial, máquinas e aparelhos de escritório e serviço científico, equipamento móvel de transporte, acessórios de maquinaria industrial e partes e peças para bens de capital para indústria.
A pesquisa da Abimei também mostrou que houve diminuição na importação de bens de capital. O relatório revelou que, de janeiro a abril de 2014, entraram no País menos 2,3% de máquinas, equipamentos e acessórios em geral utilizados na indústria, em relação com o mesmo período de 2013.
Em termos de volume negociado, o período registrou US$ 16.237,2 milhões ante US$ 16.613,8 milhões em 2013. A queda na importação de máquinas-ferramenta, usadas na cadeia produtiva da indústria de transformação, foi a mais significativa de acordo com a pesquisada Abimei, com diminuição de 12,5%, um volume financeiro relativo a US$ 81,7 milhões.
Já a importação de peças e partes para bens de capital usados na indústria teve elevação no período de janeiro a abril. Essa registrou aumento de 13,2%, com volume financeiro de US$ 2.883,6 milhões, “o que sugere que as empresas estão preferindo investir em manutenção do que em equipamentos novos”, diz o relatório produzido pela Abimei.
Para Nogami, essa opção dos empresários se deve ao arrefecimento da atividade econômica e à queda do consumo. “Nesse momento recessivo, a tendência é do empresariado postergar os eventuais investimentos”, diz.
Contudo, o economista afirma que a expectativa de desvalorização do real no segundo semestre tende pode criar um ambiente favorável para a importação de insumos e equipamentos.
“Analisando os dados do Banco Central, é possível observar uma tendência de desvalorização da moeda nacional. E aqueles que dependem de insumos e maquinários, terão oportunidade para realizar importação”, afirma Nogami.
Para o economista, as compras de bens de capital tendem a uma alta até o final do ano, devendo chegar, “dentro da normalidade”, a uma cifra em torno de US$ 54 bilhões, 5,9% maior que o ano de 2013. Segundo ele, a tendência para os próximos meses também é um reflexo da necessidade de expansão das condições de produção do País, “caminho importante para o combate à inflação, bem como para buscar uma melhor competitividade aos produtos brasileiros exportáveis”, diz a pesquisa.
Medidas
Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (Abracex), Roberto Segatto, é necessário a implementação de algumas medidas para facilitar a importação de bens de capital. “A carga tributária hoje é muito alta e chega a quase 50% para o setor. É preciso que o governo ofereça uma isenção de imposto de importação”, diz. “Além disso, é preciso que os equipamentos possam ser beneficiados pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico]. Isso é indispensável para a indústria, que hoje está com equipamentos degastados, o que faz com que o setor não consiga fabricar produtos de qualidade e com preços competitivos”, afirma Segatto.
O secretário executivo do Mdic, Ricardo Schaefer, disse ontem que as medidas em estudo no governo federal para apoiar a indústria nacional de bens de capital ainda estão em discussão e não têm prazo para serem anunciadas. No entanto sinalizou que o crédito não é problema.
Schaefer também foi questionado se poderia haver redução nas taxas de juros do Programa de Sustentação do Investimentos (PSI), ele respondeu: “O PSI já tem taxas competitivas e negativas. Não é por esse caminho”. O secretário não respondeu se o PSI poderia tornar-se permanente.
Fonte: DCI – SP – 08/07/2014