Cresceu desde o ano passado a quantidade de profissionais que considera o mercado de trabalho mais difícil e com menos oportunidades, bem como o número de empresas que manteve os salários no mesmo patamar entre um ano e outro. Por outro lado, caiu o nível de companhias que realizaram demissões ao longo de 2014, e mais da metade delas pretende contratar no ano que vem.
O cenário aparece no Guia Salarial 2014, da consultoria Hays, realizado em parceria com a escola de negócios Insper. Foram entrevistadas 500 empresas e mais de 8 mil profissionais do país.
Para a diretora geral da Hays, Carla Rebelo, o retrato identificado pelo estudo mostra que, apesar de um clima pessimista em relação à economia, as empresas já vêm se preparando para o cenário de baixo crescimento há pelo menos um ano e meio. “Os números confirmam o que acompanhamos ao longo do ano, que as empresas vêm se ajustando ao novo cenário há algum tempo. Não se espera nenhuma ruptura nos próximos meses”, diz.

Mais de um terço dos profissionais entrevistados (34%) avaliaram o mercado de trabalho como “bastante difícil” – mais do que o dobro do ano passado, quando 14% tinham a mesma opinião. Aqueles que acham que hoje há boas oportunidades são 24%, quase metade dos 44% encontrados um ano atrás. Tanto profissionais quanto as companhias concordam que um dos maiores problemas encontrados hoje é a falta de confiança na economia. Em ambos os casos, o volume de entrevistados com essa opinião dobrou de cerca de 30% para mais de 65%.
Alguns números reforçam esse cenário de cautela, diz Carla. Cresceu o número de empresas que mantiveram as faixas salariais de um ano para o outro, de 18% para 26%. Foi maior também o número de companhias que diminuíram o investimento na área de recursos humanos, de 13% para 20%. Mesmo assim, 44% mantiveram o investimento na área e 36% aumentaram.
Por outro lado, menos empresas declararam ter realizado demissões ao longo do ano – de 61% em 2013 para atuais 48%. Caiu também quase pela metade (de 63% para 36%) o volume de companhias que viram alta rotatividade no seu setor. “Com um cenário macroeconômico sem crescimento e com inflação, as empresas têm o desafio de ter mais produtividade. Para isso, é necessário ter profissionais mais resilientes”, diz a diretora.
Quando questionadas quais as habilidades mais valorizadas em funcionários em momentos de estabilidade, a capacidade de trabalho e motivação são as mais citadas, cada uma por mais de 30% das companhias. Já em uma situação de crise, elas são substituídas pela capacidade de adaptação, destacada por 50% das empresas.
Para Carla, isso significa apostar em profissionais com mais experiência. Mais da metade (56%) das empresas pretendem aumentar o número de funcionários no ano que vem e 73% delas devem buscar profissionais com qualificação técnica ou de média gerência. “As empresas continuam a ter o desafio de reter talentos, e os profissionais mais qualificados continuam a ter oportunidades”, diz. Quando encontram um candidato com o perfil procurado, mas com expectativa salarial elevada, a maioria das empresas opta por pagar o salário pedido ou compensar com benefícios.
Apesar da visão ruim do mercado de trabalho, a grande maioria dos profissionais entrevistados (79%) pretende procurar emprego ou está aberta a novas propostas no ano que vem – número que se manteve na comparação ao ano passado. As perspectivas de crescimento pessoais e profissionais são os principais motivadores do desejo de mudança, seguidos da remuneração.
No entanto, quase 60% ainda não iniciaram uma busca ativa pelo novo emprego. “Os profissionais querem que suas ambições financeiras e profissionais sejam atendidas. O RH tem esse papel estratégico, de juntar os elementos para fazer com que esses profissionais fiquem”, diz. Alguns índices já apontam nesse sentido. O aumento das companhias que oferecem benefícios além do salário, por exemplo, subiu de 91% para 97%.
Fonte: Valor Econômico – 13/11/2014.