Bônus mais magro
A remuneração total dos profissionais com direito a bônus também deverá minguar até o fim do ano. Três em cada dez executivos ouvidos no levantamento da Hays Insper disseram que sua remuneração variável baixou em relação a anos anteriores. Empresas como a varejista Magazine Luiza, a fabricante de roupas Hering e a construtora MRV estão entre as que eliminaram a remuneração variável de curto prazo, paga neste ano e referente a 2012, dos profissionais da diretoria, segundo a Comissão de Valores Mobiliários.
Nas empresas cujas receitas dependem do mercado externo, a situação é ainda mais complicada. O mercado internacional não vai bem e não estimula as exportações. Isso acontece ao mesmo tempo que, por aqui, o real se desvaloriza e o mercado interno, que vinha servindo de salvação para a economia por meio de pacotes de desoneração de impostos, já diminuiu o ritmo de consumo. São dados que confirmam a percepção do brasileiro de que o mercado de trabalho está se deteriorando. Mas nem todo empregado percebe esse cenário da mesma forma. Quem vive a pior situação é o trabalhador da indústria.
Nos últimos anos, esse profissional teve aumentos sucessivos de salário, pois o setor industrial precisava reter seus bons funcionários, que estavam sendo sondados por empregadores do setor de serviços.
Só que agora o empregador está exigindo retorno dos investimentos que fez em remuneração e treinamento. “Mesmo com os investimentos, não melhoramos a qualificação da mão de obra nem a produtividade. Ainda assim, os salários continuam aumentando. Esse quadro está estrangulando o crescimento industrial do país como um todo”, afirma Mark Bowden, diretor-geral da empresa global de recrutamento Hays para a América Latina. Com isso, sobe o custo ele produção, que torna a indústria nacional menos competitiva. Desde 2010, o custo unitário do trabalho se elevou 15% no Brasil, uma despesa que não pode ser repassada ao consumidor por causa da concorrência dos importados. Com sua margem de lucro comprometida, a indústria brasileira não cresce, como os números demonstram há meses.
Risco de inflação
As políticas de incentivo ao consumo, de que o governo veio lançando mão até agora para aquecer a economia, aumentaram ainda mais a pressão de demanda e a inflação. Enquanto isso, com a recuperação da economia americana e a desaceleração da China – grande importadora de matérias-primas brasileiras -, o real se desvaloriza diante do dólar. Com a moeda valendo menos, a tendência é de alta dos preços, como forma de manter a margem de lucro. Calcula-se que cada aumento de 10% na taxa de câmbio repercuta de 0,3 a 0,5 ponto percentual na inflação anual. Para controlar essa tendência, o Banco Central (BC) reage aumentando a taxa de juro. Como efeito, freia-se o crescimento industrial e da economia como um todo. Daí o mesmo BC ter rebaixado para 2,7% a expectativa de crescimento da economia para este ano, ante previsão de 3,1% feita em março. Para quem está empregado, a recomendação é manter o foco na meta de sua área e dar o melhor de si. Os empregadores e profissionais de RH tendem a valorizar – e até a recompensar – os funcionários com melhor desempenho, mesmo em tempos de vacas magras. Em momentos difíceis, os bons valem ainda mais.
Fonte: Revista Você S/A – 25/07/2013