Palestra e debate com o arquiteto urbanista Carlos Mario Rodríguez abordaram a experiência que provocou mudanças significativas em comunidades na periferia da cidade colombiana
Recebemos no dia 18 de setembro, em parceria com o Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) e Arq. Futuro, o arquiteto urbanista Carlos Mario Rodríguez para uma palestra que abordou os 20 anos de inovação e transformação urbana em Medellín, na Colômbia.
“O tema das cidades é essencial nesse tempo em que precisamos pensar em como criar uma dinâmica mais saudável no país e organizar os espaços urbanos para gerar mais empregos e sair da zona cinzenta da informalidade. A proposta do Insper é abrir esse espaço de diálogo para trazer pensamentos e visões de mundo diferentes, mas com uma preocupação em comum: como lidar com problemas concretos que constrangem nosso país”, disse Marcos Lisboa, presidente do Insper, na abertura do evento.
Para Tomas Alvim, da Arq.Futuro, em São Paulo e em outras capitais do país, a cidade informal cresce exponencialmente e a formal está reprimida. “Nesse tema, o caso mais inovador que a gente encontrou foi o urbanismo social colombiano. Também temos o exemplo do trabalho relevante realizado em Recife, inspirado na experiência de Medellín. Com base nessas referências, nós estamos estruturando e aprofundando a discussão do assunto, envolvendo a participação de instituições públicas e privadas.”
Em sua palestra, o arquiteto urbanista Carlos Mario Rodríguez abordou o contexto geográfico, histórico e socioeconômico de Medellín, com destaque para os acontecimentos mais importantes do século XX e que fizeram da cidade colombiana uma das mais violentas do mundo.
Por meio de uma estratégia de urbanismo social, Rodriguez, gerente de desenho urbanístico da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano (EDU) de Medellín entre 2004 e 2011, provocou mudanças significativas em comunidades na periferia da cidade, o que resultou na queda dos índices de violência – de 381 homicídios a cada 100 mil habitantes em 1991 para 22 homicídios a cada 100 mil habitantes em 2017.
Ações imediatas e conquista de credibilidade
De acordo com Rodriguez, apesar da necessidade de planejar a longo prazo, era necessário tomar ações imediatas e ganhar a confiança da população. “Para isso, precisávamos ter credibilidade. Isso passou por ir até as comunidades e reinventar o papel dos atores que lá estavam, em um processo de inclusão desses cidadãos em comitês gestores e de qualificação para a participação na execução desse trabalho, além da entrega rápida de obra mais simples”.
Esse ponto de partida foi seguido por articulação com diversas empresas municipais e resultou em várias conquistas, como a construção de espaços públicos de convivência, transporte público eficiente, parques-biblioteca e de iniciativas como um programa de acompanhamento das crianças desde a primeira infância.
Planejar o território de maneira coerente; ações públicas para a geração de oportunidades; construção de cenários de vida coletiva, paz e convivência; a mobilidade como instrumento de equidade territorial; e, o principal: a cidadania como objeto de transformação. Esses foram os cinco pontos principais aplicados na política pública territorial desenvolvida por Rodriguez.
“A cidadania é o que transforma, não as cidades. A que se destina uma transformação da cidade, senão para a conquista da cidadania? Podemos fazer a melhor biblioteca do mundo, mas se não houver política pública em favor da leitura, da cultura, o equipamento não funciona. O espaço físico é o que contém, mas o importante é o conteúdo e a sua relação com o espaço público”, observou.
Debate
A palestra foi seguida por uma mesa de debate composta por Murilo Cavalcanti, Secretário de segurança urbana de Recife e gestor do COMPAZ – Comunidades da Paz, Fernando Chucre, Secretário de Desenvolvimento Urbano do município de São Paulo, e Priscila Claro, Coordenadora de Extensão e Responsabilidade Social do Insper e co-chair do PRME/ONU no Brasil.
Entre os principais temas discutidos estiveram a experiência do COMPAZ, inspirado no caso de Medellín, e os desafios no desenvolvimento de projetos de urbanização no Brasil, envolvendo longos prazos de contratação por meio de licitação e a dificuldade na criação de confiança com as comunidades.
Veja a íntegra do debate: