A análise geo-referenciada é um método para compreender fenômenos de interesse, levando em conta a interdependência geográfica das unidades de análise. Neste texto, mostramos a utilização das ferramentas de mapeamento para compreensão do problema de acesso a creches em São Paulo
Cada vez mais defende-se o uso de evidências para o aprimoramento de políticas públicas. Pesquisadores e especialistas de diversas áreas reforçam a importância de embasar decisões sobre uso de recursos públicos com dados apropriados e sistematicamente coletados. Há, no entanto, muitos desafios para que essa prática seja incorporada à gestão pública. Um desses desafios é a identificação de fenômenos regionais. As decisões sobre o policiamento no bairro da Vila Olímpia devem se basear em números gerais cidade de São Paulo ou devem considerar informações de uma área mais restrita? As decisões sobre o local de construção de novos hospitais e postos de saúde devem considerar a demanda por serviços de saúde dos equipamentos existentes em diferentes regiões? Para essas e outras questões de gestão e políticas públicas, as ferramentas de mapeamento, análise geo-referenciada e econometria espacial podem trazer grandes benefícios.
A simples visualização de problemas públicos de forma regionalizada em mapas pode trazer grandes benefícios para a compreensão sobre desigualdades regionais e auxílio à tomada de decisão subsequente. O mapa abaixo mostra, por exemplo, os distritos do município de São Paulo de acordo com a demanda por vagas em creche no ano de 2017.

Figura 1 – Representação de densidades: distrito do município de São Paulo em 2017 distribuídos em quartis segundo a quantidade de crianças na fila por creche
A figura 1 permite identificar, por exemplo, quais são os distritos com maior número de crianças em filas para creche. É possível ainda verificar quais distritos possuem filas menores para as creches e isso pode desencadear outras análises para se compreender o motivo dessa diferença entre distritos.
As possibilidades do uso de informações geo-referenciadas para o aprimoramento da gestão e políticas públicas, no entanto, são diversas e vão muito além do simples mapeamento de variáveis. A análise de clusters, por exemplo, indica se há áreas com maior ou menor concentração de um determinado fenômeno do que seria esperado aleatoriamente. Também usando dados da fila de espera para vagas em creches, a figura 2 apresenta esse tipo de representação.
Figura 2 – Análise de clusters: distritos que concentram altas e baixas concentrações de crianças na fila por creche em 2017

A figura 2 permite identificar mais claramente quais distritos exigem uma ação prioritária em função das grandes filas para creches e, por outro lado, quais distritos possuem filas para as creches menores do que seria esperado aleatoriamente naquela região.
Além da análise de clusters, muitas outras ferramentas e técnicas de análise espacial permitem a verificação de efeitos regionais em problemas públicos. Assim, o conhecimento dessas ferramentas é fundamental para o gestor de políticas públicas e para organizações interessadas em influenciar a agenda governamental.
Considerando a importância dessas ferramentas, o Insper oferece o curso de Educação Executiva em Metodologias para Análise Geo-referenciada de Políticas Públicas.