15/01/2013
A investidora Micheline Soares teve dificuldades para vender a ação de uma companhia “small cap” devido à baixa liquidez
As empresas de menor porte têm ganhado os holofotes após as altas expressivas das ações em 2012, que costumam empolgar investidores. Mas os especialistas lembram que os riscos existem e a própria valorização pode ter aumentado esses ‘perigos’ – que incluem ainda o volume reduzido de negócios na bolsa e a pouca cobertura de analistas especializados.
Investir em uma companhia de pequeno valor de mercado pode se assemelhar a aceitar um emprego genial em um lugar totalmente desconhecido. É mais fácil se informar e perguntar sobre os produtos e perspectivas de uma marca famosa do que os de uma empresa distante dos olhos e ouvidos das pessoas – sejam elas clientes, analistas de mercado, investidores ou futuros funcionários. “A cobertura dos analistas nacionais e estrangeiros, além da própria mídia, é naturalmente maior em uma companhia grande do que em uma pequena. É mais difícil obter informações e, com isso, ficar seguro sobre a decisão de investir”, afirma Mario Bernardes Junior, analista do BB Investimentos.
Bernardes afirma que a dificuldade em analisar as small caps fica maior entre os papéis que subiram muito. A alta do preço da ação distorce alguns indicadores usados por investidores em suas tomadas de decisão. Um deles é o P/L, múltiplo que projeta em quantos anos o preço pago pelo papel tende a ser devolvido ao bolso do investidor, considerando a geração futura de lucro. Quanto maior o indicador, mais cara é considerada a ação. Segundo dados da “Bloomberg”, 13 das 20 small caps que mais avançaram em 2012 (veja na página D1) têm P/L superior a 18. No caso de Kroton, maior alta do ano passado, o P/L projetado estaria em 27,82. Ou seja, se levado o indicador ao pé da letra, seria preciso esperar mais de 27 anos para que a aposta se justificasse. “Em casos como este, não é bom levar em consideração só os múltiplos ou os gráficos. Quem fizer isso pode tomar um susto e desinvestir na hora errada”, diz Bernardes.
O professor de Finanças do Insper Michael Viriato também diz que a análise gráfica atende com mais propriedade as aplicações de curto prazo. Se a intenção é investir em small caps, é preciso olhar os fundamentos da empresa, conhecer a gestão, o setor, a conjuntura macroeconômica, acompanhar os comunicados publicados no site da empresa ou da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), autarquia que regula e fiscaliza o mercado.
Nem é preciso dizer que fazer tudo isso é uma operação mais complexa do que monitorar um gráfico para tomar decisões de compra e venda. Difícil ou não, é melhor não arriscar, segundo William Alves, analista da XP Investimentos. “Se o investidor não entende como uma empresa faz para gerar caixa, é melhor não investir nela”, afirma.
Antes mesmo de escolher quais empresas estudar – somente no índice das small caps havia 68 ações no dia 11-, o investidor precisa compreender as diferenças entre as pequenas e as grandes companhias abertas. A principal delas é a liquidez. As maiores, naturalmente, atraem um volume mais elevado de recursos e também um número mais expressivo de compradores e vendedores todos os dias. Dificilmente um investidor que queira vender a ação de uma grande companhia terá problemas para localizar um comprador. Ele pode empacar na hora de discutir o preço do papel, mas este é outro problema. No caso do investidor em uma pequena e desconhecida empresa, a dificuldade pode estar, inclusive, em encontrar alguém interessado na ação.
Por essa razão, as small caps não se prestam muito a estratégias de curtíssimo prazo – leia-se de um dia apenas. Se o objetivo é este, melhor estudar um aporte em uma blue chip como a Vale do que em uma small como a Magnesita, explicam os especialistas.
Essa foi a primeira lição da mineira Micheline Soares, de 31 anos. Há pouco mais de dois anos, quando começou a operar no mercado de ações, a investidora comprou Grendene. A ação estava barata e, para quem estava estreando, esse atrativo parecia suficiente. O problema é que a intenção era aproveitar a primeira valorização relevante do papel para vendê-lo imediatamente e, com o bolso mais recheado, comprar uma segunda ação. “Mas isso demorou a acontecer. A liquidez era muito baixa”, afirma Micheline. “Como ainda tenho pouco para investir, não posso ficar esperando.”
Como têm um valor de mercado pequeno, as small caps são mais suscetíveis a movimentos bruscos provocados por compras ou vendas de um investidor grande. Foi o que, aparentemente, aconteceu, com a Lupatech. A ação da empresa subiu 32,12% no acumulado dos quatro primeiros pregões de 2013, movimento que foi considerado atípico pelo mercado. A empresa chegou a enviar um comunicado à CVM afirmando que desconhecia os motivos da alta extraordinária. “Nas blue chips, mudanças bruscas, positivas ou negativas, são muito menos frequentes”, diz Viriato, do Insper.
O investidor que não quer ter todos esses cuidados encontra algumas alternativas para apostar nas small caps. Viriato sugere a compra de um ETF (fundo negociado na bolsa como se fosse uma ação) atrelado ao índice de ações das pequenas. “Outra opção é terceirizar a seleção dos papéis a um gestor especializado, investindo em um fundo tradicional.”
Valor Econômico – SP – 14/01/2013