Para ser um chefe efetivo e inovador, é preciso incorporar características femininas como empatia, generosidade, vulnerabilidade e intuição. Essa é a tese defendida pelos pesquisadores americanos John Gerzema e Michael D’Antonio no livro The Athena Doctrine: How Women (and the Men Who Think Like Them) Will Rule the Future – A Doutrina Athena: Como as Mulheres (e os Homens que Pensam Como Elas) Vão Comandar o Futuro, sem previsão de lançamento no Brasil. Presidente da BAV Consulting e diretor de estratégias da agência Young & Rubican, Gerzema tem acesso a um dos maiores bancos de dados do mundo sobre marcas e comportamento do consumidor. Para escrever seu último livro, fez um estudo com 64 mil pessoas em 13 países. Aqui, ele explica como os resultados o ajudaram a forjar um novo conceito de liderança, baseado em traços comumente ligados à personalidade feminina.
Em seu livro, você defende que o líder moderno deve incorporar qualidades consideradas femininas. Como chegou a essa conclusão?
Meu objetivo era responder à seguinte pergunta: o que as pessoas esperam de um líder em uma economia pós-crise? Durante a pesquisa, começamos a perceber que as características que os entrevistados desejavam ver em um líder moderno eram normalmente associadas às mulheres. Então resolvemos investigar. Entrevistamos 64 mil pessoas e demos a elas uma lista com 125 traços de personalidade. Pedimos para metade da amostra dividir as características por gêneros. Para a outra metade, solicitamos que indicasse quais os atributos mais desejáveis em um líder. Ao cruzarmos os dados, vimos que a maioria das qualidades mais admiradas eram tidas como femininas: empatia, vulnerabilidade, generosidade, paciência e flexibilidade.
Por que acha que esses traços ganharam destaque?
Vivemos em um mundo onde a economia é social, compartilhada. Todos estão assistindo ao que a sua empresa faz, então existe uma demanda para que os líderes sejam mais transparentes. Ao mesmo tempo, com a globalização, as companhias ficaram interdependentes: por isso, os gestores precisam ser colaborativos. Outro fator importante é a chegada ao mercado de trabalho dos millennials, geração que está hoje na faixa dos 20 anos. Eles procuram chefes que se envolvam com os funcionários, façam mentoria. Se cruzarmos todas essas tendências, o resultado é uma demanda por gestores mais acolhedores.
Esse tipo de liderança é uma forma de inovação?
O mundo dos negócios é dominado por estruturas criadas por homens, e a maioria das corporações foi construída obedecendo a um jeito masculino de trabalhar. E essa não é a realidade de hoje. Se quiserem acompanhar as mudanças, os líderes terão de ser mais flexíveis, mais colaborativos. Dessa maneira, estarão inovando e criado uma vantagem competitiva para a empresa.
Uma das características mais valorizadas pelos pesquisados é a inclusão. Como isso se traduz nos negócios?
Um líder inclusivo só toma uma decisão depois de ouvir todos os pontos de vista à sua disposição. Quer dizer, a palavra final ainda é dele, mas os sócios e funcionários sentem que estão participando do processo. A palavra-chave, aqui, é colaboração.
Hoje, existem CEOs que lançam produtos com a participação dos clientes. Há ainda os que estão praticando a coopetition, ou seja, criando artigos com a ajuda dos seus competidores. Na Islândia, a nova constituição está sendo escrita em esquema de crowdsourcing, usando as mídias sociais. Esse é o mundo em que vivemos agora.
Você aponta a generosidade como uma habilidade fundamental para liderar. Por quê?
Em uma economia compartilhada, as chances de vencer são maiores se você ajudar os outros ao longo do caminho. Especialistas em carreira dizem que você deveria gastar pelo menos 45 minutos por dia fazendo algo por outra pessoa. A ideia é que não existem mais carreiras individuais: sua trajetória profissional está totalmente interligada com a do colega ao lado. No futuro, quando precisar de ajuda, você pode contar com uma rede de contatos disposta a auxiliá-lo no que for preciso. É um investimento que traz grandes resultados a longo prazo.
Qualquer líder pode aprender a ser mais feminino?
Claro. Todos nós temos acesso a essas habilidades. Se você é pai e ama seus filhos, sabe o valor de criar, alimentar e estimular. Não é preciso ser mulher para entender isso. É só aplicar essa perspectiva ao mundo dos negócios. De fato, 81% dos entrevistados no livro disseram que é necessário combinar qualidades femininas e masculinas para liderar de maneira eficiente. É preciso ter agressividade, poder de decisão, confiança, resiliência – mas misturados com uma boa dose de empatia, compaixão e flexibilidade.
Fonte: Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Data: 07/08/2013