Estratégias, gestão, comportamento, competitividade… O mundo está em constante transformação e a uma velocidade espantosa. Acompanhar esse movimento é o grande desafio dos novos tempos tanto para o cotidiano das pessoas como das empresas. Já não é possível manter estruturas e posições Inflexíveis em nenhuma área. Preocupadas, muitas corporações começam a repensar seu modelo. A bola da vez é o papel do líder que precisa se despir dos trajes de “todo poderoso” e assumir uma posição mais flexível: a de líder horizontal.
Para Ecléa Hauber, professora do Instituto de Ensino e Pesquisa Insper, é tempo de uma liderança mais participativa e compartilhada, na qual líder e liderados tomam juntos decisões e escolhem a maneira de alcançar resultados mais competitivos. “As pessoas precisam sentir que pertencem a um projeto e à corporação, e isso as motiva”, comenta, ao explicar que o que impulsiona esse nova padrão é a necessidade de inovação, criatividade e flexibilidade.
O exercício da liderança pode e deve ser aplicado em todos os níveis da organização. E é importante preparar pessoas para subirem na hierarquia. “Nunca deixar lacunas, pois espaços vazios enfraquecem o desempenho e a corporação “, diz Hauber.
A professora Clara Linhares. da Fundação Dom Cabral, lembra que a horizontalidade exige do líder alto desempenho, com metas cada vez mais alias e constante aprendizado. Para atingi-lo, o líder precisa compartilhar conhecimento e experiência. “Conhecimento guardado não serve para nada c sozinho não se chega a nenhum lugar. É preciso compartilhar conhecimento e experiencias”. enfatiza.
Sullivan Franca. presidente da Sociedade Americana de Coaching, diz que atualmente o líder não relacional tem sérios problemas. “Já o líder relacional tem várias habilidades: educador, gestor, treinador de equipe e deve saber ouvir. É o guardião de tudo. Assume a postura de gestor e também faz o papel de coach. Percebe os vários momentos de uma situação e age da maneira mais adequada”, observa.
Para Alberto Ruggiero, consultor da Mosaico Treinamento & Desenvolvimento. a flexibilidade é talvez a qualidade mais importante para o líder. Isso porque uma série de razões influencia hoje o trabalho nas organizações : novas tecnologias, formas de execução dos trabalhos, diversidade, complexidade, várias gerações atuando juntas no ambiente de trabalho. Ele aponta que, se o líder não tiver o mínimo de flexibilidade para lidar com assuntos tão diferentes, fica difícil obter engajamento e comprometimento das pessoas.
RESISTÊNCIA
“A liderança horizontal é uma questão da cultura da empresa. A filosofia é Imposta pelo topo, mas se a alta direção pleiteia inovação, criatividade e resultados, sem a horizontalidade, a empresa estará fadada ao insucesso”, diz Clara Linhares. Concordando com essa afirmação. Alberto Ruggiero acrescenta que as pessoas querem ser ouvidas e têm aceitado cada vez menus chefias que optam apenas pelo “comando e controle”. “Se a cúpula organizacional possuir um estilo centralizador. será difícil modificar algo”, pondera o consultor.
Já o coacher Sullivan Franca pondera que resistência não está necessariamente relacionada à idade dos lideres. “Falar em resistência em pessoas com mais ou menos idade é uma questão relativa”, diz. “Tenho visto senhores de 65 anos liderando equipes de forma mais aberta do que muitos de 30, mais conservadores. É preciso amadurecimento por parte da cúpula. lideres e liderados.”
QUESTÃO DE FILOSOFIA
Para Ruggiero, o tamanho da empresa não é o fator primordial a ser considerado quando se fala da nova figura do líder e sim a filosofia de atuação da corporação. Mesmo porque há grandes companhias nas quais a postura da liderança ainda é arcaica e desconectada com as novas demandas empresariais. Por outro lado, existem empresas pequenas que possuem uma filosofia de liderança moderna e, apesar do ambiente de pressão e focado na busca de resultados, há flexibilidade e uma preocupação genuína com as pessoas. Sem essa preocupação, as pessoas tendem a buscar outros caminhos.
No Brasil, algumas empresas já atuam sob a filosofia da horizontalidade da liderança. “Contudo, levando-se em conta o tamanho do pais e a quantidade de empresas existentes, ainda estamos num patamar inferior em relação a empresas da Europa e dos EUA”, comenta Ruggiero. O problema aqui, segundo o consultor, reside no modelo mental empregado pelas lideranças. Muitas pessoas são colocadas em um cargo de chefia por terem sido ótimos técnicos e não são preparadas para assumir a nova posição. “Como um profissional consegue adotar a liderança horizontal se continua atuando sob o paradigma antigo?”, questiona. Isso continua ocorrendo nas companhias, sejam elas pequenas, médias ou grandes.
Fonte: Medicina Social – 01/04/2014