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Liberdade: a acolhedora mistura de ingredientes da capital paulista
05/08/2022
A professora Mariana Chies conta como especiarias comuns para os paulistanos podem surpreender os gaúchos que vêm morar na cidade
Leandro Steiw
Furikake, shiitake, shimeji. Três palavras derivadas da língua japonesa que rapidamente entraram no cotidiano da advogada e socióloga gaúcha Mariana Chies depois da mudança para a capital paulista. “A primeira coisa que me surpreendeu ao chegar a São Paulo foi o bairro da Liberdade, por causa da variedade de pimentas e temperos da culinária oriental”, diz a professora do Insper. “Tenho acesso a produtos e marcas que eu jamais teria em Porto Alegre, em função de eles nem chegarem lá. Em Porto Alegre, para comer comida japonesa é só em restaurantes mesmo, não tem muita opção de fazer em casa.”
A admiração faz sentido. São Paulo tem a maior população de origem japonesa fora do Japão e, embora não seja originalmente de ocupação nipônica, o bairro da Liberdade tornou-se símbolo da comunidade oriental na cidade a partir dos anos 1960. Mariana não mora na região, mas é para lá que se dirige à procura de sabores japoneses. “Por exemplo, furikake, o tempero do arroz, é como se existisse em cada esquina para comprar, principalmente na Liberdade”, afirma. “Tanto que, sempre que vou visitar a minha família, tenho de levar um carregamento de furikake para Porto Alegre, porque todo mundo ama e é superdifícil de encontrar.”
Típicos de pratos japoneses, os cogumelos também chamaram a atenção da gaúcha. “O Rio Grande do Sul não tem uma plantação tão grande de fungos comestíveis”, diz. “Então, o shiitake, o shimeji e o champignon são muito baratos e de fácil acesso aqui.” Aos poucos, esses produtos vão se banalizando pelo país, mas o estado de São Paulo ainda é o maior produtor brasileiro de cogumelo in natura – um mercado estimado em 12.000 toneladas por ano. Na lista indispensável de bons de preço, alho-poró é outra dessas especiarias. “Quando cheguei, eu só queria fazer macarrão com alho-poró e shiitake, porque era algo complicado de se conseguir em Porto Alegre.”
A tradição vem de pequena. Todos os sábados, ao meio-dia, os pais de Mariana almoçavam no mesmo restaurante japonês. “A minha família é metade gaúcha e metade baiana”, conta, e talvez o que tenha unido meus pais fosse o amor pela culinária japonesa.
“Eu comia pratos baianos em Porto Alegre, que o meu pai fazia. Mas não comíamos muito, por exemplo, quiabo, jiló e maxixe, porque não havia onde comprar. Aqui em São Paulo tem. Então, lá em casa sempre tem quiabo. Ninguém gosta na minha casa em São Paulo, mas eu como quiabo toda semana, porque adoro. E restaurante baiano aqui é maravilhoso. A Rota do Acarajé, em Santa Cecília, e o Consulado da Bahia, em Pinheiros, são dois aonde eu iria toda a semana.”
Arroz com o tempero furikake
Prateleiras da saudade
Durante a formação acadêmica, Mariana viveu duas vezes na França. Morou um ano em Aix-en-Provence – “região dos vinhos rosés e da lavanda”, como ela lembra – e outro ano em Paris. Para Mariana, por causa da agitação urbana, com muita gente, lugares cheios, pressa e barulho, Paris acaba sendo uma vivência parecida com São Paulo. “Mas Paris tem mais opções de comidas congeladas do que São Paulo”, diz.
Empório Azuki, na Liberdade, e Sacolão, em Perdizes, estão na rota de abastecimento de ingredientes. Mas tem um segredinho que os porto-alegrenses acabam entregando: a saudade da terra é compensada nas prateleiras do Zaffari, a rede gaúcha de supermercados que se instalou em território paulistano. De lá, entre outras iguarias, ela busca a erva-mate e a chimia (nome popular do doce de frutas tipo Schmier) de marcas regionais.
A gastronomia variada não é única peculiaridade citada por Mariana. Existe uma quantidade de possibilidades culturais em São Paulo que frequentemente não podem ser aproveitadas. “São shows, peças de teatro, cinema, coisas que não chegariam a diversos lugares”, diz. “Nesse caso, eu faria um adendo: depende também do seu poder aquisitivo e do tempo que você tem para poder acessar a esses bens culturais.”
Mariana Chies: o amor pela culinária japonesa ajudou a unir os pais