Os juros aos consumidores aumentaram em fevereiro mesmo com o volume de financiamentos e a inadimplência caindo, revelou o BC (Banco Central). Ontem, a autoridade, por meio do boletim de política monetária e de operações de crédito, informou que a taxa média de juros à pessoa física passou de 39,9% ao ano, ou 2,83% ao mês, em janeiro, para 41,2% ao ano, o equivalente à taxa mensal de 2,91%, no período seguinte.
Na mesma comparação, o total de empréstimos concedidos, ou seja, vendidos no mês, passou de R$ 139,7 bilhões para R$ 138,4 bilhões, decréscimo de 0,9 %. O estoque, por sua vez, apresentou recuo da ordem de 0,3%, de R$ 749,1 bilhões para R$ 747,2 bilhões. E a inadimplência, ou seja, os atrasos no pagamento das parcelas por mais de 90 dias, caiu de 6,6% para 6,5%. Todas as informações são referentes aos empréstimos provenientes de recursos livres. Isso significa que os bancos têm liberdade de precificar da maneira quiserem o dinheiro emprestado. O professor de Economia do Insper Otto Nogami avaliou que a demanda por crédito dos consumidores tende a cair por causa do efeito psicológico gerado pela Selic, taxa básica de juros nacional, que já subiu duas vezes em 2014 e, atualmente, está em 10,75% ao ano.
Há outro impacto da demanda, que é a sensação de endividamento dos consumidores, o que faz com que deixem de lado a vontade de comprar até que regularizem as principais contas. “Isso está somado a uma percepção de que o poder de compra está reduzindo, por causa do processo inflacionário.” Já pelo lado da oferta, os bancos estão mais seletivos e elevando as taxas de juros como proteção ao potencial risco de inadimplência por causa do endividamento das famílias. “E a tendência é de encarecer ainda mais daqui para frente, principalmente porque a taxa Selic deve subir”, avaliou o professor de Finanças da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) José Ricardo Escolá de Araújo, que também ministra aulas na Trevisan Escolas de Negócios e na FGV (Fundação Getúlio Vargas), e atua como consultor da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos).
Para Nogami, a tendência é de que o cenário de crédito continue com elevações de juros, mais seletividade dos bancos, menor demanda por empréstimos e, consequentemente, estabilidade ou retração nas taxas de inadimplência.
ESTÍMULOS – Em nota, o BC informou que as principais operações de crédito que puxaram a taxa média de juros para cima foram o crédito pessoal não consignado e cheque especial. No caso dos empréstimos pessoais que não têm desconto em folha de pagamento, a taxa média de juros cobrada dos consumidores saltou de 91,2% ao ano (5,54% ao mês) para 94,6% ao ano (5,70% ao mês).
Operação conhecida como limite da conta-corrente, o cheque especial passou de taxa média anual de 154% (8,07% ao mês) para 156,65% ao ano (8,16% ao mês).
Fonte: Diário do Grande ABC – SP – 27/03/2014