19/07/2013
Conheça as histórias de empresários incansáveis, que nunca param de inovar e diversificar seus negócios. Suas lições são estímulos para quem está abrindo ou tocando um empreendimento.
Mesmo após falhar, eles nunca desistem. Com o sucesso garantido, nunca param de inovar. São os empreendedores seriais, um tipo especial de empresário, incansável em bater suas próprias metas para tornar seus negócios maiores, diversificados e relevantes no mercado. Conexão entrevistou especialistas e empresários com esse perfil para mostrar o que eles têm de diferente e quais lições podem ensinar.
“O empreendedor serial está sempre em busca de novas oportunidades e tem isso como um comportamento natural, podendo ou não ser em negócios já estabelecidos, para criar soluções ou serviços inovadores”, afirma o consultor de marketing e estratégia empresarial do Sebrae-SP Wlamir Bello. Para ele, esse perfil está de acordo com os de empreendedores de sucesso contemporâneos, adequados à velocidade do mundo de hoje, sua concorrência e as mudanças no perfil de clientes. “Uma pessoa com espirito empreendedor se pergunta por que sua empresa é importante para o mercado, como se diferencia dos concorrentes. Um simples dono de negócio pede que os clientes se adequem às suas propostas”, completa.
Segundo o professor de empreendedorismo do Insper, Marcelo Nakagawa, um empreendedor serial é mais profissional, pois aprendeu com sua experiência a lidar com técnicas de gestão e a avaliar a capacidade das pessoas. “Eles sabem identificar chances, correr riscos e medir os impactos, sejam positivos ou negativos, de cada nova empreitada. Também são bons em formar equipes, captar recursos e rápidos para tomar decisões”, explica.
Um dos empreendedores com essas características é Robinson Shiba, criador da rede de restaurantes China in Box e hoje presidente do Grupo TrendFoods, incluindo as marcas Gendai, Owan e Brevitá. O empresário começou o negócio, que faturou R$ 280 milhões no ano passado, com pequeno salão no bairro de Moema, na capital paulista, em 1992. Formado em odontologia, chegou a ter três consultórios, porém a ideia de criar a própria empresa era mais forte. Vendeu dois consultórios e pegou emprestado dinheiro com o pai para apostar em um modelo de negócio que conheceu ao trabalhar em alguns restaurantes orientais nos Estados Unidos. A ideia era um formato similar, mas com foco nas entregas de pratos típicos, como o yakissoba. Na época, já havia alguns restaurantes e até uma franquia concorrente atuando em shoppings, contudo, ele decidiu investir em diferenciais “Quando comecei, eu oferecia praticamente o mesmo produto, mas apresentava de maneira diferente, seja na embalagem ou dando os biscoitos da sorte”, conta.
Por seis meses, ainda atuou como dentista até abandonar a profissão para dedicar-se exclusivamente ao negócio. Em dois anos, Já tinha seis lojas, pois reinvestia todos os lucros na expansão da empresa, com unidades próprias ou em sociedade com amigos. “muita gente começou a perguntar-me se eu não queria franquear, mas não entendia o modelo. Por isso, busquei uma consultoria para desenvolver o formato” Em 1994 e 1995, participou de duas feiras de franchising e vendeu em cada uma 35 unidades. “No fim de 1995, já tínhamos 80 lojas. Foi um período muito divertido e assustador. Mas pegamos o bom momento da economia e tive ótimas pessoas ao meu lado para ajudar, como minha esposa, formada em administração, e minha irmã, em publicidade”, relembra. Em 2007, Shiba e um sócio formaram a TrendFoods, para abrigar várias marcas. Com as mudanças, a empresa investiu em algumas experiências sem sucesso, entretanto, nada o suficiente para diminuir seu ímpeto empreendedor “vejo o fracasso como grande aprendizado do que não repetir. Mas ele sempre está contemplado no plano de negócio, estabelecendo quais riscos estamos dispostos a correr e o retorno esperado. Sou mais conservador e mesmo quando abri o China in Box vendi apenas dois consultórios, deixando um se o restaurante não desse certo.”
Apesar do sucesso, Shiba não se acomoda e, no fim do ano passado, vendeu uma participação minoritária da TrendFoods ao fundo de investimento Laço Management, um braço de um grupo dos Estados Unidos. “Aceitamos o dinheiro para expandir mais rapidamente com lojas próprias e ocupar espaços antes da concorrência Minha meta é crescer sempre”, completa.
TUDO DE NOVO
Quem também apostou em inovação para chegar ao topo foi David Pinto, fundador e presidente da franquia Dr. Resolve. Em 2010, quando reformava o apartamento para casar-se, percebeu como era difícil achar mão de obra especializada para o serviço Como já estava pensando em abrir um negócio, investiu na ideia de assistência a reparos domiciliares. Na época, trabalhava na área de expansão de uma franquia de cursos profissionalizantes, mas arriscou. ‘Abri uma loja piloto e, após três meses, expandi para financiar o negócio, escolhendo o modelo de franquia”, conta. Em pequeno evento para 20 pessoas em São Paulo, vendeu as primeiras unidades e deu o primeiro passo na expansão. “Foi um movimento ousado, mas se eu seguisse as convenções, não teria conseguido.”
A empresa foi uma das primeiras a usar o modelo de microfranquia (até R$ 80 mil), ainda pouco conhecido na época, e cresceu rapidamente em 2011, abrindo 352 unidades, a maior expansão de uma rede naquele ano, segundo a Associação Brasileira de Franchising. “0 serviço que oferecíamos era novidade, com um formato de negócio simples que poderia começar com um profissional ‘coringa’ e pouco investimento. Por isso, nos destacamos” E o que começou com serviços de reparos e reformas, logo se expandiu para a manutenção de eletrodomésticos, oferecimento de diaristas e um instituto para treinar mão de obra, agrupando os diferentes ramos de atuação na Resolve Franchising. “Estamos nos posicionando como um serviço para solucionar problemas Começamos com reparos, mas abrimos diversos leques conforme percebíamos as oportunidades de negócios.” Hoje, a empresa tem cem colaboradores diretos, 600 unidades no Brasil e dez na Colômbia. Com um faturamento de R$ 200 milhões em 2012, os planos de internacionalização estão a todo vapor e, no segundo semestre, a rede deve abrir sua primeira unidade em Miami (EUA) e, no ano que vem, chegar ao México. “Sonho no futuro abrir capital na Bolsa”, assegura.
OUSADIA CRIATIVA
Essa ousadia é uma marca comum aos empreendedores seriais, tanto de homens quanto mulheres. Cristina Boner é um exemplo disso começando pela sua formação em uma área tradicionalmente dominada por homens: tecnologia da informação. Após anos dando aulas em uma universidade e trabalhando como funcionária pública fundou sua própria empresa, a TBA, em 1992. Começou o negócio com dois de seus melhores alunos na época e um vendedor, em uma sala de 40 m² no subsolo de um prédio comercial de Brasília Por um ano, ainda conciliou as aulas com a empresa, vendeu carro e penhorou joias para fechar a folha de pagamento. “Foram tempos difíceis, mas acreditava que o negócio valia a pena. Por isso, insisti.” A empresa especializou-se em desenvolver soluções para as plataformas da Microsoft, o que a levou a um de seus mais arrojados passos Quando Bill Gates veio ao Brasil, em 1996, Cristina decidiu chamar a atenção de um dos homens mais ricos do mundo de uma maneira pouco ortodoxa contratou um avião para puxar uma faixa de 150 metros cruzando os céus da capital brasileira com a frase “Welcome, Bill Gates TBA”. Por sorte, o empresário estava perto de uma janela e interrompeu sua reunião para observar No dia seguinte, a empresária foi chamada para conhecer o empreendedor norte-americano, com quem nos anos seguintes manteve contato, pois a TBA ganhou diversos prêmios de excelência da Microsoft “Com Bill Gates, aprendi que o importante é lançar o produto primeiro, participar do dia a dia do negócio, entender cada área, ser inovador e persistir sempre”, conta.
Anos depois, Cristina embarcou em outro plano ambicioso. Proprietária há anos de uma fazenda em Minas Gerais, criava gado, como é costumeiro na região. “Todo mundo cortava madeira para ter gado, mas aquilo me incomodava. Por isso, comecei a plantar mogno e fui diminuindo a criação.” No entanto, ela não sabia que a árvore não podia ser plantada sozinha, mas em florestas heterogêneas para prevenir pragas. Quando descobriu, derrubou toda a plantação “Mas, por ISSO, me aprofundei no assunto e me apaixonei. Com a pesquisa, mudei para a espécie teca.” Em 2008, formalizou a inciativa e abriu a EBFlora para gerir o negócio. Hoje, ela está no conselho de administração das duas empresas que criou, sendo que a previsão de faturamento para a companhia de tecnologia neste ano é de R$ 500 milhões (a TBA tornou-se Globalweb Corp, após joint venture com outra organização do mesmo segmento) e sua plantação está avaliada em R$ 1 bilhão. “Gosto da dualidade dos negócios trabalhar com a tecnologia e sua rapidez e com as árvores que demoram anos para crescer”
NEGÓCIO ARRISCADO
Assumir riscos é uma constante na vida de todo empreendedor, porém existem empresários seriais que têm prazer e são especializados em criar negócios para depois vender. Ricardo Bellino é um desses, definindo-se como um empreendedor de risco Desde Jovem, tinha talento para os negócios, vendendo camisetas, promovendo festas ou fazendo acordos para arranjar clientes para outros comerciantes. Seu primeiro negócio de sucesso foi aos 21 anos, quando teve a ideia de trazer para o Brasil a agência de modelos Elite, do empresário John Casablancas. Após insistentes pedidos, conseguiu agendar uma reunião em Nova York, mas acabou sendo recebido pelo irmão de Iohn, responsável pelas franquias. Para apresentar o potencial do mercado no Pais levou uma fita de vídeo com exemplos de beleza das mulheres brasileiras, porem as conversas não avançaram pela falta de dinheiro de Bellino. O empreendedor continuou insistindo e retornou diversas vezes aos EUA, custeando as passagens como entregador, até finalmente conseguir falar com Casablancas e propor uma parceria. Contra todas as expectativas, Casablancas gostou da ideia e topou. “Eu prefiro que me chamem de louco, pois assim sei que a ideia vai dar certo Quando dizem que é impossível quer dizer que há menos concorrência”, diz.
Após o episódio, começou a empreender de forma continua nas mais diferentes áreas Bellino participou da criação da primeira top model virtual do mundo, chamada Webbie Tookay, contratada por ser a estrela da campanha publicitária de uma empresa de celular Ele também fechou uma parceria com o bilionário norte-americano Donald Trump para desenvolver um empreendimento imobiliário no Brasil, em uma reunião que durou apenas três minutos “Meu negócio é identificar oportunidades, colocar minha energia, viabilizar o negócio, criar valor e depois sair Esse é meu Jogo e o que gosto de fazer”, conta. Sua última investida é criar uma escola de empreendedorismo internacional chamada Escola da Vida, para trabalhar as habilidades necessárias aos empresários de sucesso. “Vamos identificar talentos para investir nas suas ideias e fomentar negócios. Estamos adquirindo uma casa em Barcelona (Espanha) para realizar um programa de 111 dias de imersão para pessoas de todo o mundo.” Uma das lições será que correr risco implica eventuais fracassos. “É preciso saber a hora de desistir, pois não vale a pena gastar tempo em uma coisa sem probabilidade de dar certo. Na agência de modelos, vi muitas mães que acreditavam que a filha era linda. Mas é preciso colocar sua ideia à prova e escutar técnicos e especialistas para ter sucesso.”
Que o diga Teima Rodrigues, dona do Grupo WCS, empresa especializada em limpeza em Valinhos (SP). Natural de Uberlândia (MG), ela teve outros dois negócios que não deram certo antes de acertar com o atual. Sua primeira tentativa foi em 1995. Ela trabalhava em um hotel e, com suas economias, abriu uma academia de ginástica “Sempre tive vontade de empreender, sonhando com carreira de sucesso trabalhando para mim mesma”, afirma Para atingir meta, concentrava todas as questões de gestão (trabalhava das 5h às 22h), mas um problema de saúde forçou seu afastamento da empresa, deixando os dez funcionários cuidando do negócio. “Quando voltei, não tinha mais aluno. A equipe não estava pronta.”
Após dois anos, fechou as portas e teve de recomeçar como empregada, em um hotel e depois em uma empresa que fazia faxina após obras. Mudou-se para Campinas (SP), em 2000, para trabalhar em loja de móveis e também foi governanta em uma casa de família. Quando Juntou dinheiro novamente, montou outro negócio vender lingerie.
“Achei que se preparasse uma equipe poderia lucrar muito, mas não me programei e tinha só dinheiro para começar. Cheguei a ter 15 vendedores, girava bastante dinheiro, contudo, havia problema de inadimplência e atraso nos pagamentos”, conta. A falta de controle e planejamento fez o negócio durar cerca de um ano. “É difícil levantar-se após a queda, dormir empresária e acordar falida. É muito depressivo, mas é preciso ter convicção do que você quer”, lembra.
Mais uma vez, voltou a ser empregada, desta vez trabalhando como secretária na empresa de segurança de um amigo. Arrendou a companhia, porém, nunca desistiu do seu sonho Em 2008, lembrou-se do modelo de negócio da empresa de limpeza pós-obras onde trabalhou e começou a juntar dinheiro. Para não cometer os mesmos erros, investiu em um curso superior de processos gerenciais e participou de todas as capacitações que conseguisse no Sebrae. Em 2011, o Grupo WCS começou a funcionar de sua casa com um telefone e computador, oferecendo insistentemente o serviço para engenheiros e construtoras. Depois, passou a ofertar limpeza para empresas e, em 2012, em residências. Com a lei de domésticas, já começou a sentir aumento dos negócios. Hoje, tem 19 funcionários, atende a 11 empresas e três construções. Só não está expandindo mais para não sobrecarregar sua capacidade de gestão e por falta de mão de obra qualificada Para segurar a equipe, paga acima do mercado e oferece bônus para quem não falta no mês. “Mesmo assim, ainda frequento todos os cursos de empreendedorismo possíveis, para aprender e trocar experiências com outros empresários.”
Fonte: Revista Conexão Sebrae – SP – 19/07/2013