Com pacotes de serviços prontos, as organizações podem queimar etapas e se beneficiar da tecnologia sem precisar investir da estaca zero
Tiago Cordeiro
Aumento global de 15% nos investimentos das empresas em inteligência artificial em 2021, na comparação com o ano anterior, alcançando 342 bilhões de dólares. Outros 19% de crescimento previstos para 2022. Até 2024, deverão ser aplicados mais de 500 bilhões de dólares na tecnologia.
As previsões da empresa de consultoria IDC confirmam uma interpretação muito repetida ao longo dos últimos anos: a inteligência artificial se tornou uma tecnologia padrão e seu uso está ficando corriqueiro. As vantagens são evidentes: melhorar a produção e o desempenho das operações, desenvolver produtos mais alinhados com o público-alvo, automatizar parte expressiva dos processos contábeis, fiscais, financeiros e de recursos humanos, melhorar o atendimento ao cliente, entre muitas outras transformações.
Mas o acesso à tecnologia, até há poucos anos, ainda dependia do desenvolvimento de soluções próprias, o que demandava investimento pesado em infraestrutura e profissionais de tecnologia da informação. Esse cenário mudou, em parte, graças à ascensão da inteligência artificial como serviço (do inglês artificial intelligence as a service, conhecida pela abreviatura AIaaS).
Trata-se de soluções que empregam algoritmos de inteligência artificial, desenvolvidas por empresas especialistas no ramo que atuam como fornecedores terceirizados. Os clientes, geralmente pequenas e médias empresas, pagam pelo direito de utilizar produtos que não criaram internamente, integrando-os em suas soluções próprias, reduzindo o tempo de obtenção de valor. Contam com assistência para reparos e dúvidas e aceleram sua transformação digital a um custo competitivo e previsível, já que os pagamentos costumam acontecer de forma mensal e proporcionais à taxa de utilização desses serviços.
Vantagens e desvantagens
Grandes players do mercado de tecnologia, incluindo Amazon, Google, Microsoft e IBM, oferecem seus próprios serviços de AlaaS. São sistemas, geralmente disponíveis em nuvem, de fácil aplicação em diferentes áreas das empresas, mesmo aquelas que não possuem conhecimento técnico.
Podem contribuir para tarefas específicas, como reconhecimento de voz, visão computacional e processamento de linguagem natural. Recebem as instruções básicas e, como todo algoritmo, aprendem com o uso, que acaba se ajustando às necessidades específicas de cada cliente. Caso seja preciso escalar os projetos, em geral os fornecedores estão preparados para prestar novos serviços complementares.
Conforme destacada o professor André Filipe de Moraes Batista, coordenador técnico do Centro de Ciência de Dados do Insper, “os recursos disponíveis estão colaborando para os processos de transformação digital das empresas, permitindo que algumas rotinas de IA (como o reconhecimento visual, por exemplo) se tornem componentes nas soluções a serem desenvolvidas pelas empresas, otimizando recursos e alavancando os resultados”.
As empresas costumam contratar AlaaS de três principais formas: contratando interfaces de programação de aplicativos (APIs), que funcionam com intermediários que colocam diferentes softwares a aplicativos para interagir; utilizando chatbots; ou agilizando a implementação de soluções em machine learning, em busca de implementar um nível mais sofisticado de inteligência de mercado e capacidade preditiva.
As desvantagens, por outro lado, consistem na dependência dos fornecedores no longo prazo, já que a empresa nunca vai ter acesso às estruturas dos serviços que utiliza. Trocar de fornecedor também pode representar uma dificuldade, pois a migração de uma plataforma para outra nem sempre é simples.
Além disso, considerando que soluções de IA dependem essencialmente da maior quantidade possível de dados para se tornar mais eficazes, os clientes precisam redobrar seus cuidados com a segurança na gestão das informações internas sensíveis.
De acordo com a estimativa da consultoria Market Research Future, o mercado de AlaaS deverá crescer quase 26%, em média, por ano, até 2030. Sinal de que, na balança entre prós e contras, as vantagens sobressaem, e o uso de IA como serviço deverá se manter como uma tendência expressiva ao longo desta década.