30/01/2013
Presença frequente no vocabulário corporativo, o termo “foco” tem ganhado nova dimensão quando se trata educação executiva. Uma abordagem mais direta – ou “focada” – nas questões estratégicas, no dia a dia e na cultura interna é o que tem levado um crescente número de companhias brasileiras a investir mais nos cursos “in company”, considerados o caminho para melhorar o comprometimento das equipes, o conhecimento do negócio e, acima de tudo, o desempenho.
Pesquisa realizada pela FGV in Company, programa de educação corporativa da Fundação Getulio Vargas, concluiu que 85% das empresas que contrataram algum programa de treinamento executivo notaram uma melhoria no desempenho depois do curso. A pesquisa ouviu 22 das 50 maiores empresas do Brasil. Em outro levantamento com gestores de RH de 30 grandes corporações a FGV constatou que 79% das companhias investiram em educação corporativa em 2012 e 100% pretendem investir em 2013. O valor médio investido nesse tipo de curso é de até R$ 10 milhões por ano – para 76% das companhias entrevistas.
A maioria dos especialistas consultados pelo Valor entende que o momento econômico do país ajuda no desenvolvimento dos cursos “in company” por induzir as empresas a trabalharem com planejamento de mais longo prazo, mas o trunfo da educação corporativa “focada” em relação aos cursos “abertos” é justamente auxiliar a empresa a discutir e resolver questões práticas. Embora as instituições de ensino tenham aversão à ideia de comparar o curso “in company” com os serviços de uma consultoria, a maioria admite que o “conteúdo aplicado” acaba por afetar diretamente o desenrolar dos negócios. Nos treinamentos de mais longa duração, os executivos usam seus TCCs (trabalhos de conclusão) para fazer diagnósticos e implementar ideias e mudanças nas organizações em que atuam.
As vantagens do curso customizado são alinhar o conteúdo com as necessidades e as expectativas da empresa, explica Ana Paula Cardoso, coordenadora de Educação Executiva do Insper. Segundo ela, o custo de um programa assim pode ser 50% menor e ainda garante que a empresa tenha o que deseja, já que a escola escolhida só é contratada se formatar o programa de acordo com a encomenda. “Além disso, o aluno entra mais em contato com a estratégia, a cultura e o mercado da empresa”, justifica. Um dos artifícios usados pela escola para evitar que o curso tenha só essa visão “interna” da companhia é trazer professores com atuação no mercado para os programas específicos, de forma a arejar o debate em sala de aula.
“O feedback das empresas tem sido de mais produtividade, mais planejamento e um relacionamento melhor entre as equipes”, comenta Roberto Fialkovits, vice-presidente da BBS Business School. A escola acaba de receber demanda de uma grande empresa da construção civil para um programa de formação em gestão para engenheiros. O curso, ainda não aprovado, vai tratar de aspectos como finanças, custos, estratégia e outros nos quais os profissionais, bem capacitados do ponto de vista técnico, ainda não conseguem ter um desempenho adequado. A empresa, segundo Fialkovits, percebeu que precisa baixar custos, reduzir o desperdício e melhorar a gestão das obras.
As companhias entendem a necessidade de customizar suas soluções, explica José Luiz Trinta, diretor de negócios do Grupo Ibmec. Ele considera que a expansão da educação corporativa modelada caso a caso representa um amadurecimento das corporações para a necessidade de mais desempenho. Além disso, comenta, o salário deixou de ser o único fator determinante. “O profissional pensa na carreira. A empresa que investe nele tem um poder de retenção maior”, justifica. “A adaptação aos interesses da companhia é fator crítico para a contratação, mais até que o preço”, diz Goret Pereira Paulo, diretora do FGV in Company.
No Ibmec, segundo Trinta, os cursos “in company” cresceram 50% em faturamento em 2012 na comparação com o ano anterior e 40% em número de programas – um total de 109 no ano passado. A modalidade representa um terço da pós-graduação do Ibmec. A escola pretende essa participação avance para 40% a 45% este ano, ampliando a oferta de programas em proporção maior do que ocorre com a pós, também em crescimento.
“As empresas retomaram a coordenação desses cursos, porque precisam de uma formação acelerada para dar conta de desafios de projetos e a abundância de recursos”, afirma Antônio Batista, diretor executivo da Fundação Dom Cabral (FDC). Para ele, o programa customizado é a solução que “traz mais valor agregado, porque os cursos são preparados para serem adaptados ao contexto cultural e à estratégia da empresa”.
A tendência de crescimento dos cursos “in company” já vem de alguns anos, comenta Goret. O programa da FGV começou a funcionar em 2005 e desde então já quintuplicou sua carteira de clientes. Só no ano passado, o FGV in Company desenvolveu 400 cursos customizados para empresas e órgãos públicos.
Na avaliação de Batista, da Dom Cabral, esse tipo de curso tem crescido à razão de 20% a 30% ao ano. Para ele, essa é “uma tendência mundial” que vai perdurar por mais dez ou 15 anos, porque há muitas oportunidades e recursos no mundo. A área de treinamento “in company” é a maior área da FDC. Representa 40% do negócio e atende cerca de 300 projetos por ano de grandes empresas, com taxa de recompra acima de 70% e mais de 15 mil executivos treinados por ano em projetos customizados, diz.
Mauricio Queiroz, diretor-geral da faculdade da Fundação Instituto de Administração (FIA), ligada à Universidade de São Paulo (USP), conta que os cursos customizados sofreram uma ligeira desaceleração no primeiro semestre de 2009, reflexo da crise financeira global deflagrada em setembro do anterior, mas já voltaram a crescer com vigor. Na FIA, a modalidade “in company” está em crescimento constante e já representa entre 20% e 30% da atividade.
A expansão da modalidade tem representado uma dificuldade para escolas como o Coppead, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro. “O crescimento está criando a necessidade de o Coppead crescer também, mas essa é uma decisão que depende da UFRJ”, comenta Letícia Casotti, coordenadora do Centro de Estudos em Consumo da instituição. Segundo ela, a escola está sendo obrigada a recusar alguns pedidos. O problema estaria na contratação sucessiva de vários programas pelas mesmas empresas ou órgãos públicos, satisfeitos com os primeiros resultados, afirma a professora. Só para a Prefeitura do Rio, o Coppead ministrou em 2012 treinamento para três turmas com 160 horas cada.
Eduardo Pitombo, superintendente de “in company” da HSM Educação confirma a tendência de expansão e também a proximidade cada vez maior entre a cadeira do executivo e o banco da universidade. A área de educação da empresa, que começou a funcionar no segundo semestre de 2012, já atendeu a 50 empresas e espera um crescimento mínimo de 50% este ano. Segundo Pitombo, esse tipo de programa tem ajudado a diminuir “a lacuna entre academia e empresa”.
Valor Econômico – SP – 30/01/2013