28/04/2018
País conseguiu avanços na diminuição da pobreza e aumento da escolaridade, mas PIB por trabalhador cresceu menos que em outras economias e demografia preocupa.
O Insper e a consultoria Oliver Wyman lançaram nesta quinta-feira (26) em São Paulo um estudo chamado “Renda e Produtividade nas Duas Últimas Décadas”. É o primeiro documento de uma série que vai se chamar “Panorama Brasil”, com trabalhos que buscam diagnósticos dos desafios para o futuro para que “o país entre numa trajetória sustentável de crescimento com melhor distribuição de renda”.
Esse primeiro trabalho é coordenado pelos economistas Ana Carla Abrão, sócia da Oliver Wyman, Marcos Lisboa, diretor-presidente do Insper, e Vinicius Carrasco, da PUC Rio. No texto, o autor Flávio Machado, do Insper, acompanha a evolução de diversos indicadores sócio-econômicos do Brasil desde 1994 e compara com outros grupos de países: emergentes, desenvolvidos e América Latina e Caribe.
Entre os emergentes foi considerado um grupo de 20 países. Entre eles estão Chile, China, Rússia e África do Sul. Na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) se concentram países desenvolvidos como Austrália, Dinamarca, Japão, Reino Unido e França, mas também economias com problemas como Grécia, Irlanda e Itália.
A partir de dados sobre produtividade, PIB per capita, escolaridade, distribuição de renda e expectativa de vida, o estudo aponta onde o Brasil mais evoluiu e onde ficou abaixo das mudanças globais. Grande parte dos dados utilizados para os outros países é do Banco Mundial.
O relatório aponta, por exemplo, que a parcela da população brasileira vivendo em extrema pobreza caiu de 16,5% da população para 4,3% entre 1994 e 2015. A redução, porém, foi uma tendência mundial, principalmente entre os países emergentes.
Caiu também o número de pessoas vivendo em situação de pobreza. Eram 81 milhões de pessoas em 1994; caiu para 45 milhões em 2015.
Outro ponto positivo é que o Brasil conseguiu dobrar a escolaridade média entre 1990 e 2016. Mais de duas décadas atrás, o brasileiro estudava, em média, quatro anos. Em 2016 a média era de oito anos de escola. Na avaliação do relatório, no entanto, essa melhora não se refletiu na qualidade do ensino, uma vez que os alunos brasileiros continuam mal avaliados em testes internacionais.
Na produtividade, a evolução foi mais tímida que na distribuição de renda, segundo os relatórios. O Produto Interno Bruto por habitante cresceu 31% no Brasil entre 1994 e 2016. Na América Latina, o avanço foi de 37%, em média.
São médias menores que a dos países da OCDE, onde a proporção do que a economia produz por habitante cresceu 42% no período, e que a dos Estados Unidos, onde o índice foi de 46%. Os US$ 15 mil anuais do PIB per capita do Brasil em 2016 representam 26% do dado para os Estados Unidos. Em 1994, essa relação era de 29%.
O PIB por trabalhador, uma das medidas mais comuns de produtividade, cresceu 18,6% nas últimas duas décadas no país. O Brasil se posiciona assim à frente da América Latina, onde essa proporção aumentou 12,1%, mas bem atrás dos países da OCDE e dos Estados Unidos, onde a produtividade cresceu, respectivamente 35,4% e 48,1% no período.
Entre as explicações para a baixa evolução estão problemas de infraestrutura do país, que segundo o relatório, não apresenta melhoras significativas desde 2010. O mau ambiente de negócios, marcado pela burocracia, um sistema tributário confuso e falta de crédito para alguns segmentos da economia também são apontados como explicação. No quesito capital humano, a qualificação do trabalhador, o estudo constata que o aumento do tempo de estudo não resultou em melhora no ensino. Esses fatores deixam o país em desvantagem em comparação a outras economias.
Trecho do relatório
O estudo recomenda ainda “uma agenda de abertura comercial que fomente a competitividade” e aumento de segurança jurídica contra quebras de contratos.
A expectativa de vida é tratada pelo relatório como o avanço mais significativo que o Brasil conseguiu nas últimas décadas. O tempo de vida do brasileiro passou de 67 anos em 1994 para 75 anos em 2015, um salto de 8 anos. Nas economias mais ricas, que já tinham alcançado bons patamares de expectativa de vida décadas antes, a evolução foi menor no período: 3 anos nos Estados Unidos e 5 anos entre os países da OCDE. Nos países da América Latina e Caribe, a idade aumentou em 5 anos.
A evolução da expectativa de vida, apesar de uma notícia positiva, é apontada pelos autores do estudo como razão de alguns dos maiores desafios do país nos próximos anos. A população economicamente ativa, que atualmente é de cerca de 70% do total, deve atingir seu ápice em 2023 e passar a cair a partir de então, chegando a menos de 65% por volta de 2050.
A mudança na demografia, com mais idosos proporcionalmente, trará implicações para o mercado de trabalho, o sistema de Previdência e os gastos com saúde, por exemplo.
A proporção de idosos em relação à população economicamente ativa deve saltar nos próximos anos dos atuais 12% para mais de 37%.
Trecho do relatório
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