Fonte: G1 – 25/12/2017
Na crise, 1,2 milhão de brasileiros passaram a trabalhar por conta própria. Para conquistar o freguês, tem até música.
Ao longo desse ano de 2017, 1,2 milhão de brasileiros passaram a trabalhar por conta própria. Foi o jeito que encontraram de ganhar a vida, num ambiente econômico de crise. E eles tiveram que se virar para conquistar o freguês
A oferta é de ovos. Trinta por R$ 10. E sendo em Salvador, embalados com música: “São 30 ovos por R$ 10, 30 ovos por R$ 10, 30 ovos por R$ 10, pode vir que tem, papai.”
“São 5, 6 caixas a mais ou até um pouco mais. A gente consegue vender a mais por causa da música”, afirma Antônio Carlos Santos, vendedor de ovos.
Em São Paulo, a capital brasileira dos restaurantes, da boa comida de todas as origens já é possível encontrar sushi de R$ 10, yakisoba, marmitex de todos os tipos. E como não poderia deixar de ser: pizza e de forno a lenha a R$ 10. Virou uma febre, principalmente nos bairros mais pobres da cidade. Em uma pizzaria, por exemplo, saem umas 200 por dia. No fim de semana, mais ainda.
Produção intensa. Mesmo sem nenhuma encomenda. A pilha vai crescendo, crescendo. E não tem destino certo. A partir do fim da tarde, carregando 25 pizzas cada um, os entregadores partem em busca da freguesia.
E esse é o forte da casa hoje. Mas e a pizza em si? “A pizza de R$ 10 é normal, como se fosse uma tradicional. A única coisa que difere uma da outra é o recheio. Vai menos do que uma pizza normal”, diz a responsável.
E lá vão eles, noite adentro. Não tem música, como na Bahia. Só buzina e grito: “Pizza de 10!”.
Vão aparecendo interessados. Nas janelas, nas portas dos prédios.
Os vendedores ficam com R$ 2 dos R$ 10. E ainda compensa, para todo mundo. Esperar sentado o telefone tocar é que não estava adiantando.
“Não toca. Então é melhor a gente correr atrás do cliente. E graças a Deus está dando certo”, afirma o entregador de pizza.
No último ano, 1,2 milhão de brasileiros passaram a trabalhar por conta própria, segundo o IBGE.
O economista Ségio Firpo diz que num momento de recuperação econômica ainda discreta, ir ao encontro do cliente faz mesmo todo sentido. Usar os R$ 10 como atrativo, também.
“Acaba sendo uma unidade de referência. Não apenas pizza ou ovos que custam R$ 10, mas outros produtos custam em torno de R$ 10. Então, uma forma de você fixar um valor e ficar mais fácil até mesmo na hora do troco. Tem que ir atrás e ser criativo. Estratégias criativas para poder atrair esses clientes e ir atrás ativamente dos clientes”, aponta o professor de economia do Insper.