São Paulo – A abertura do processo de impeachment contra a presidente da República, Dilma Rousseff, pode antecipar o rebaixamento da nota de crédito do Brasil, na medida em que o movimento deve atrasar aprovação do ajuste fiscal, segundo economistas consultados.
Esse processo tende a adiar a retomada dos investimentos no País, até então estimada para o final de 2017. “O Brasil já estava à espera de mais um rebaixamento de rating. . Contudo, a instabilidade política gerada pela abertura do impeachment é apenas um empurrão que acelera esse processo”, diz o economista Raul Velloso.
José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), concorda com essa avaliação, argumentando que o Congresso Nacional, ao ficar absorvido com o processo de impeachment, pode protelar as decisões em torno do ajuste, precipitando mais uma perda de grau de investimento para o País.
“Há uma avaliação de que o processo de impeachment não deve se alongar muito no tempo. Eu discordo. Creio que será um processo extremamente demorado e com novidades a cada dia, pois existem muitas polêmicas em torno dele. Eu, por exemplo, considero frágil a argumentação do impeachment”, diz.
“É importante pontuar ainda que, em 2016, o Congresso estará absorvido por mais três processos: operação Lava-Jato, Zelotes e eleições municipais. Tudo isso tende a paralisar as decisões do ajuste fiscal”, complementa Oreiro.
O Brasil já perdeu o seu grau de investimento pela agência de classificação de risco Standard & Poors em setembro, ao passar de BBB- para BB+, com perspectiva negativa. Porém, ainda o mantém nas outras duas agências, Moodys e Fitch Ratings, sendo que, nesta última, está a uma nota de ter seu rating rebaixado para economia com grau especulativo.
A análise da condição fiscal dos países é observada pelas agências de classificação de risco para fins de avaliação. Por isso, um atraso nas medidas de ajuste coloca em risco a nota soberana do Brasil.
Descontrole da dívida
Já para o economista Amir Khair, a resolução do processo de impeachment deve ser rápida, pois “existe uma vontade generalizada de que a instabilidade política cesse o mais breve possível”.
Para ele, o rebaixamento da nota de crédito do Brasil vai ocorrer antes do esperado, independentemente do desfecho processo de abertura de impeachment, pelo descontrole da relação dívida e PIB.
“A dívida bruta já está perto de 70% do PIB brasileiro, pressionada pela alta taxa de juros praticada no País”, ressalta.
“O que está realmente prejudicando a nossa economia é a política do Banco Central de manter um estoque alto de swaps cambiais e de deixar a Selic [juros] em níveis elevados. Os juros são o fio condutor do crescimento: se estão em patamar baixo, estimulam investimentos e, portanto, a expansão da economia. As agências de rating sabem muito bem disso e, inclusive, levam em conta a relação dívida e PIB para dar nota aos países. Porém, de forma contraditória, não criticam a política econômica brasileira. Pelo contrário, aplaudem”, acrescenta.
Para o economista, com Dilma saindo ou não, o governo federal vai precisar sinalizar retomada de crescimento no início do próximo ano, para reverter a insatisfação popular. Do contrário, diz Amir Khair, o descontentamento se perpetuará no País.
“O que está por trás dessa crise é o mal-estar da sociedade com a política econômica. As pessoas estão com medo de perder emprego e, portanto, se não houver inversão de rumo na política econômica, se a prioridade não for crescimento, as pessoas vão continuar descontentes”, considera.
Confiança
Para Celso Grisi, do Instituto Fractal, a retomada da confiança no governo federal é fundamental para a economia voltar a crescer.
“Enquanto não houver decisão sobre o processo de impeachment, as previsões de PIB tende a se deteriorar ainda mais. Essa decisão tem que ser favorável à saída de Dilma, pois é não existe confiança no governo dela”, opina Grisi.
Ele ressalta ainda que, com as decisões paralisadas no Congresso e um eventual rebaixamento de nota soberana, a retomada dos investimentos no País, prevista para o final de 2017, deve ficar ainda mais para frente.
“Essa indefinição na política amplia o grau de incerteza, paralisando as decisões de investimento e provocando mais desemprego. Diante desse cenário, a retomada do crescimento deve ser adiada”, afirma o presidente do Instituto Fractal.
Contudo, para Otto Nogami, do Instituto Insper, uma maior celeridade no processo de impeachment pode reverter as expectativas, fazendo com que as agências posterguem o rebaixamento da nota do Brasil, acelerando o processo de retomada dos investimentos.
Fonte: DCI – 04/12/2015