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IDH e PIB são insuficientes para mensurar o grau de progresso dos países
22/06/2022
Trabalho de iniciação científica de aluna de Economia do Insper aponta deficiências nos índices utilizados atualmente e propõe uma nova forma de medir o desenvolvimento
A aluna Sofia Lucena Cavalcanti
Bruno Toranzo
Como, de fato, mensurar o grau de progresso de um país? Quais fatores devem ser considerados pelos índices para definir o nível de desenvolvimento? Essas duas perguntas motivaram a pernambucana Sofia Lucena Cavalcanti, de 21 anos, aluna do 4º semestre do curso de Economia do Insper, a escrever um trabalho de iniciação científica, intitulado Processo de Humanização da Medida de Desenvolvimento Econômico. O trabalho se propôs a encontrar um índice ideal ou, ao menos, perto do que possa ser considerado ideal para medir o desenvolvimento.
Como escreveu Sofia em seu projeto, que contou com a orientação da professora Luciana Yeung, o Produto Interno Bruto (PIB) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são contestados “não pela ineficiência econômica, mas pela desconsideração de itens que são importantes para que seja possível entender, de fato, o progresso de um povo”.
Analisando o PIB, ainda que seja o índice mais relevante globalmente, ele representa, conforme explicou Sofia, apenas e tão somente o fluxo de produção e serviços de um local em determinado período. É calculado pela soma do valor final dos bens e serviços produzidos geralmente em um ano. O PIB deixa de fora, portanto, questões como qualidade de vida, saúde e educação. “Há países bem-sucedidos nessas áreas, apresentando grau de desenvolvimento, mas que não estão entre os mais ricos”, observou Sofia.
Já o IDH, que, na prática, acaba por complementar o PIB, traz dados sociais, levando em consideração renda (associada ao PIB per capita), educação (níveis de escolaridade da população local) e saúde (com abordagem centrada na qualidade de vida).
“Mas há um porém: o IDH abrange somente alguns aspectos que influenciam o desenvolvimento”, analisou Sofia. “A segurança pública, por exemplo, não é considerada. As pessoas não se sentem bem em um país com taxa de homicídio alta”, exemplificou. No quesito saúde, o IDH, na visão dela, deveria abarcar questões como nutrição e saneamento básico. “O Brasil e o México estão muito aquém em saneamento, com milhões de pessoas sem acesso a esse recurso fundamental. Essa deficiência precisa constar em um índice de progresso”, afirmou.
O ranking da felicidade
Anualmente, o World Happiness Report (Relatório Mundial da Felicidade), publicação da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU, destaca as nações mais felizes do mundo. Para isso, considera a expectativa de vida saudável, o PIB per capita, o apoio social em tempos de dificuldade, o grau de corrupção e o nível de confiança social, generosidade e liberdade. Os dados são provenientes de pesquisas globais referentes à população de cerca de 150 países. A Finlândia aparece no topo do ranking da edição de 2022, seguida de Dinamarca, Islândia, Suíça e Holanda.
“Usei os dados desse relatório de felicidade como insumo para meu índice”, disse Sofia. A diferença é que ela optou por utilizar a felicidade como um dos fatores que influenciam o bem-estar. “O bem-estar é abrangente por reunir elementos de interação com o Estado, como acesso aos serviços públicos de qualidade, incluindo segurança e renda suficiente para estar inserido na sociedade, além dos critérios considerados pelo World Happiness Report.”
Sofia fez a ressalva, no entanto, de que é impossível contemplar todos os elementos, citando o indiano Amartya Sen, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 1998, que participou da criação do IDH, ao lado do idealizador do índice, o paquistanês Mahbub ul Haq. “O próprio Sen já dizia que o IDH não seria o primeiro nem o último índice, já que sempre existirão fatores a serem contemplados, considerando nesse contexto a evolução da sociedade”, disse Sofia. “Hoje em dia, com a tecnologia dos algoritmos, podemos mensurar uma quantidade infindável de elementos.”