05/07/2013
A estabilidade econômica brasileira, o número de empregos formais e o acesso ao crédito para uma maior parcela da população são alguns dos fatores que estão trazendo ao país a possibilidade de projetar um futuro. O próximo passo será compreender de que forma.
Com histórico de inflações no passado e pouca abordagem nas escolas de temas ligados a finanças pessoais, algumas gerações cresceram sem uma base de como administrar patrimônios. Atualmente, esse gap na formação da população está começando a ser trabalhado nos bancos escolares. Mas e para quem já há muito saiu da escola? Como abordar a educação financeira em casa e investir dinheiro de olho no futuro? Para Ricardo Humberto Rocha, doutor em Administração (concentração finanças) pela FEA-USP, professor de Finanças do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa e autor do Livro Como esticar seu dinheiro (editora Campus/ Elsevier), a educação financeira passa por três fases:
1ª fase – Consciência: “Leva os indivíduos a assumirem o papel de protagonista nas suas finanças, ou seja, no limite: gastar menos do que recebe, o que parece simples, mas muitas são as variáveis que dificultam tal tarefa e impedem a formação de poupança, incluindo aspectos de natureza emocional”.
2ª fase – Planejamento: “O momento de aprender a fazer um orçamento, anotar todos os gastos e despesas. É um momento de organização da vida financeira. O planejamento bem executado possibilita encontrarmos itens não prioritários que vão permitir sobras destinadas à formação de um primeiro fundo de emergência e, posteriormente, usados para iniciar uma carteira de investimentos”.
3ª fase – Conhecimento: “Nesta fase, os indivíduos precisam aprender os fundamentos básicos de economia e finanças, entender o funcionamento dos produtos bancários com ênfase no crédito e poupança, dos fundos de investimento, de previdência complementar e seguros e do mercado de ações. Devem se dedicar a estudar modelos de avaliação de ativos de rendas fixa e renda variável, diversificação de carteiras, gestão de riscos e Governança Corporativa”.
Compreendido os três passos, uma vez que uma pessoa programa seu orçamento e consegue guardar dinheiro, logo virá a próxima dúvida: onde alocá-lo? A resposta não é tão simples quanto parece, pois há diversas opções, que se adéquam aos mais variados bolsos e momentos de vida. Para citar as principais: Para descobrir qual o melhor investimento para você, é necessário analisar o ciclo de vida. “Pessoas mais jovens podem começar a diversificar por investimentos mais arriscados, mesmo sem conhecimento, porque hoje há alguns produtos interessantes: você tem em bolsa, por exemplo, ETFs, que são fundos fechados. Então, uma pessoa jovem pode pôr 10% a 20% do dinheiro poupado em um ETF de small cap, por exemplo, e trabalhar para daqui a dez anos, talvez, aqueles R$10 mil que ela conseguiu investir estarem valendo R$150 mil – e é bem provável que isso aconteça, porque são empresas de alto potencial de valorização”, revela Rocha.
Agora, para quem já casou e possui uma família para sustentar, o aconselhável é, ainda que este indivíduo tenha uma propensão a risco, possuir também uma reserva de segurança.
“O que a gente recomenda: pegue teu orçamento mínimo, aquele valor mínimo que te permite viver. E aí guarde para ter uma reserva de segurança entre 6 e 18 vezes esse valor. Se enfrentar um desemprego temporário, uma doença, algum imprevisto, só o fato de saber que existe essa reserva já dá tranquilidade”, aborda o professor.
Rocha destaca que tal tranquilidade permite à pessoa ousar e provavelmente ter um desempenho profissional melhor:
“Ela vai aceitar o desafio de uma mudança, por exemplo, porque sabe que tem reservas. E, ao contrário, quando a pessoa está endividada, surge uma proposta de emprego e ela já pensa duas vezes: ‘Mas não posso sair, estou aqui há muito tempo, estou seguro, e se lá der errado?’. Isso mexe muito com a emoção”.
Avaliação do perfil do investidor
Para Rocha, a partir de R$10 mil acumulados, já é interessante realizar uma Avaliação do Perfil do Investidor (API) para conhecer a própria capacidade de lidar com eventuais prejuízos. Você é agressivo, moderado ou conservador? Há vários testes disponíveis no mercado para descobrir o perfil, inclusive alguns gratuitos disponibilizados por bancos e corretoras. No Meu Bolso em Dia, uma iniciativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), há uma opção de teste gratuito.
Para conferir, visite o site: www.meubolsoemdia.com.br, acesse a opção Ferramentas – Teste: qual é o seu perfil de investidor (Saiba mais sobre o Meu Bolso em Dia, no quadro da próxima página).
Após conhecer o próprio perfil e analisar em qual momento de vida a pessoa se encaixa, o próximo passo é definir o horizonte de investimento. “Não adianta ser um investidor moderado ou até mesmo agressivo e querer ir para a bolsa se o seu horizonte de investimento é de dois anos! Aí você não vai para a bolsa, vai para a renda fixa! Por outro lado, um homem mais conservador, quando já tem a casa paga, ele e a esposa trabalham e não têm dívida, pode pegar 10% e aplicar na bolsa”, exemplifica Rocha.
É por isso que investir é um processo contínuo, em que não se pode definir, para o resto da vida, apenas um investimento para uma determinada faixa etária. A cada período de tempo há mudanças. O perfil do investidor não muda, mas o objetivo de vida e o horizonte, sim, então é preciso ir adaptando seus sonhos a esses pontos.
Iniciativas para colocar a educação financeira em dia
1. Meu Bolso em Dia: criado no final de 2009, o portal de educação financeira é uma iniciativa da Febraban e traz conteúdos sobre investimentos e dívidas. Ele visa trabalhar o comportamento humano, mostrando que consumir é bom, basta se organizar.
“A gente fala sobre finanças de um jeito mais didático, para pessoas físicas”, explica Rocha, revelando como foi projetado o Meu Bolso em Dia. Ele conta que a iniciativa aborda desde passos básicos, “subindo a régua devagar”, ou seja, trazendo aos poucos a discussão para pontos como previdência, ações e outros tipos de investimento, mas de forma simples.
“As pessoas que se propõem a fazer esse trabalho não criticam o consumo, porque se não tiver consumo a economia também não cresce, mas o que a gente tenta fazer é levar o consumo de forma responsável e sustentável, e isso não só olhando a sociedade, mas também o núcleo familiar”, completa.
Para o professor, a família é peça importante na condução do futuro e uma rápida reunião familiar por semana para conversar sobre como administrar as finanças e programar pequenas conquistas pode unir a família e tornar sonhos possíveis de alcançar.
“A questão principal no âmbito familiar é estabelecer metas que sejam interessantes para todos, como trocar o carro, viajar, comprar a casa própria, e a partir dessa meta definida, cada membro deve colaborar para que seja viável atingi-la”, revela Rocha.
O professor observa que a maioria das pessoas tem muita dificuldade de lidar com o futuro e que o prazer de consumir hoje está muito ligado a aspectos emocionais, o que pode tornar difícil controlar o dinheiro. Por isso, aproximar a família das decisões financeiras pode fazer a diferença e se tornar até mesmo uma tarefa prazerosa. Basta dar os primeiros passos.
Para ajudar a programar os gastos e as entradas financeiras, o professor recomenda o software financeiro do Meu Bolso em Dia, chamado Jimbo. Com uma plataforma bem intuitiva, ele permite organizar entradas e saídas financeiras em tipos de gastos, como alimentação, moradia, lazer, transporte, entre outros. Além disso, traz dicas e ainda incentiva o usuário a poupar. O software é gratuito e, para fazer o download dele, basta entrar no site www.meubolsoemdia.com.br e acessar o Jimbo na aba Ferramentas.
2. Outra iniciativa existente é o TV Educação Financeira, promovida pela BM&FBovespa em parceria com a TV Cultura. Criado em 2011, ele reúne quatro temporadas de programas televisivos sobre educação financeira, que podem ser conferidos gratuitamente no site: www.tveducacaofinanceira.com.br.
A iniciativa visa popularizar conceitos de economia, finanças pessoais e tipos de investimento. Para citar dois exemplos do que é possível conferir na TV Educação Financeira: Rocha esteve no Mercado Municipal de São Paulo vivendo a experiência de ser repórter por um dia, conferindo as dúvidas dos transeuntes e dando dicas sobre educação financeira.
Em outra oportunidade, o programa trouxe uma personagem brasileira que aceitou o desafio de melhorar financeiramente e foi mostrando as evoluções que ela teve ao longo dos programas.
Vale a pena conferir essas duas iniciativas e ver se você e sua família estão no caminho certo para construir e administrar o próprio patrimônio para o futuro. O conhecimento está ao alcance de alguns cliques. Aproveite.
Fonte: Revista ADVFN – 05/07/2013