A população brasileira está descontente com a qualidade de vida e a falta de ligação dos partidos tradicionais com as bases pode levar a uma renovação da democracia no país, diz o especialista Carlos Melo do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa.
Os protestos já vão além do rastilho do aumento dos preços dos transportes públicos?
Não há só uma razão. É uma série de pessoas que se foram acumulando ao longo do tempo, que levara mais pessoas para a rua sem liderança e sem motivos políticos. Temos sectores descontentes com a situação que se manifestam, mas que não têm controle sobre todos os manifestantes, e os mais radicais são os que estão na origem dos confrontos. Sublinho que as manifestações que têm lugar nas ruas do Brasil são democráticas.
Como pode ser atingida a popularidade da presidente Dilma?
A turbulência nunca é favorável para o governante; e os próprios partidos da oposição e o governo estão muito desgastados. Tal como na Europa, estamos a assistir a um problema generalizado da democracia mundial.
Os partidos políticos já não são capazes de estabelecer vínculos com as pessoas. Isso demorou tempo a chegar ao Brasil, porque a crise levou tempo a chegar ao país.
Combinado com as redes sociais, o descontentamento social entrou em choque como velho sistema político.
Qual é a saída política?
O que é preciso saber é se haverá renovação das lideranças políticas no Brasil, o que não terá nada de negativo, desde que seja moderado e não leve ao surgimento de tendências messiânicas.
Se o sistema político souber incorporar as mudanças, isso será benefício para o país. Neste momento, acho que ninguém ganha. As pessoas desconfiam muito da oposição, o que demonstra que os partidos deixaram de responder à sociedade, levando a uma crise de representatividade.
Agora, é preciso ver que os protestos todos exigem uma melhoria da democracia. Não há risco de um retrocesso social, e sublinho que a qualidade das instituições brasileiras é melhor do que a dos outros países dos BRICS, como a China ou a Rússia.
Fonte: Jornal Diário Econômico – SP – 20/06/2013