10/02/2022
Desenvolvido pelo Insper Metricis em parceria com a gestora GK Ventures, o Guia de Monetização de Impacto Social é voltado a empreendedores e investidores
Tiago Cordeiro
Como comparar os resultados gerados por distintos projetos de investimento socioambiental? Quais as técnicas existentes para auxiliar nessa tarefa? Que cuidados fundamentais devem ser considerados nesse tipo de comparação? Para responder a essas perguntas, o Insper Metricis, núcleo de medição para investimentos de impacto socioambiental do Insper, se uniu à GK Ventures, gestora de investimentos com foco em negócios de impacto, na produção do Guia de Monetização de Impacto Social.
O guia apresenta quatro abordagens alternativas para comparação entre projetos. “A Análise de Custo-Efetividade (CE) é uma técnica amplamente utilizada na elaboração de indicadores de impacto social e ambiental. Sua adoção é particularmente adequada a situações nas quais o impacto promovido pelo projeto ou pela política não seja facilmente convertido para valores monetários”, descreve o manual, que está disponível gratuitamente online e foi produzido por Sérgio G. Lazzarini, José Geraldo Setter Filho, Jorge Norio Rezende Ikawa e Octavio Augusto Darcie de Barros, integrantes da equipe do Insper Metricis.
Por sua vez, a Análise de Custo-Benefício (CB) essencialmente propõe a comparação entre benefícios e custos de um projeto em termos monetários e indica a viabilidade econômica de um empreendimento com potencial impacto social.
Já a ferramenta de análise do Retorno Social sobre o Investimento (SROI) segue uma lógica similar à da análise de CB, porém, tenta examinar da forma mais completa possível os benefícios e investimentos do projeto.
Por fim, a abordagem Impact-Weighted Accounts (IWA) procura mensurar de modo comparável — assim como é feito na contabilidade tradicional para indicadores financeiros de organizações em geral — as consequências sociais e ambientais de um projeto.
Além de indicar estratégias válidas para garantir a implementação de cada métrica, o guia também compara cada uma delas. A análise de CE não monetiza resultados, apenas custos, enquanto a análise CB parte de estimativas causais de resultado. Já o SROI tem como vantagem a incorporação de múltiplos stakeholders às análises, enquanto a abordagem de IWA, ainda que em estágio menos avançado de desenvolvimento, é apropriada para comparar organizações distintas.
Acima de tudo, o guia aponta dilemas éticos e morais envolvidos na implementação, como explica, na entrevista a seguir, um dos autores, o professor José Geraldo Setter Filho.
Quais são os maiores desafios envolvidos na comparação do retorno de distintos projetos de investimento de impacto?
Vou ilustrar fazendo uso de um exemplo que está no próprio trabalho. Considere dois projetos, um na área de saúde para idosos e outro no setor de educação para crianças de comunidades vulneráveis. Apesar de seus objetivos muito diferentes, quão comparáveis eles são? Como escolher entre eles se não houver recursos suficientes para ambos? Por um lado, os apoiadores do projeto da área da saúde podem alegar que o programa para idosos deve ter prioridade, argumentando que os idosos têm direito a uma vida digna e atenção especial. Por outro lado, os apoiadores da iniciativa educacional podem acreditar que o programa educacional é mais urgente, pela possibilidade de promover desenvolvimento e aprimorar capital humano.
Entretanto, talvez o maior desafio quando se está diante de um dilema entre dois projetos distintos, numa situação de recursos escassos, diz respeito a questões éticas. Muitas vezes é difícil, senão impossível, monetizar os impactos. Novamente utilizando um exemplo que está em nosso trabalho, imagine um projeto no setor da saúde que contribua para salvar vidas. Qual é o valor da vida humana? Embora existam algumas estimativas propostas, elas são controversas, porque enquanto alguns gestores ponderariam se vale a pena investir em iniciativas que salvam vidas, outros simplesmente argumentariam que o direito à vida é uma prerrogativa moral.
Nesse contexto, qual a relevância da parceria do Insper Metricis com a GK Ventures, em geral, e do Guia de Monetização de Impacto Social, em específico?
De forma geral, essa parceria é um bom exemplo na aproximação entre empresas e a academia, produzindo trabalhos que — ao mesmo tempo — auxiliam as organizações em seus desafios, bem como trazem recursos para fazer avançar a fronteira do conhecimento. De forma específica, o ritmo de crescimento do setor de investimentos de impacto acaba colocando os investidores de impacto muitas vezes frente a dilemas como aquele mencionado em nosso exemplo na resposta à sua pergunta anterior.
Quais os objetivos do Insper Metricis e da GK Ventures com o guia?
Posso falar com mais propriedade pelo lado do Insper Metricis, pois o trabalho está totalmente alinhado com nossa missão de oferecer às empresas, investidores, organizações e governos estudos sobre estratégias, práticas de gestão e metodologias de avaliação direcionados a negócios e investimentos de impacto socioambiental, com vistas a auxiliar o crescimento sustentável desta atividade no Brasil.
Me arriscando a falar sobre a GK Ventures, parceira do Insper Metricis neste projeto sobre Monetização de Impacto, entendo que o projeto se encaixa perfeitamente no propósito da organização e seu senso de urgência frente aos desafios sociais e ambientais enfrentados pelo Brasil e pelo mundo.
Como o senhor avalia o mercado de investimentos de impacto? Ele vem avançando, apesar da pandemia?
Acredito que o grande crescimento percebido já há alguns anos continua firme e forte, talvez agora até potencializado pela atenção que a pandemia trouxe quanto aos desafios sociais e ambientais que mencionei há pouco.
Como os investidores de impacto fazem para verificar a efetividade dos investimentos?
Investidores interessados nesta categoria de investimentos valorizam a gestão de impacto e, no limite, para isso, é necessária a medição de impacto, tema tratado em um outro trabalho do Insper Metricis.
Que métodos são mais indicados para avaliar o retorno dos investimentos de impacto?
Pensando no duplo objetivo dos investimentos de impacto, de retorno econômico com impacto socioambiental, é preciso gerir e medir o impacto, sem perder de vista o retorno financeiro. A partir disso, os investidores podem pensar, sob a ótica do horizonte de tempo, se preferem privilegiar impacto ou lucro, sendo que cada investidor se encaixa em algum ponto de um espectro de preferências, justamente chamado espectro de investimentos, que tem por extremos “impacto primeiro” e “lucro primeiro”.
Para acessar o Guia de Monetização de Impacto Social, clique aqui.