Professora de liderança e gestão do Insper, autora de livros e executiva, Leni Hidalgo Nunes dá voz a um pensamento corrente na área de recursos humanos: um dos principais desafios dos profissionais da área, atualmente, é alavancar a produtividade nas empresas.
“Dada a atual situação econômica no País, as empresas precisam investir em questões como o aumento da produtividade e disciplina de processos. E quem alavanca a produtividade são as pessoas”, afirma Leni.
O processo, prossegue Leni, passa diretamente pelo setor de recursos humanos, que precisa entender qual é o problema de desempenho da organização e a melhor estratégia para promover o negócio.
“Às vezes, é preciso mexer no perfil de contratação, buscando pessoas que possam trazer mais evolução. Também deve-se trazer essa consciência para os funcionários, colocando metas no processo de remuneração, por exemplo”, afirma.
Nesse sentido, montar e administrar um time formado por profissionais com experiências diferenciadas e com visão de futuro são parte importante da busca de produtividade. “As empresas devem saber identificar diferentes tribos e tratá-las de formas diferentes”, diz o líder da área de Digital da Accenture Consultoria na América Latina, Rodolfo Eschenbach.
Essa busca pelo aumento da produtividade ocorre em meio ao quadro de avanço tecnológico, que tem sido o principal responsável pelas mudanças no modelo tradicional de trabalho e nas configurações das organizações. A tecnologia, no entanto, pode ajudar na busca pelo profissional, pois as redes sociais têm sido instrumento de recrutamento e seleção para o RH. Redes profissionais como a LinkedIn tornam o processo de triagem mais objetivo, pois permitem que as empresas localizem profissionais com perfis que desejam.
Ao mesmo tempo, jogos, simuladores e dinâmicas de grupos online são utilizados para eliminar candidatos que não têm o perfil da companhia. Ao reproduzir virtualmente o cotidiano corporativo, os participantes precisam resolver questões relacionadas ao negócio. As velhas entrevistas também estão sendo substituídas por processos via web e, muitas vezes, o candidato só vai à empresa na fase final da seleção.
Remoto. Com o trabalho remoto sendo cada vez mais uma tendência global, ao lado de organizações com funcionários que trabalham em outras praças ou alocados em escritórios dos clientes, a tecnologia ajuda a gerir e a integrar quem não está diariamente nas empresas, evitando perdas de qualidade e mantendo a cultura interna intacta.
“Há dez anos, chefe e subordinado trabalhavam um do lado do outro. Hoje em dia, alguns se veem de duas a três vezes por ano. Por isso, é preciso investir em ferramentas que promovam a comunicação e o convívio entre os colegas de trabalho”, afirma a vice-presidente Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Elaine Saad.
Além de redução de custos, a adoção de modelos flexíveis de trabalho atende as demandas de profissionais das gerações X (1965-1979) e Y (1980-2000), que têm outros valores e buscam, além de salários e benefícios, mais qualidade de vida.
Na opinião de Elaine, o uso de ferramentas tecnológicas é um importante aliado na promoção do engajamento, na integração das equipes e no alinhamento entre os funcionários e a política organizacional.
Redes sociais próprias têm sido bastante utilizadas para promover a interação do grupo e diminuir a distância natural. “As pessoas compartilham ideias, promoções e notícias sobre a empresa com uma linguagem mais descontraída e informal. Um posta, o outro comenta e isso acaba ajudando no engajamento e aumentando a participação”, diz Eschenbach.
Com mais de dez mil funcionários distribuídos em nove escritórios – mais da metade estão em outras praças ou em escritórios de clientes –, a Accenture adotou há cerca de um ano o Yammer, uma rede social desenvolvida pela Microsoft para empresas.
“Antes de colocarmos no ar, fizemos um detalhamento do tipo de conteúdo que deveria ser postado, com informações semanais de RH e treinamento. Depois fizemos ajustes, de acordo com o retorno dos funcionários”, diz a gerente de comunicação da empresa, Sheila Esteves. “Conseguimos mensurar a participação dos funcionários. É possível fazer pesquisas com retorno imediato. Fizemos festas locais de final de ano e os funcionários de cada local escolheram o que queriam comer, beber e até que música queriam ouvir”, conta a especialista em recursos humanos da Accenture, Paloma Shibata.
Dispositivos utilizados no gerenciamento e acompanhamento do trabalho dos colaboradores devem ser constantemente adaptados para as novas realidades. As tradicionais avaliações de desempenho, por exemplo, não podem ser feitas da mesma forma entre todos os funcionários. “Como avaliar a performance de quem não está diariamente na empresa? Os critérios e as metas são outros. Esse trabalho deve ser intermediado pelo RH para que seja feito de uma maneira melhor”, afirma Elaine, da ABRH.
Fonte: O Estado de S. Paulo – 27/12/2014