05/12/2014
Elevação da taxa básica de juros para 11,75% ao ano deixa fundos de renda fixa com taxas de até 2%, no longo prazo, mais vantajosos
Com a elevação em 0,50 ponto porcentual da taxa básica de juros (Selic) pelo Copom– para 11,75% ao ano –, os fundos de renda fixa ficam mais atrativos para a carteira dos investidores em relação à caderneta de poupança.
Segundo estudo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), fundos de renda fixa com taxas de administração de até 1% ao ano rendem mais do que a poupança seja qual for o prazo de resgate. À taxa de 1,5%, o rendimento da caderneta só se iguala aos fundos com resgate em até seis meses; à taxa de 2%, os fundos superam a poupança a partir de um ano de investimento.
“A vantagem dos fundos em relação à poupança deve crescer cada vez mais no próximo ano, com a sinalização da nova equipe econômica de que teremos um ciclo de aperto e de alta de juros”, explica Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor de Estudos Econômicos da Anefac.
Na simulação, com o novo patamar da Selic, a poupança rende ao ano 7,44% ao ano (6,17% mais a Taxa Referencial). Assim, um investimento de R$ 10 mil vai valer, ao fim de 12 meses,R$10.744. A mesma aplicação em um fundo com taxa de administração de 1,5% pagaria mais ao investidor, totalizando R$ 10.783.
Desde agosto do ano passado, quando a Selic chegou a 9% ao ano, os rendimentos das poupanças antiga e nova foram igualados. Coma Selic maior do que 8,5%, ambas as cadernetas rendem 0,50% ao mês (6,17% ao ano) mais a variação da Taxa Referencial (TR). Sobre o investimento em poupança não há incidência do Imposto de Renda.
Taxas. A competitividade dos fundos de renda fixa, no entanto, está atrelada à taxa de administração, que tem relação direta com o montante aplicado. A vantagem da renda fixa é preponderante com taxa de até 1,5% – que é mais do que os investidores de pequeno porte costumam pagar.
“Só os grandes aplicadores conseguem taxas tão baixas. O investidor comum hoje obtém taxas entre 2% e 2,5% ao ano”, afirma Oliveira. “Para conseguir uma taxa de 2% (que garante a vantagem da renda fixa frente à poupança no longo prazo), o investidor precisa colocar pelo menos uns R$ 5 mil, R$ 10 mil. Menos que isso, só a taxas maiores, e aí a poupança rende mais.”
Para Otto Nogami, professor de economia do Insper, é preciso que o investidor tenha cautela e busque opções de taxas competitivas no mercado. “A gente tem que tomar um pouquinho de cuidado com a taxa de administração e com o prazo. É preciso colocar tudo na ponta do lápis”, diz o professor. Para ele, a partir de 12% ao ano, porém, os fundos seriam vantajosos em praticamente qualquer ocasião.
A renda fixa fechou o primeiro semestre como aplicação mais rentável. No acumulado do ano até novembro, só perdeu para o dólar, que apresentou um a escalada no último mês.
Cenário. Com a indicação do governo de novas altas na Selic para equilibrar a economia e controlar a inflação, Oliveira,da Anefac, recomenda que o investidor opte por fundos e títulos pós-fixados. “Para acompanhar essa nova onda da Selic, o investidor deve apostar nos pós-fixados, como nos fundos DI, por exemplo, e não em pré-fixados, que seriam mais apropriados num cenário estável”, diz.
Para Otto Nogami, o pequeno investidor deve se manter na poupança. “Dada a perspectiva nebulosa que ainda temos, indiscutivelmente quanto mais seguro melhor”, diz. “Já o investidor de médio porte, que conta com a ajuda de algum especialista,pode diversificar entre poupança para o curto prazo, renda fixa para o longo prazo e Bolsa, que ainda guarda boas oportunidades”, diz. A recomendação do professor para esse perfil seria de 50% na renda fixa, 40%na poupança e 10% em Bolsa.
Novo cenário
“A vantagem dos fundos em relação à poupança deve crescer cada vez mais no próximo ano, com a sinalização da nova equipe econômica de que teremos um ciclo de alta de juros”, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, Diretor da ANEFAC.
Regras
Desde agosto de 2013, quando a Selic chegou a 9%, o rendimento das poupanças antiga e nova foi igualado. Com a taxa acima de 8,5%, rende 0,5% mais variação da TR.
ANÁLISE: José Paulo Kupfer
Alta reforça sinal de condução mais ortodoxa da economia
Não é exatamente o risco de a inflação superar o teto da meta que deve ter levado o Copom a confirmar a onda de apostas em elevações mais fortes da taxa básica de juros, no atual ciclo de alta. Na política monetária, há defasagens entre os atos e os fatos, e, assim, a decisão de ontem só terá impactos em 2015.
Elevar os juros básico sem 0,5 ponto também não parece algo muito sintonizada com a clara indicação de que o reequilíbrio das contas públicas será prioridade da nova equipe econômica, sem falar do estado de estagnação da economia. A austeridade anunciada, pelo menos em tese, poderia exigir menos da política de juros.
Restam, no campo mais técnico, os efeitos do câmbio na trajetória da inflação. A tendência do momento é de desvalorização do real ante o dólar e elevar juros opera tanto para conter pressões inflacionárias quanto para evitar altas mais acentuadas da moeda americana.
Ocorre que nem só de variáveis técnicas vive a política econômica. A elevação atende a declarações do presidente reconduzido do BC, Alexandre Tombini, na direção de maior rigor na busca do centro da meta de inflação. Segundo o mercado, a alta de dezembro seria seguida de outra de 0,5 ponto, em janeiro, e mais uma, em março, de 0,25 ponto, fechando o ciclo em 12,5%. Mas agora, com a “parcimônia” mencionada no comunicado, talvez a sequência seja abrandada. A alta maior nos juros básicos é, antes de tudo, mais um sinal de que a política econômica mudará e será mais ortodoxa.
Fonte: O Estado de S. Paulo – 04/12/2014