28/11/2014
Os estudantes da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo tinham dois pequenos fundos patrimoniais para receber doações de ex-alunos e de empresas com a ambição de financiar pelo menos parte dos programas de ensino de engenharia, que hoje são bancados quase que exclusivamente pelo orçamento da universidade.
Neste ano, os dois fundos juntaram forças e formaram o Amigos da Poli para captar mais recursos e financiar projetos dos alunos. O fundo já tem R$ 7 milhões em caixa e só o rendimento anual é suficiente para bancar parte de 12 projetos de extensão.
“Queremos um dia bancar a reforma da Poli, mas por enquanto o foco são os projetos dos estudantes. E projetos de ensino, porque pesquisa tem outras fontes de recurso”, disse Maximo Gonzales, diretor do fundo da Poli.
Entre os projetos financiados está o da equipe Thunderatz, que desenvolve robôs para lutas em competição.
O Amigos da Poli segue o modelo dos fundos patrimoniais de universidades americanas e europeias, conhecidos como fundos de endowment. Eles captam doações e recebem imóveis e dinheiro de heranças para financiar o custeio das universidades.
No Brasil, as universidades públicas são financiadas pelos governos federal e estadual, enquanto as privadas são bancadas pelas mensalidades escolares.
No modelo americano, só um terço do orçamento vem das mensalidades dos alunos. Outro terço é recebido para a pesquisa, por meio de parcerias com setor público, fundações e empresas privadas. E a terceira parte vem do rendimento desses fundos patrimoniais, que recebem doações e heranças.
O imposto sobre heranças, que chega a 50%, estimula os donos de grandes fortunas a destinarem parte do espólio à caridade.
Na Universidade Harvard, 35% das receitas vêm do rendimento do fundo de endowment, que tem US$ 36,4 bilhões e é o maior do mundo. As mensalidades dos estudantes respondem por 20%, enquanto patrocínios e parcerias entram com o resto.
Mesmo em instituições públicas como a Universidade de Michigan, só 9% do orçamento vem do governo; 21% vem de mensalidades e o restante do endowment, doações, parcerias e prestação de serviços à comunidade.
A ideia foi seguida pela FEA (Faculdade Economia e Administração) da USP, que bancou metade da reforma da biblioteca por meio de doações, sendo a maior doação a do acervo pessoal do professor emérito Delfim Neto. O fundo patrimonial da FEA já tem R$ 200 mil e está em fase de constituição.
O Insper tem um programa ambicioso de captação de doações que banca bolsas de estudo para 141 alunos, que vão de 10% a 100%. As bolsas parciais são na verdade um empréstimo, que depois de terminado o curso os estudantes reembolsam.
Já as integrais não são reembolsadas. Para o próximo ano, o fundo de bolsa já captou R$ 2 milhões.
“Não queremos ter um curso só para aluno rico, mas para todos que tenham talento e que queiram estudar“, diz Claudio Haddad, presidente do Insper.
A expansão do Insper é bancada por doações e patrocínios, que vão de R$ 100 a R$ 450 mil. O novo curso de engenharia já levantou R$ 90 milhões em doações.
Total de brasileiros em faculdades dos EUA salta 22% com programa
Está mais fácil ouvir o português nos corredores de universidades norte-americanas. De acordo com dados do International Institute of Education, o número de estudantes brasileiros nos EUA cresceu 22,2% no ano letivo iniciado em setembro de 2013.
Foi o segundo ano consecutivo de aumento nesta proporção, depois de três períodos de variação baixa nos números. Hoje, são 13.286 alunos em faculdades no país, contra 8.767 cinco anos antes.
O grande responsável pelo aumento, segundo o presidente do IIE, Allan Goodman, é o programa federal Ciência Sem Fronteiras. Criado em 2011 com o objetivo de conceder 101 mil bolsas no exterior, o programa se tornou uma fonte de alunos estrangeiros -e receitas- para as universidades dos EUA.
Na Universidade de Miami, beneficiada também pela grande concentração de brasileiros no Estado da Flórida, o número de estudantes cresceu 184% desde 2010.
“O interesse pela instituição cresceu em vários países, mas os dados do Brasil são muito significativos. O número de alunos quase triplicou nos últimos quatro anos”, diz o reitor, Thomas LeBlanc.
Hoje Brasil fica em décimo lugar no ranking de países com mais estudantes nos EUA, à frente de todos os outros na América do Sul. Nas três primeiras posições estão China, Índia e Coreia do Sul.
O programa, chamado nos EUA de Brazilian Scientific Mobility Program, paga os estudos e também um auxílio para os aprovados.
Para receber alunos brasileiros, as universidades têm de se inscrever no programa.
Mensalidades
Hoje, 475 instituições norte-americanas podem abrigar estudantes vindos do país.
“O programa é muito bom para os Estados Unidos. Nossos jovens não têm o costume de estudar fora, então esse contato com pessoas de outros países é importante, também ajuda em sua formação”, diz Goodman, do IIE.
“É uma boa experiência conviver com estudantes de todo o mundo. Isso é importante para os alunos norte-americanos, mas também para os estrangeiros”, diz Monroe France, vice-presidente de Diversidade Estudantil da NYU (Universidade de Nova York). A NYU tem a maior concentração de alunos estrangeiros dos EUA.
O interesse pela diversidade não é, no entanto, o único atrativo do programa brasileiro para as universidades norte-americanas.
Como a maioria das instituições nos EUA, elas também foram afetadas pela crise econômica, cujas consequências ainda são sentidas no país. E, em muitas delas, ao menos um terço das receitam vem das mensalidades e taxas pagas pelos alunos.
“Somos uma instituição alimentada principalmente por mensalidades. O que impulsiona nosso orçamento é o número de estudantes que pagam”, afirma France.
“Quando o governo de outro país pode garantir o pagamento dessas despesas para seus alunos, isso é bastante benéfico para nós.”
Fonte: Folha de S. Paulo – 24/11/2014