30/05/2022
A primeira edição do encontro “O que tem DADO certo”, realizado pelo Centro de Ciência de Dados do Insper, reuniu líderes das startups Will Bank, Noh e Conta Simples
Tiago Cordeiro
Inaugurado pelo Insper no início do ano, o Centro de Ciência de Dados é um espaço voltado para integrar programas de ensino, estimular pesquisa e extensão e maximizar parcerias com empresas e setor público, propiciando um ambiente de geração de pesquisa e inovação.
Faz sentido, nesse contexto, realizar eventos com líderes de diferentes setores da economia, dispostos a conversar sobre o impacto dos dados em suas atividades. Foi com esse objetivo que surgiu a série de encontros bimestrais “O que tem DADO certo”.
“Atendemos a dez setores da economia. Queremos saber que dados as organizações estão usando e o que vem funcionando”, afirma André Filipe de Moraes Batista, professor do Insper na área de inteligência artificial e coordenador técnico do Centro de Ciência de Dados.
Realizada no dia 12 de maio, na sede do Insper, em São Paulo, a primeira edição reuniu os líderes de três fintechs: Will Bank, Noh e Conta Simples. Eles falaram de negócios, é claro, mas principalmente do impacto dos dados para a definição de suas estratégias. Foi uma conversa franca: metade do tempo foi dedicada a responder a perguntas e interagir com a plateia.
“O algoritmo passou a ser menos importante do que o uso do dado. O segredo do sucesso está muito mais na profusão de dados no que de criar um algoritmo”, afirmou o mediador, Gustavo Roxo, com 20 anos de experiência na indústria financeira e fundador da 39A Ventures, empresa de capital de risco focada em oferecer conhecimento e suporte financeiro para organizações em mercados complexos.
“No mercado financeiro, existia um problema até cinco anos atrás: havia uma simetria de dados muito grande entre os players já estabelecidos”, prosseguiu. Para quem queria montar um negócio novo, não havia a mesma qualidade de informação, por isso a capacidade de entregar bons produtos era muito baixa. Essa farra está acabando.”
O ex-aluno do Insper Nassim Ghosn, da Conta Simples, uma startup que surgiu dentro do Centro de Empreendedorismo da instituição, relatou que o uso de dados foi decisivo para ajustar a rota do negócio desde suas origens. “Surgimos como uma fintech dedicada a pessoas jurídicas. Foi com uma simples análise de dados que identificamos nosso segmento e nosso principal produto. Desde então, fazemos múltiplos cartões corporativos para e-commerce”, disse.
O estágio seguinte foi caracterizado por dificuldades para definir o organograma e alinhar entre diferentes times conceitos simples, como o de cliente ativo. Foi quando a empresa desenhou um catálogo de dados, que ajudou a definir a estrutura organizacional, e formou seu data lake, que permitiu distribuir informações pela empresa.
“A autonomia das áreas, garantida pelo data lake, permitiu que levássemos a análise estratégica para todas as pontas do negócio”, afirmou. Hoje são 60 mil clientes e 2 bilhões de reais transacionados pela plataforma.
Os representantes das outras duas fintechs presentes focaram suas falas na importância de utilizar os dados para buscar novos mercados. No caso da Noh, o foco é em um nicho não explorado: o de pessoas que dividem contas, especialmente casais. Os fundadores desconfiavam que havia aí um mercado promissor, que foge do padrão tradicional dos bancos, que atuam sempre para pagadores individuais. Mas utilizaram dados para confirmar a viabilidade da fintech, que lançou o aplicativo há três meses.
“Muitas vezes sem perceber, compartilhamos contas a todo momento, especialmente quando moramos com outras pessoas”, relatou Paula Cardoso, que atua na área de branding & marketing na Noh. “Colocamos uma lupa sobre os casais, identificamos padrões de comportamento e etapas que eles utilizam, que envolvem planilhas e mensagens de WhatsApp. Definimos um público de 17 milhões de casais, de 18 a 40 anos, que dividem moradia, são bancarizados e poderiam ser beneficiados por uma solução multiplayer e de simples experiência”, disse.
Já o Will Bank atende um perfil que passa longe dos moradores de classe média e alta dos grandes centros urbanos das regiões Sul e Sudeste. “Temos a missão e a ambição de oferecer produtos e serviços financeiros a um público que é invisível ao mercado financeiro tradicional”, afirmou Ricardo Saad, CFO da fintech. Mas como atender esses clientes que vivem em cidades pequenas, especialmente no Nordeste? Que bases de dados utilizar nesses casos?
Luanna Shirozono, head de Data Science & Analytics da fintech desde outubro de 2021, também presente ao evento, respondeu a essa dúvida. “Trabalhamos as variáveis antes de desenhar os modelos e aplicamos nosso propósito, que é pensar no crédito como direito humano. Geramos dados próprios, combinando diferentes fontes, inclusive pesquisas nos locais. Se você conhece seu cliente, essas informações viram algo único e é onde nos diferenciamos.”
O resultado é que a empresa já aprovou 2,5 milhões de cartões, cresceu mais de seis vezes em três anos e mantém mais de metade da base de clientes em cidades de pequeno porte, sendo que 80% dos usuários ganham menos de três salários mínimos. “Utilizando tecnologia aplicada a dados, conseguimos rodar modelos próprios para aprovar cartões, transformando a relação de confiança com os clientes”, disse Saad.
“Sejam empreendedores com os dados”, convidou Shirozono. “Esta é a grande chave para mudar o mundo.”