14/05/2020
Em entrevista, Pedro Burgos analisa os principais impactos das fake news neste momento de pandemia, as medidas criadas por estados e plataformas para combatê-las e como podemos agir para impedir a sua circulação.
ENTREVISTA| CONTEÚDO SOBRE A PANDEMIA DE COVID-19 |ACESSE A PÁGINA ESPECIAL
Seguindo os esforços conjuntos de toda a Comunidade Insper para mitigar o impacto da Covid-19, produzimos conteúdos especiais para colaborar na tomada de decisão e na superação dos desafios deste período.
Gerar conhecimento que impacte positivamente a sociedade é uma das nossas missões e, neste momento, reforçamos nossa atuação com uma série de entrevistas, matérias, vídeos e webinars que abordam diversos temas e destacam cuidados e orientações que todos devemos atentar durante o isolamento social.
Nesta entrevista, Pedro Burgos, Coordenador do Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo, analisa os impactos das fake news, as medidas criadas por estados e plataformas, como podemos agir para combater a circulação de desinformação e traz matérias de referência sobre o assunto. Acompanhe:
1) Quais os principais impactos que as fake news podem causar, principalmente neste momento de pandemia?
As fake news podem gerar problemas de todos os tipos, tanto individuais quanto coletivos. Uma informação falsa sobre a eficácia de tratamentos médicos, por exemplo, pode levar alguém a usar um remédio com sérios efeitos colaterais. Mas o impacto das fake news não se restringe ao indivíduo, já que no caso de uma pandemia, uma pessoa que se expõe mais ao vírus por acreditar em informação duvidosa coloca em risco muito mais gente. Além disso, o constante questionamento da seriedade dos conselhos das autoridades de saúde e cientistas levam a um ambiente de desconfiança aguda, que pode ter repercussões que não se encerram nessa pandemia. O movimento antivacina é um exemplo disso.
2) Alguns estados estão criando multas com o objetivo de punir quem cria e/ou divulga fake news. Qual a sua visão sobre esse tipo de medida?
É um tema bastante complicado. De maneira geral, sou contra novas leis, porque já há no nosso arcabouço legal maneiras de tipificar crimes relacionados a fake news. Uma mulher em Belo Horizonte que espalhou a notícia de que caixões vazios estavam sendo sepultados foi indiciada, porque existem contravenções como “propagação de pânico”, “denunciação caluniosa”, etc. E mesmo se bem-intencionadas, novas leis podem gerar efeitos perversos contra a liberdade de expressão, como vimos em países que endureceram contra a desinformação, como a Alemanha. Especialmente em ano eleitoral, diria que é preciso tomar cuidado.
3) As plataformas digitais estão colaborando com o combate às fake news? Há experiências que podemos destacar?
Creio que no geral, sim. No Facebook é cada vez mais comum ver alertas de notícia potencialmente falsa, Instagram e Twitter têm se esforçado em apagar ou diminuir o alcance de postagens com informações falsas de saúde… No buscador Google e no Youtube, os vídeos de fontes científicas aparecem em primeiro lugar nas buscas, com destaque. Mesmo no WhatsApp, onde é mais difícil conter a desinformação, limitou-se bastante a capacidade de compartilhamento de mensagens. Então, acho que se compararmos com outras crises, ou mesmo eleições anteriores, há avanços. Mas claro que elas poderiam fazer mais. É um processo.
4) Como todos nós podemos colaborar para impedir a circulação de fake news?
Creio que o segredo é manter mais afiado nosso senso crítico. Se uma notícia é muito bombástica, se um número parece muito absurdo, ou se há a informação de uma cura milagrosa, é melhor desconfiar. Antes de compartilhar uma notícia, cheque se ela foi dada por alguma fonte de confiança, um veículo jornalístico grande, ou se foi referendada por um especialista. Além disso, há uma série de sites com checagens de boatos que têm feito um excelente trabalho e devem ser consultados. Quando me deparo com uma notícia duvidosa, eu não falo simplesmente “é falso”, mas coloco junto um link de uma checagem já pronta, que traz todas as evidências.
5) Onde podemos encontrar material de referência para aprofundar a discussão sobre esse tema?
Do ponto de vista do consumidor de notícias ou informações, no geral, recomendo acompanhar o trabalho das agências de checagem, como o Aos Fatos, Agência Lupa e o projeto Comprova. Em termos de estudos sobre o tema, muita coisa está sendo produzida no First Draft e no Shorenstein Center, de Harvard. A ciência da desinformação – por que as pessoas acreditam nessas histórias, como as fake news se propagam, como diminuir o contágio, etc – é um campo relativamente novo, mas tem se mostrado extremamente importante. Especialmente em uma crise como essa.
Pedro Burgos. Coordenador do Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Insper, é jornalista e programador. Antes de chegar ao Insper, em 2019, foi por dois anos Knight Fellow do Centro Internacional para Jornalistas (ICFJ), onde desenvolveu um projeto de medição do impacto do jornalismo (Impacto.jor), com apoio do Google News Initiative. Além do trabalho no Insper, é atualmente conselheiro editorial do site de notícias Vortex Media, colunista da revista Época e membro do Conselho Consultivo da Agência Mural de Jornalismo das Periferias. Formado em Jornalismo pela Universidade de Brasília (UnB), tem mestrado em Jornalismo Social pela City University of New York e foi pesquisador visitante na School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia. Como jornalista, passou por veículos como Superinteressante, Gazeta do Povo, Jornal do Brasil, Gizmodo Brasil, The Marshall Project, entre outros. Mais recente, como programador, desenvolveu projetos de automação do combate à desinformação para a agência de checagem Aos Fatos e o First Draft (EUA). É autor do livro Conecte-se ao Que Importa – Manual da Vida Digital Saudável (2014).