08/08/2014
É difundida a ideia de que abrir o próprio negócio pode ser a solução perfeita para quem quer fugir do patrão e, ao mesmo tempo, ajudar a economia por meio da criação de empregos e do aumento da produção. Esse passo, no entanto, requer planejamento e cuidado para não terminar mal. Além disso, há uma linha ténue entre a realidade e a ilusão paradisíaca que pode ser projetada sobre o assunto: afinal, existe realmente vida sem chefe?
“O número de empreendedores brasileiros vem se multiplicando consideravelmente nos últimos anos e, por isso, essa atividade já representa grande relevância na economia do pais”, analisa o sócio-líder de Mercado Empreendedor da KPRIG, administrador Sebastian Soares.
A ilusão, no entanto, vem quando abolimos completamente o conceito de chefe. Na realidade, não é bem assim. “Quando você trabalha por conta própria, o seu chefe será o cliente. E ele cobra sempre quando não há a entrega do que é esperado. Você precisa criar um chefe interno para lhe cobrar sempre, impor altas metas e evitar a permanência em uma zona de conforto”, diz o administrador Marcelo Nakagawa, professor de empreendedorismo do Insper.
Segundo o administrador Jeronimo Mendes, autor do livro Manual do Empreendedor (Editora Atlas), na falta de um superior formal, os fornecedores, clientes e colaboradores serão o termômetro da atuação de quem trabalha sem um superior hierárquico. Eles são os fornecedores de feedback do profissional. Se você não estão bem, logo não fechará mais contratos, não terá mais clientes e muito menos empregados. Ser autônomo significa ser chefe de si mesmo e isso exige planejamento. persistência e amadurecimento.
Contudo, muita gente se aventura a trilhar o próprio caminho, mas não vai muita longe por falta da consciência de que o mandachuva deixou de ser aquele que dá orientações diretas e passou a ser outros indivíduos envolvidos nos negócios. “Quem não toma ciência dessa interdependência vive sob uma gestão de conflitos. Se não enxergar o colaborador como um parceiro estratégico, ele não vai apresentar todo o seu potencial na execução das tarefas, ficará restrito a normas e procedimentos para continuar sob controle. E, se bater de frente, acaba gerando mais problemas e não aproxima os parceiros”, mostra Davi Jerônimo, consultor do Sebrae-SP e formado em Administração.
A consequência da falta de direção é o comprometimento da sobrevivência da experiência da vida sem chefe. “É muito complicado largar o emprego convencional apenas para não ter chefe. Ele deveria montar um negócio por considerar válido, por ser uma oportunidade de mostrar o talento, não apenas por deixar de ter um chefe”, reforça Nakagawa.
Cerca de um quarto da população brasileira em idade para trabalhar. 23,2%. atua por conta própria. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicilio Continuada, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, de acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, a taxa de mortalidade das empresas com mais de dois anos de funcionamento corresponde a 24,6%. Na prática, uma em cada quatro empresas fecha até dois anos após a criação. Grande parte desse índice pode ser atribuída à má condução administrativa.
“O provérbio é antigo, mas vale para qualquer coisa: quem não sabe para onde vai, qualquer lugar serve. Se você não sabe mesmo, nunca saberá se chegou lá. Sem planejamento, o gasto e o sofrimento são maiores que o necessário e, principalmente, prejudica o amadurecimento e consolidação de qualquer negócio”, alerta Mendes.
O papel do administrador
A falta de uma gestão profissional põe em risco a sobrevivência de autônomos e micro e pequenas empresas. Segundo o Sebrae-SP, muitos empreendedores deixam de fazer a lição de casa básica – pelo menos aos profissionais de Administração : 55% não elaboram um plano de negócio: 46% não sabem o número de clientes que teriam e os hábitos de consumo deles, 39% não sabiam qual era o capital de giro necessário para abrir o negócio, e 38% desconheciam o número de concorrentes que teriam.
“Apesar de muitas pessoas terem algum conhecimento teórico, faltando apenas a vivência especifica, a maioria não tem base alguma, abre um negócio sem planejamento prévio, sem imaginar aonde quer chegar daqui a um ano, sem controle financeiro, quanta investir, necessidade de estoque. Sem planejamento, acaba-se misturando as prioridades, envolvendo atividades não pertinentes e isso sufoca o profissional ainda mais e sem ter o mesmo retorno”, critica o consultor do Sebrae. “A ideia de que os empreendedores são apenas sortudos apostadores é totalmente equivocada. O sucesso deles é fruto de persistência, autoconhecimento e uma profunda avaliação dos riscos do negócio”, explica Soares.
Nakagawa enfatiza a importância da formação em Administração como base a quem pretende ter uma vida autônoma ou com uma pequena empresa. “Se tem alguém com condições de trabalhar por conta é o Administrador. Desde a época de faculdade, ele aprende ou resgata conteúdos nesse sentido. O administrador tende a ter uma visão mais completa”.
Aos demais profissionais, Mendes recomenda a busca de suporte de um profissional de Administração capaz de trazer à tona as análises necessárias ao bem estar dos negócios. “Não há como fugir da gestão. Uma coisa é criar algo futurista, tecnológico, outra é fazer com que isso se consolide e produza resultados. dos pontos de vista econômico e financeiro.
Fonte: Revista por Demanda – 01/08/2014