30/10/2013
Ex-alunos e universidades buscam maior aproximação
Grupos de alumni se organizam no Brasil a exemplo do que acontece em outros países.
Mais forte nos Estados Unidos e Europa, a cultura de manter uma ligação próxima com a instituição de ensino após a formatura ainda busca espaço no Brasil. Embora as chamadas associações de alumni já existam em diversas universidades e escolas de negócio, o desafio para consolidar a relação entre a organização e os ex-alunos é constante.
No último fim de semana, um grupo de formados na escola de administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) lançou mais uma comunidade com esse objetivo. A ideia surgiu após sugestão de um professor durante um evento que reuniu estudantes formados no curso e turmas de graduação. Após um ano e meio de conversas, pelo menos 20 ex-alunos participaram da organização do grupo, oficialmente uma seção da associação de ex-alunos da UFRGS.
O objetivo é reunir formados tanto nos cursos de graduação quanto de pós. Para um dos organizadores, Rafael Oliveira, formado em 2009 e hoje profissional do mercado financeiro, a ideia é replicar modelos de escolas estrangeiras, onde esse tipo de associação fomenta o networking e gera oportunidades de negócios. “Não queremos apenas o rótulo de ex-aluno, e sim criar uma relação próxima com a universidade após a formatura”, diz.
Os três pilares da associação, segundo Pedro Schuch Mallmann, outro organizador também formado em 2009, são a retribuição à escola, já em prática por meio de programas de mentoring com alunos da graduação, o desenvolvimento continuado dos formados e o networking entre alunos e alumni. Eles esperam promover ao menos dois eventos anuais para associados para dar continuidade a esses objetivos. Desde o início da organização, cerca de 50 ex-alunos já se associaram por meio do pagamento de uma anuidade. Uma das atividades que a comunidade já está promovendo é uma pesquisa, feita com ajuda da escola, sobre o perfil dos que se formam no curso.
Como a UFRGS é uma instituição pública, as formas de operar a associação não devem se assemelhar tanto com a de universidades estrangeiras, onde as comunidades de alumni são veículos para promover a escola entre potenciais alunos e representam doadores generosos à organização. A ideia de criar um fundo de doações, por exemplo, está adormecida. No entanto, para Oliveira, há a expectativa de que a comunidade de alumni seja uma “ferramenta” para valorizar o curso de administração da federal, contribuindo para que ele melhore sua posição em rankings e atraia estudantes que possam estar em dúvida entre o que escolher na hora do vestibular. “Queremos que os alunos saibam que no curso de administração existe uma rede de contatos forte com a qual eles podem contar após a formatura.”
O desafio de estabelecer organizações como a da UFRGS no Brasil continua em diversas outras instituições de ensino. A comunidade de ex-alunos da escola de negócios particular Insper, por exemplo, foi criada há 25 anos, mas ainda pensa em novas formas de aumentar a aproximação com os profissionais formados em cursos de MBA, graduação e pós. A mudança mais recente ocorreu no ano passado, quando o Insper criou uma área para gerir especificamente o relacionamento com os alumni. Consolidou, assim, um trabalho que se espalhava por diferentes departamentos e acabava sendo mais forte apenas no núcleo de carreiras, voltado para a inserção dos ex-alunos no mercado de trabalho.
“Sinto que temos acertado mais ao atender as expectativas dos alumni”, diz a gerente de relacionamento institucional do Insper, Camila Du Plessis. O aumento na participação dos ex-alunos é perceptível, em especial no comparecimento a eventos e no maior número de doações para o fundo de bolsas, aberto desde 2008. Em 2011, por exemplo, o Insper recebeu cerca de 80 alumni em um evento da graduação, e o número saltou para 350 no ano seguinte. Já os doadores para o fundo de bolsas passaram de menos de 30 em 2010 para 130 em 2012.
Segundo Camila, o mais comum são doações mensais de R$ 50, mas, no ano passado, ex-alunos criaram o fundo de investimentos Perfin Educar, braço da Perfin Investimentos, para arrecadar recursos para as bolsas da instituição. Em 2013, o Insper já arrecadou R$ 261 mil com ex-alunos, a maioria fruto da iniciativa da Perfin – a título de comparação, o ano de 2012 fechou com R$ 50 mil em doações. Ainda assim, a comunidade de ex-alunos, que não cobra anuidade e oferece benefícios como desconto de 40% em novos cursos, considera a associação um investimento. “O retorno é excelente”, diz Camila. “Aumentou o senso de pertencimento das pessoas que passaram pela escola, o que faz com que os alumni atuem como ‘advogados’ do Insper”, diz. Dentre as atividades da associação estão programas de mentoring com os alunos de último ano da graduação e o apadrinhamento de bolsistas. Nos próximos anos, o Insper espera fortalecer o empreendedorismo e a inovação, formando uma rede de contatos para gerar negócios e parcerias. “Queremos que o ex-aluno se sinta parte do processo e saiba que têm valor a agregar para a escola”, diz Camila.
Outra instituição pública, o Coppead , parte da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), possui uma associação de ex-alunos há mais de uma década, e também promove mudanças para aproximar os alunos da escola – a única no Brasil com um MBA “full-time” classificado entre os melhores do mundo segundo o jornal “Financial Times”. Presidida pelo professor e ex-aluno Vicente Ferreira, a associação possui outros quatro alumni como diretores e oferece eventos mensais no Rio que costumam reunir cerca de 60 pessoas. Até o fim do ano, a associação pretende lançar uma plataforma de banco de dados para resolver um de seus principais problemas: a atualização do contato dos alunos que passaram pela escola. Dos dez mil ex-alunos, apenas dois mil estão cadastrados.
Segundo Ferreira, a plataforma vai registrar o contato e o currículo dos profissionais por meio do perfil do LinkedIn, além do tipo de colaboração que ele gostaria de oferecer para outros alunos como mentoring, promover contato com conhecidos ou apresentar possibilidades de negócios e carreira. Assim, a associação poderá fazer a ponte entre pessoas com interesses complementares e, segundo Ferreira, favorecer a empregabilidade entre os alunos. “A escola vive do sucesso dos seus ex-alunos”, diz o professor de finanças, da turma de mestrado de 1993.
A associação aumentou a parceria com empresas para deixar, a partir do ano que vem, de cobrar a anuidade dos associados, e já planeja eventos em outras cidades, como São Paulo. O professor reconhece, contudo, que a cultura de alumni ainda está se consolidando no Brasil, em especial no que diz respeito a doações, algo bastante raro no Coppead. “Temos ex-alunos que já doaram pra Harvard, mas nunca para cá. Não existe ainda essa tradição no país”, diz.
A gestora de recursos Vinci Partners vai patrocinar uma cátedra na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Aos moldes do que ocorre no exterior, a Vinci vai doar recursos para viabilizar a permanência de um professor de renome na instituição carioca, completando o salário que pode ser oferecido pela universidade. Os valores não são divulgados.
Leonardo Rezende, diretor do departamento de economia da PUC-Rio, afirma que a procura já começou. Não há área específica e as buscas se concentram em professores das áreas de macroeconomia e finanças. No momento, o desejo da universidade é trazer um profissional de fora do país. Porém, por meio da parceria com a Vinci, a universidade também poderá reter no Brasil algum talento que poderia, por falta de condições, optar por fazer pesquisas nos Estados Unidos ou Europa. “Esse professor estará totalmente integrado ao corpo da PUC-Rio. Ele vai participar dos cursos de graduação, pós, doutorado, orientará teses de alunos, fará pesquisas e produzirá artigos para a universidade”, afirma.
Desde 2007, a Vinci mantém uma parceria com a PUC-Rio, oferecendo bolsas para alunos de pós-graduação que tenham teses ligadas a finanças. A gestora patrocina dois estudantes por ano e a escolha é feita pela qualidade dos trabalhos, e não pela situação financeira do aluno.
De acordo com Alessandro Horta, sócio da Vinci, o projeto da cátedra também não é assistencialista, mas acadêmico. “Essa iniciativa é destinada a apoiar o professor, não o aluno. Isso não beneficia apenas uma ou duas pessoas, mas toda a universidade, uma vez esse professor poderá influenciar todo esse ambiente e trará a sua linha de pesquisa”, afirma. A escolha será feita pela PUC-Rio. “Nós não vamos interferir, apenas ajudar a mapear esse profissional e convencê-lo a passar uma temporada no Brasil.”
No momento, a cátedra Vinci está sendo provisoriamente ocupada por Márcio G. P. Garcia, PhD por Stanford e que neste ano participa como “visiting scholar” na Sloan, escola de negócios do MIT. A expectativa é que o titular da cadeira chegue no segundo semestre do ano que vem, acompanhando o calendário do Hemisfério Norte.
O desejo da Vinci, diz Horta, é que essa iniciativa tenha um efeito multiplicador, levando outras instituições a medidas semelhantes. Rezende, da PUC-Rio, também espera que o exemplo possa motivar outros doadores a patrocinar cátedras em outras universidades. “Queremos estimular a cultura de as pessoas terem a preocupação de fomentar a pesquisa sobre a realidade brasileira”, afirma. Não há prazo fixo para que esse professor fique na cátedra. Tudo dependerá de como será feita a negociação.
Fonte: Valor Econômico – SP
Data: 24/10/2013