03/02/2022
Rodrigo Tognini, que fez Administração no Insper, comanda hoje a startup de finanças Conta Simples, uma plataforma que movimentou mais de 4 bilhões de reais em 2021
Antes de enveredar pelo empreendedorismo, Rodrigo Tognini, 26 anos, CEO da fintech Conta Simples, pensou em seguir carreira como jogador profissional de basquete. E chegou a trilhar uma trajetória de sucesso como atleta. Nascido em Campo Grande (MS), ele se mudou aos 4 anos com a família para Rio Claro, no interior paulista, onde começou a praticar bola ao cesto na adolescência. Jogou pelos times da categoria de base de Rio Claro, participou da seleção brasileira sub-15 e sub-16 e foi campeão brasileiro pela seleção paulista. Aos 18 anos, ganhou uma bolsa de estudos e foi jogar basquete na liga universitária dos Estados Unidos, pela Grand View University, no estado de Iowa.
Foi lá, longe da família e dos amigos, que Tognini decidiu dar uma guinada em sua carreira. “Eu morava sozinho em um dormitório e tinha muito tempo para pensar. Comecei a ver que ser jogador de basquete não correspondia exatamente às minhas expectativas e ambições”, diz Tognini. Foi nessa época que ele começou a se interessar por conhecer a trajetória de alguns empreendedores de sucesso. “Eu me identificava com as histórias que lia e pensava comigo: eu também quero construir algo assim.”
Depois de passar um ano nos Estados Unidos, Tognini voltou ao Brasil e começou a fazer a graduação em Administração no Insper. Ele diz que o curso foi importante para lhe fornecer uma boa formação teórica e prática. “Eu tive um conhecimento muito rico em temas como contabilidade, finanças, gestão de processos e gestão de pessoas, que me deram uma boa base para ter um pensamento crítico e me ajudar no planejamento estratégico”, diz Tognini. “Levo com muita gratidão essa minha experiência no Insper. Com certeza, os conceitos que aprendi lá estão sendo cobrados no meu dia a dia.”
Tognini diz que sempre teve a preocupação de não se limitar ao que era ensinado em sala de aula. “Desde o primeiro semestre na faculdade, busquei me envolver muito não só com as atividade na aula, mas também fora dela, ampliando o networking”, conta. No Insper, Tognini ajudou a criar a Liga de Empreendedores, uma entidade estudantil na qual pôde conviver e trocar experiências com outros alunos que, assim como ele, tinham interesse em tomar riscos e abrir um negócio. Nessa época, Tognini e outros alunos tiveram acesso a mentoria de grandes empresários, como Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira (AB InBev), Luiza Trajano (Magazine Luiza) e Abilio Diniz (hoje na BRF e no Carrefour).
Alguns estudantes que participavam da Liga nesse período são hoje empreendedores de sucesso, como Fábio Blanco e Bruna Vaz (do site de compras Shopper), Alexandre Maluli (da startup de gestão de RH Zazos) e Thiago Achatz (da fintech Z1).
Tognini estudou no Insper entre 2014 e 2018. Quando estava no último ano da faculdade, ele começou a montar uma fintech, mas o negócio não prosperou. “Foi a minha primeira experiência como empreendedor e não deu muito certo por causa de algumas divergências de visão com a empresa que era nossa parceira, mas dali surgiu a ideia de montar a Conta Simples”, diz Tognini. A Conta Simples começou a ganhar forma em 2019, quando Tognini se juntou aos seus sócios, Fernando Santos (apresentado por um amigo em comum com quem jogou basquete no Insper) e Ricardo Gottschalk (que conheceu quando trabalhou na fintech de pagamentos Stone, entre 2014 e 2015).
A Conta Simples, como diz o nome, é uma fintech que nasceu com o objetivo de simplificar a vida financeira de empresas, reduzindo a burocracia que as PMEs enfrentam para abrir uma conta em um banco. Ela oferece uma conta digital para pessoa jurídica, com cartões pré-pagos dentro de uma plataforma de gestão de despesas. Nessa plataforma, é possível realizar pagamentos, transferências, enviar e receber TEDs, receber e pagar boletos e gerenciar múltiplos cartões corporativos.
E qual a diferença entre a Conta Simples e os serviços oferecidos pelos bancos tradicionais? Tognini gosta de fazer uma analogia com o Nubank. “O que o Nubank faz para a pessoa física, podemos dizer que fazemos para a pessoa jurídica. Oferecemos uma solução totalmente digital, com abertura de conta pelo aplicativo e pelo site, não cobramos tarifa ou taxa de manutenção da conta, o atendimento é pelo WhatsApp. Em resumo, trouxemos uma experiência de banco totalmente simplificada”, diz Tognini.
A Conta Simples surgiu para atender, sobretudo, empresas nativas digitais, como startups, empresas de tecnologia, e-commerce e empreendedores digitais — segmentos que, segundo Tognini, são atendidos pelos bancos tradicionais com produtos engessados. “Hoje temos na nossa base de clientes mais de 40 mil empresas, um número que vem crescendo em torno de 10% a 15% a cada mês. Até o fim do ano, projetamos chegar a mais de 100 mil clientes.”
O rápido crescimento da Conta Simples vem atraindo investidores de venture capital. A fintech foi selecionada para o programa 2020 da Y Combinator, maior aceleradora do mundo, com sede no Vale do Silício. Em dezembro de 2021, levantou 121 milhões de reais em uma rodada de investimentos coliderada pela JAM Fund, a gestora de venture capital do cofundador do Tinder, Justin Mateen, e pela Valor Capital. No início de 2022, captou mais 15 milhões de reais. Segundo Tognini, a ideia é usar os recursos principalmente em ações de marketing, no aumento do time de profissionais e no lançamento de produtos de crédito, o que será possível assim que a fintech receber a licença do Banco Central para atuar como uma SDC (sociedade direta de crédito).
Em 2021, a Conta Simples movimentou mais de 4,3 bilhões de reais em sua plataforma, seis vezes mais do que no ano anterior. A expectativa neste ano é superar a marca de 12 bilhões de reais em transações. É um valor relevante, mas, para Tognini, o céu é o limite. “Atuamos num mercado com potencial para termos milhões de clientes, num setor que movimenta trilhões de reais por ano. Há muito espaço para crescer.”
Para alçar voos maiores, o empreendedor diz que carrega lições valiosas que aprendeu na época em que era atleta. Com 1,80 metro de altura, Tognini é considerado baixo para um jogador de basquete. Ele procurava compensar a limitação física treinando e se dedicando mais do que outros jogadores. “O esporte me ensinou valores como a importância da disciplina, da resiliência e do trabalho em equipe.” E também que não há recompensa sem esforço árduo. “Não dá para ganhar um campeonato sem ralar bastante”, afirma.