08/06/2022
Tatiana Pimenta fez o MBA Executivo durante um período pessoal conturbado, mas saiu do curso com o desenho de uma startup cuja receita cresceu 12 vezes nos últimos dois anos
Tiago Cordeiro
Engenheira civil de formação, com carreira sólida no mundo corporativo, Tatiana Pimenta nasceu há 40 anos em Corumbá, Mato Grosso do Sul. Assumiu a primeira posição de liderança com 24 anos. “Trabalhei em quatro multinacionais de culturas bem diferentes, brasileira, portuguesa, chilena e suíça”, diz. “Morei em cinco estados do nosso país e estive exposta a tradições e pensamentos distintos dos meus.”
Quando decidiu fazer o MBA Executivo do Insper, em 2012, tinha acabado de entrar na casa dos 30 anos, ocupava uma posição de gerente sênior e almejava avançar para uma cadeira de diretoria. “Tinha o sonho de ser a líder número 1 de uma grande corporação. Durante anos segui um playbook de muita dedicação e entrega de resultados acima do esperado.”
Ela fez a lição de casa antes de escolher a instituição. “Fiz algumas pesquisas, conversei com colegas e líderes e cheguei à conclusão de que o MBA do Insper poderia agregar não apenas conteúdo de qualidade e conhecimento, mas especialmente um networking forte, com pessoas experientes e que já ocupavam posições que eu almejava.”
Tatiana alcançou objetivo. “Não apenas aprendi muito, como fiz amigos para a vida toda. Tenho orgulho de dizer que faço parte de um grupo de pessoas que me inspiram todos os dias e com as quais, ainda hoje, troco e aprendo. Esse ativo é inestimável”, afirma.
Mais do que isso: o curso de dois anos foi decisivo para ela implementar uma vasta mudança de direção em sua carreira. “O Insper contribuiu para abrir minha cabeça e me fazer refletir sobre várias escolhas de carreira e vida. Durante o curso troquei de emprego, que, por sinal, foi minha última experiência com vínculo em CLT antes de empreender.” Como resultado, surgiria, em maio de 2016, a Vittude, uma startup dedicada à saúde mental.
Durante o MBA, os professores a incentivaram a sair da zona de conforto. “Uma das disciplinas que curti fazer foi a de empreendedorismo, com o professor Marcelo Nakagawa. Naquela época ainda não falávamos de startups e de empresas de alto crescimento, e eu me recordo de ter apresentado um trabalho para montar uma ‘loja de pudins’. Lembro até de fazer diversos testes na cozinha da minha casa e levar amostras para os colegas experimentarem”, conta.
Desenhar um plano de negócios e pensar a construção de uma empresa foi interessante e estimulante, diz Tatiana, “mas nada comparado a tomar a decisão de abandonar uma carreira executiva para arriscar todo o patrimônio pessoal em um negócio de alto risco”.
Acontece que, ainda em 2012, logo no início do MBA, ela teve depressão. Por mais que procurasse na lista de profissionais disponibilizada pelo plano de saúde, não encontrou um psicólogo com seu perfil e perto de sua casa. “Só consegui começar um processo de terapia depois de receber indicações de amigos. Nesse momento, deparei com outro desafio: me deslocar pela cidade de São Paulo para fazer terapia. Cheguei a levar mais de 2 horas entre ida e volta do consultório.”
Em 2015, com o curso no Insper já concluído, ela acompanhou o tratamento de câncer de seu pai. E foi desligada de sua empresa na mesma época. Foi quando decidiu dar o salto na direção do empreendedorismo. A segunda pessoa que ela procurou, logo depois do cofundador Everton Höpner, foi o professor Marcelo Nakagawa. “Lembro-me de ter enviado um e-mail a ele, convidando para um café, em novembro de 2015. Despejei um amontoado de ideias desordenadas em cima do Marcelo. Minha ideia original era criar um app que pudesse fazer com que as pessoas tivessem o médico na palma das suas mãos.”
Em resposta, diz ela, o professor fez uma série de perguntas e provocações. Na sequência, colocou Tatiana em contato com alunos que já tinham tentado fundar startups. “Nas semanas seguintes, fiz uma série de reuniões com as pessoas indicadas pelo Marcelo”, diz.
A proposta da startup foi muito bem recebida. “A Vittude nasceu com a missão de quebrar estigmas e democratizar o acesso a serviços de saúde mental. Somos a empresa parceira de saúde mental de cerca de 200 clientes corporativos de vários tamanhos e segmentos, como Grupo Boticário, Banco do Brasil, Olist, SAP, Telhanorte, Tumelero e L’Oreal, somando mais de 600 mil vidas impactadas”, diz a empreendedora.
O nome da startup vem das palavras VITal e saUDE. “Buscamos criar uma solução que fosse vital para a saúde de qualquer ser humano”, afirma. Ao longo dos últimos dois anos, a receita da empresa cresceu 12 vezes (Tatiana não revela o valor), ao mesmo tempo que a iniciativa recebeu mais de 40 milhões de reais em investimentos dos fundos Crescera Capital, Redpoint eVentures, Endeavor Scale Up Ventures e Superjobs.vc.
Para o futuro, segundo Tatiana, a meta é liderar o mercado no continente. “Já somos referência quando pessoas e empresas pensam em soluções de saúde mental. Estamos atuando em um problema global, que afeta diretamente a economia”, diz. “Acredito que o futuro reserva muitas oportunidades para esse ecossistema, que ainda é nascente, e também para a Vittude.”
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