O desempenho da economia mundial e seus efeitos no Brasil é um dos ternas do momento. Gustavo Patu, na reportagem “Estagflação assombra países emergentes”, mostra que a combinação de inflação alta e crescimento baixo não é nosso privilégio.
O secretário de Política Econômica, Márcio Holland, abre uma entrevista em “0 Estado de S. Paulo” afirmando: “Muitos analistas simplesmente abstraem a conjuntura internacional”. Em português: para o governo, o desempenho econômico medíocre no governo Dilma é culpa do cenário externo ruim.
Concordamos com o secretário: é errado “abstrair a conjuntura internacional”.
Mas pau que bate em Chico bate em Francisco. O cenário externo favorável causou o bom desempenho nos anos Lula? Ou será que a economia mundial começou a nos afetar somente a partir de outubro de 2008?
Feita adequadamente, a comparação externa é útil. Estamos todos mal. Mas será que, comparado com os pares, o Brasil vai bem?
Escolher os pares é sempre difícil. Como Patu, elegemos os emergentes, conforme a definição do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Em Paridade de Poder de Compra, o Brasil terá crescido 2,8% ao ano (a.a.) durante o governo Dilma, confirmada a projeção do FMI para 2014. Entre os emergentes, o crescimento mediano terá sido 4,6% a.a. nesse período.
O Brasil foi o penúltimo entre 21 países, superando a Venezuela. E por pouco: o berço bolivariano terá crescido 2,7% a.a. Só outros 4 países cresceram menos que 4% a.a.
A anemia foi produto de um ajuste anti-inflacionário? 0 atual BC não é exatamente campeão dos falcões, mas a derrota em crescimento pode ter sido vitória em inflação. No Brasil, a inflação média terá sido 6,04% a.a. Entre os emergentes, 3,62%. Ficamos na frustrante 19 posição.
E comparando com a América Latina? Excluindo as ilhas da fantasia, temos 20 países. Novamente, o desempenho brasileiro no período foi medíocre: 15 em crescimento e 14 em inflação. Teríamos sido, através do comércio, particularmente prejudicados pela desaceleração mundial? Entre os emergentes, o Brasil é o país mais fechado ao comércio externo. Não sofreria tanto por esse canal. A via financeira? Pelo contrário: a liquidez no mercado externo esteve alta para todos, com taxas de juros baixissimas para padrões históricos. Talvez o cenário externo tenha atrapalhado. Os dados sugerem que fomos mal por conta própria.
Vinicius Carrasco é professor do departamento de economia da PUC-Rio. João Manoel Pinho de Mello é professor do departamento de economia do Insper.
Fonte: Folha de S. Paulo – 28/08/2014