07/01/2016
Para analistas, próximo ano deve ser tão ruim quanto 2015: recuperação depende do setor privado enxergar uma luz no fim do túnel
Tradicionalmente, em anos mornos ou ruins, o País costuma reagir nos últimos meses até o Natal. Porém, à medida que se aproximou dezembro, um pessimismo contaminante deteriorou as previsões dos economistas. No momento, a aposta geral é de que a economia vai recuar quase 3% em 2016, após cair 3,7% em 2015.
Sempre às segundas-feiras o Banco Central divulga o boletim Focus, com previsões de mais de 100 instituições financeiras. São apostas para a taxa Selic, câmbio, inflação e PIB. Elas estão no vermelho, com recuo da economia de quase 3% em 2016 após cair mais de 3% em 2015.
“As incertezas políticas e econômicas do cenário doméstico estão entrelaçadas e devem continuar. Esperamos uma nova queda do PIB e que o desemprego continue a subir no próximo ano”, afirma o desanimador relatório do Itaú Unibanco para 2016.
O marco da turbulência política foi a vitória, no começo do ano, de Cunha para a presidência da Câmara, que expôs o esfacelamento da base do governo. Além disso, a Operação Lava Jato cercou o Palácio do Planalto. Sem autoridade, a petista não conseguiu implantar um ajuste fiscal.
Tudo isso minou a confiança no governo. Consumidores e empresas adiaram seus planos de investimentos e cortaram seus gastos. A economia, que patinava, afundou de vez.
No mês passado, logo após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acatar o processo de impedimento contra a presidente Dilma Rousseff, o mercado financeiro gostou – reagiu com altas da bolsa e das ações da Petrobras e queda do dólar.
Porém, o Supremo Tribunal Federal decidiu que o processo terá o crivo do Senado, mais favorável ao Palácio do Planalto. Simultaneamente, o Ministério da Fazenda passou para o comando de Nelson Barbosa, indicando que Dilma voltará a ditar os rumos da economia. Mas fica a dúvida para 2016 – agradando ou não o setor privado, a petista começará enfim a governar o País?
DESGOVERNO
Apesar da torcida do mercado contra a presidente, o sinal que a economia precisa para tomar um rumo é de que haverá um governo decidindo. E não uma nau à deriva.
Fica, portanto, a expectativa de que em 2016 haverá a substituição da incerteza pela governabilidade. “Não há ambiente para negócios. Parou tudo”, afirma o diretor regional do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Ricardo Beschizza. “Se tiver ambiente de negócios, a economia vai retomando aos poucos”.
A crise política é tão profunda e interminável que impõe o pessimismo. Mas para 2016 há um diferencial. O processo de impeachment terá um fim, com um novo governo ou, em caso de vitória de Dilma, a presidente terá que formar uma nova base de sustentação. Isso será imprescindível.
Há ainda o fator surpresa, que é a Lava Jato, caçando medalhões da política. O alcance dessas investigações definirá a sobrevivência ou não do governo e de sua base em 2016. Toda essa incerteza é mortal para a economia. Por exemplo, os economistas do Santander cravam -2% para o PlB de 2016, além de um IPCA de 7% e um desemprego de 8,9%.
O professor de Finanças do Insper, Ricardo Humberto Rocha, acha que o PIB vai recuar 3% no ano que vem. Já a inflação pode chegar aos 10%, mesmo patamar de 2015, e a taxa Selic a 15% (agora a 14,25%). A pesquisa Focus prevê 14,75%.
Rocha aposta em um dólar entre R$ 3,80 a R$ 4,20 em 2016 (no momento, por volta de R$ 4,00). “O real já ficou mais competitivo. Se tiver uma solução com Dilma, o fluxo de investimentos retornará”.
Apesar de não haver boas notícias para a economia em 2016, Rocha diz que a sociedade deve dar um desfecho político para a crise de Brasilia.
INDÚSTRIA ABALADA
Há um pessimismo acentuado na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Flesp). “Este ano a indústria de transformação vai ter queda de 9,5% e a indústria em geral, de 5,5%. Para o ano que vem deve cair 6%. Só que 6% sobre uma queda de 9,5% é muita coisa”, afirma o presidente Paulo Skaf. A entidade prevê recuo do PIB nacional de 2% em 2016, após cair 3,5% em 2015.
Exemplo do baque da crise na indústria é a decisão da Usiminas de desativar a produção de aço bruto em Cubatão, com demissões e impacto profundo nos prestadores de serviços locais. A CSN, siderúrgica de Volta Redonda (RJ), vai cortar 3 mil trabalhadores.
Beschizza, do Sinduscon, diz que uma crise causa primeiro a redução da produção. Se a economia caminha para o pior, sem caixa não se paga impostos. O próximo passo é demitir. A última alternativa é o calote.
Os bancos restringiram o crédito para toda a economia. Os juros estão altos e a exigência de garantias do tomador de empréstimo aumentaram.
Entretanto, a confusão política não é a única explicação para a crise na economia, que já se configurava em 2014. No ano da eleição houve muito gasto público e manobras para segurar o reajuste da luz e dos combustíveis. Passada a eleição, chegava a hora de recompor os preços públicos. Ao reajustar gasolina e luz,o governo fez subir os custos da iniciativa privada, que em consequência disso remarcaram seus preços.
Isso espalhou a inflação por todos os setores e anulou o impacto da política de juros altos do Banco Central. O BC eleva a Selic para conter o consumo, forçando a queda geral dos preços. Mas todo mês as tarifas públicas sobem e empurram os preços privados para cima.
Fonte: A Tribuna (Santos) – 27/12/2015