Nos últimos anos, temos visto cada vez mais programas na televisão, rádio e nos meios digitais que utilizam o humor para discutir as notícias do dia a dia. O formato pretende aproximar o leitor dos acontecimentos, principalmente os políticos e econômicos, utilizando a crítica, o debate e a ironia como forma de tornarem os conteúdos mais leves. Mas é importante estar atento para que a integração de notícia e humor não extrapole o limite da liberdade de expressão. Esse foi o tema de debate do evento Humor e Censura no Jornalismo.
Promovido pelo Programa Avançado em Comunicação e Jornalismo do Insper, o encontro contou com a presença dos especialistas da escola Carlos Eduardo Lins da Silva, do Núcleo de Jornalismo, Rafael Bellem, do Núcleo de Direitos e Liberdades, do Centro de Regulação e Democracia, e mediação de Diego Werneck Arguelhes. Também participaram do debate Clarissa Gross, coordenadora da Plataforma de Liberdade de Expressão e Democracia (PLED), e Flavia Boggio, colunista da Folha de S.Paulo e roteirista do Núcleo de Humor da Rede Globo.
“O humor faz com que as pessoas tenham maior interesse para assuntos jornalísticos e políticos, mas enquanto o Jornalismo está em busca do bom senso, o humorista busca o nonsense”, defende Lins da Silva. “Apesar de aparentemente serem visões opostas, o atrito gerado entre elas possibilita o exercício da dúvida e do olhar crítico”, acredita Lins da Silva.
Ainda que o formato jornalismo-humor desperte a curiosidade e o interesse do público, os especialistas alertam para a necessidade de um olhar cuidadoso para que não se ultrapasse o limite entre o humor e o compromisso com a verdade. “Existem formas de unir os dois temas sem descaracterizar a notícia, nem perder a graça da piada”, destaca Boggio, roteirista da Rede Globo e colunista da Folha de S.Paulo.
“Após acompanhar alguns processos jurídicos relacionados ao tema, entendo que a piada precisa ser cirúrgica, com um humor inteligente, que passe o recado, mas não ofenda diretamente ninguém.”
Gross, coordenadora da PLED, concorda e destaca ainda a importância de uma visão mais abrangente sobre o tema para o seu correto entendimento. “O que define se um discurso é ofensivo não é gargalhada ou a ofensa que ele provoca, a questão não é de grau, o problema está no contexto do discurso”, explica.
Ao analisar a questão sob o ponto de vista jurídico, Bellem alerta também que a liberdade de expressão não pode ser um aval para que as pessoas falem o que pensem sem avaliar seu impacto social. “Será mesmo que todo humor deve ser livre, mesmo quando fere direitos e a Constituição?”, questiona o professor do Núcleo de Direitos e Liberdades do Centro de Regulação e Democracia do Insper. “A jurisprudência é pouco clara e seletiva. Devemos defender o direito de opinião e a liberdade de expressão, mas é preciso uma avaliação correta para que não se cometam exageros tanto pela total proteção, como pela falta dela”, avalia.
Para Bellem, a solução não são mais regras que limitem a liberdade de expressão, mas sim uma discussão das medidas que devem ser tomadas quando o limite é extrapolado. “A proteção total também oferece riscos. O que precisa ser discutido é sobre as penalidades para os excessos.”
Carlos Eduardo Lins da Silva também chama atenção para os perigos da censura. “O humor é importante para o Jornalismo e não deve ser censurado. Talvez exista um limite para a piada, mas não se deve calar a voz de alguém. Isso é liberdade de expressão, mesmo que o que se fale tenha um preço”, defende o professor do Núcleo de Jornalismo do Insper.
Confira o evento na íntegra: