31/07/2020
Taiza Roso, alumna Insper, analisa a relevância das questões ambientais, sociais e de governança, fala sobre sua trajetória profissional e acadêmica e analisa a participação feminina no mercado financeiro
Em artigo publicado no dia 17 de julho na Isto É Dinheiro, nossa alumna de Administração, Taiza Roso, Operating Partner na X8 Investimentos – Gestora de Private Equity focada em Impacto e ESG, aborda a importância das empresas levarem em consideração questões relativas a ESG (Environmental (meio ambiente), Social (questões sociais) and Governance (Governança)) e ao investimento responsável.
“Estudos da Bloomberg e da Bain & Company demonstram que empresas que seguem práticas e políticas de ESG aplicadas ao dia a dia da gestão criam maior valor de mercado em relação aos seus pares que não têm ou estão atrasados nessa implementação”, ressalta Taiza em seu artigo.
Para entendermos mais sobre a relevância desse tema, entrevistamos Taiza, que também fala sobre sua trajetória profissional, experiência no Insper e participação feminina no mercado financeiro. Confira:
1) Recentemente, você abordou a questão do ESG e investimento responsável no mercado financeiro em artigo na Isto é Dinheiro. Como você vê a importância desses temas, ainda mais neste período de pandemia?
Tratar de temas sobre meio ambiente, questões sociais e de governança corporativa é fundamental para qualquer profissional. No Brasil, estamos sofrendo com a falta de boas práticas no mercado há muito tempo. Para citar exemplos negativos mais recentes de cada esfera do ESG, podemos falar da devastação da Amazônia, que há décadas é pauta das atividades do Governo e, até o momento, não temos um plano de ação realista; problemas estruturais de desigualdade social evidenciados pela Covid-19, que deixou ainda mais às claras toda a falta de investimento em saúde e a discrepância de acesso entre pobres e ricos; e, por último, vimos muita corrupção nos tantos processos da Lava Jato e inúmeros outros que lemos todos os dias nos jornais. A história de nosso país está marcada por inúmeras falhas e até desleixo de boas práticas.
O que vejo é que precisamos encarar de frente todos esses problemas, ou deixaremos um futuro desastroso para as próximas gerações. Falar de ESG e de Investimento Responsável e, principalmente, praticar ESG e praticar Investimento Responsável é fundamental para que possamos, enquanto país, nos desenvolver e voltar a crescer e, enquanto cidadãos, sabermos que nosso consumo de agora não deve ser em detrimento da qualidade de vida das próximas gerações.
O chamado é urgente, é para agora e abre portas de muitas oportunidades para a esfera privada realizar seus investimentos de forma responsável, preenchendo os gaps estruturais que foram deixados por gerações de governos e de empresários que não priorizaram esses temas.
2) Compartilhe conosco um pouco sobre a sua trajetória profissional. Quais os principais desafios enfrentados por você até este momento?
Sou formada em Administração de Empresas pelo Insper em 2012, fiz intercâmbio pelo Insper para a Itália, Pós-graduação na FIA e curso de especialização na FGV Direito em São Paulo.
Um pouco antes de me formar, participei do programa REP do Insper, cujo trabalho foi feito na empresa AMBEV. Logo depois, ingressei no mercado financeiro como estagiária, passei por analista e virei associate na gestora de Private Equity, BR Opportunities.
Um dos primeiros e principais desafios que tive foi o de ser Head da área financeira da empresa Mãe Terra (investida pelo fundo gerido pela BR Opportunities), com 23 anos. Apesar de eu ter um perfil bastante empreendedor e mão na massa, não foi nada fácil liderar um time mais sênior, cheia de responsabilidades, em uma empresa que crescia exponencialmente. Eu brinco que eu tinha que comer bolo e tocar flauta ao mesmo tempo. Após diversas experiências que me ajudaram no meu crescimento profissional, alguns anos depois, me deparei com a venda da Mãe Terra para a Unilever.
O desafio encontrado nesse período foi o de liderar uma operação sigilosa, com pouquíssima ou quase nenhuma equipe envolvida em um tempo muito curto – três meses. Mas o resultado da venda foi um sucesso. Na sequência, a Unilever me convidou para fazer parte do time e liderar o plano de integração das empresas pós-fusão. Nessa época, já 2017, o principal desafio foi o de integrar as operações da Mãe Terra em um período curto e com muita pressão para entrega de resultados.
O último e atual desafio é o de ter voltado para o mercado financeiro, agora com a BR Opportunities sendo X8 Investimentos, e levantarmos um novo fundo voltado 100% para Investimento de Impacto.
Apesar de todos os momentos difíceis e desafiadores, sem dúvidas, todos foram muito recompensadores para a minha evolução. Ter encontrado chefes, mentores e pessoas do bem em todos os lugares que passei foi fundamental para encarar todos esses momentos de cabeça erguida.
O que deixo de reflexão é que mesmo com os desafios encontrados, devemos sempre acreditar em nossa capacidade e seguir em frente.
3) Como você vê a participação feminina no mercado financeiro, ambiente majoritariamente masculino?
De fato, a participação feminina é baixa no mercado financeiro e está por volta de 20% a 30% de participação, dependendo da área. O que vejo é que, como em qualquer setor da economia, a diversidade e inclusão são fundamentais para aumentar a criatividade, inovação e engajamento, trazendo, ao final, mais resultados para todos.
Tenho visto muitas empresas, bancos e gestoras se comprometendo com a meta de equidade de gênero, mas para chegarmos lá precisamos que haja um verdadeiro walk the talk, criando uma cultura de engajamento feminino, da seleção de talentos ao desenvolvimento da profissional. Fundamental, também, continuará sendo a participação de entidades como o Insper na educação e apoio dessas profissionais.
E só um lembrete para as mulheres: a gente pode ser o que a gente quiser!
4) Como você analisa a sua experiência no Insper e como ela colaborou para a sua vida profissional?
O Insper foi fundamental para o meu amadurecimento e evolução profissional.
Primeiro, porque meu deu uma base muito sólida de conhecimento técnico e de aprendizado sobre trabalho em equipe.
Segundo, porque tive a oportunidade de conhecer vários universos por meio das experiências que o Insper me proporcionou. Entre elas, destaco: intercâmbio para a Bocconi, na Itália, participar de entidades estudantis como o Grupo de Apoio Social (GAS), participar de diversas competições como o Empreenda e, depois, como Alumni, ter sido membro do Comitê Alumni, apadrinhar aluno bolsista e ser doadora para o Fundo de Bolsas. Tudo isso, sem dúvidas, me faz ver a importância de uma escola focada no aluno e em seu desenvolvimento.
Por fim, pessoas. Fiz amizades incríveis que duram por mais de 10 anos, além de ter conhecido e aprendido com professores maravilhosos que são meus mentores até hoje, como, por exemplo, Tadeu da Ponte, Marcelo Nakagawa e Andrea Minardi.
5) Quais dicas você deixa para quem tem interesse em ingressar no mercado financeiro e de investimentos?
Assim como em muitas outras áreas, o mercado financeiro e de investimentos não é diferente: precisa de trabalho duro, aprendizado e dedicação.
A maior dica que posso dar, então, é: dedique-se. Busque continuamente por conhecimento, seja curioso e ágil. Escolha sua atividade profissional baseado em dois elementos:
Esses dois elementos andando juntos, mais a vontade de aprender e de se dedicar, com certeza são a chave para o sucesso profissional.