30/04/2014
Tesouro Direto exige dedicação e disciplina
É necessário conhecer as características de cada papel para fazer escolha de acordo com objetivos e prazo
Os títulos públicos vendidos pela internet também são uma alternativa para o planejamento da aposentadoria por conta própria.
O risco do chamado Tesouro Direto é considerado baixo – basicamente, o de o governo, que emite os papéis, dar calote.
A opção, porém, exige dedicação do investidor para acompanhar a movimentação da economia e do mercado para tomar decisões de comprar e vender os papéis no momento certo.
Além disso, é preciso ter disciplina para alcançar as metas, afirmam consultores.
“O investidor precisa encarar a aplicação como uma dívida que tem de ser paga todo mês, como uma obrigação”, diz Alexandre Chaia, professor de finanças do Insper, instituto de pesquisa e ensino. “Se a pessoa não tem por hábito fazer poupança, o investimento por conta própria não funciona.”
Também é preciso conhecer as características de cada título público e escolher o melhor de acordo com o objetivo e o prazo determinados.
Há dois tipos principais de títulos: prefixados e pós-fixados. No primeiro caso, o investidor sabe quanto vai receber se ficar com o título até vencimento.
Se optar por vender o papel antes do prazo, corre o risco de receber menos, pois o preço de revenda do título é atualizado pela chamada “marcação de mercado”, que corrige o valor diariamente pela diferença entre a taxa de juro daquele momento e a do momento da emissão do papel. No segundo caso, de títulos pós-fixados, o rendimento varia conforme algum indexador, como a Selic.
PRAZO
Os papéis prefixados e os pós-fixados atrelados à Selic têm vencimento mais curto que os que pagam juros mais inflação. Mas, no vencimento, o investidor pode comprar um novo título e reaplicar o rendimento em um papel com as mesmas características.
O papel mais indicado hoje a quem quer usar o Tesouro Direto para fins de aposentadoria são as LFT (Letras Financeiras do Tesouro), por acompanhar a Selic.
Os títulos prefixados, por outro lado, são os menos recomendados, em razão das incertezas econômicas atuais.
“Corre-se o risco do avanço da Selic e da inflação, o que reduz a rentabilidade desse tipo de título em caso de venda antes do prazo. Não se sabe como a economia vai se comportar daqui a cinco ou seis anos”, afirma Roberto lndech, responsável pela área de estratégias da Rico.com.vc, plataforma de investimento da corretora Octo.
Para ele, os papéis pós-fixados indexados à inflação são boa opção para a aposentadoria. “0 governo paga um prêmio ao investidor e mais a inflação do período. Isso garante ganho real – acima da inflação “, diz.
Entre as duas opções disponíveis, as NTN-B (Notas do Tesouro Nacional Série B) podem ser as mais complicadas de gerenciar, pois o rendimento é pago semestralmente até o prazo de vencimento do papel. “Pessoas mais disciplinadas podem reinvestir esse valor, mas o mais aconselhado é recorrer às NTN-B Principal, para não correr o risco de pegar o dinheiro e usar”, afirma.
Já Chaia, do Insper, considera a aposta arriscada. “Os vencimentos são muito longos [as NTN-B Principal com menor prazo vencem em 20191. 0 investidor pode perder a oportunidade de investir em uma aplicação que renda mais no período em que carrega o título.”
ANÁLISE
Você tem um plano de previdência ou um para a previdência?
MICHAEL VIRIATO ESPECIAL PARA A FOLHA
Se você acha que as duas alternativas possuem o mesmo significado, então, provavelmente, tem apenas um plano de previdência.
A previdência privada ou complementar é uma modalidade de seguro contratado, em geral sob a forma de contribuições periódicas, para garantir uma renda futura ao beneficiário. Embora mais importante que o seguro de automóvel, muitos despendem anualmente mais tempo com o seguro do carro que com o seguro que representa sua previdência complementar.
Na construção do plano para a aposentadoria, deve-se atentar para fatores como renda desejada, tempo para se aposentar, alocação da carteira e reavaliação periódica.
O plano deve começar pelo seu objetivo. Assim, tudo tem início pela renda que deseja. Não planejar essa questão é equivalente a solicitar a um corretor um seguro de automóvel e não informar quais as características do carro.
Quanto maior a renda desejada, maior será a contribuição mensal a ser feita.
O tempo de contribuição, ou o tempo para formação do patrimônio para a aposentadoria, é um dos elementos mais relevantes do plano.
A regra mais simples e importante é: comece o quanto antes. Juros sobre juros transformam uma contribuição mensal de R$ 100 em R$ 242,1 mil em 30 anos se a taxa de rendimento for de 0,86% mensal (equivalente a 100% do CDI).
Se o período de contribuição for reduzido à metade, para ter o mesmo valor, deve-se ou correr mais risco nas aplicações, pois a rentabilidade terá de ser mais que o dobro da anterior, ou elevar a contribuição mensal para R$ 567.
Assim, quanto mais tempo de contribuição você tiver, menor será o esforço mensal na abdicação de consumo imediato e menor precisa ser o risco em suas aplicações.
Na alocação da carteira de investimento, o primeiro fator a considerar é a meta de vencer a inflação, mas também deve ser considerado o perfil de risco do investidor.
As melhores seguradoras possuem produtos que permitem uma diversificação entre as várias classes de ativos.
Quanto mais jovem o investidor, maior é a possibilidade de correr risco, pois terá mais tempo de corrigir erros na estratégia de investimento. Um investidor de 50 anos, por exemplo, deve ser mais conservador na alocação de seu portfólio, pois ainda precisa considerara possibilidade de interrupções na contribuição por eventual desemprego.
Além da capacidade de correr risco, que pode ser justificada pela idade e renda mensal, é necessário analisar o perfil. Um investidor conservador deve evitar produtos mais arriscados.
Entretanto, mesmo o investidor mais conservador deve ter em mente que o produto de previdência é um investimento de longo prazo e, portanto, deve ter uma parcela de risco ponderada de forma adequada ao seu perfil.
Durante todo o período de contribuição, o investidor periodicamente deve reavaliar seu plano para verificar se o seu objetivo continua o mesmo e se suas contribuições e rentabilidade permitirão que a meta seja alcançada.
Fonte: Folha de S. Paulo – SP – 28/04/2014